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Estudo da Mercer conclui: 80% das empresas não baixou nem vai baixar os salários

Uma em cada cinco empresas em Portugal admite que vai reduzir o número de trabalhadores.
10 Setembro 2020, 07h40

Cerca de 80% das empresas não implementou nem considera implementar reduções salariais em 2020, conclui um estudo da consultora Mercer.

“A edição de 2020 do estudo ‘Total Compensation’ da Mercer, a maior de sempre que conta com a participação de 466 empresas em Portugal, inclui um capítulo especial dedicado ao impacto da Covid-19 na compensação”, destaca um comunicado da consultora, acrescentando que, “de acordo com os dados apurados, a pandemia fez rever em alta a intenção de congelamento salarial no tecido empresarial português, para 17%”.

Segundo o mesmo documento, “a previsão para 2021 é de que haja um ligeiro abrandamento ao nível dos incrementos salariais, perspetivando-se o congelamento salarial em algumas das empresas inquiridas”.

“A par dos salários, também as contratações estão previstas de ficar congeladas em cerca de 39% das empresas, existindo ainda 13,5% que consideram diminuir o número de contratações”, avançam os responsáveis da Mercer.

Há ainda outras conclusões a destacar: perante o cenário de pandemia, 19% das organizações admite vir a diminuir o número de colaboradores em 2020; as saídas voluntárias situam-se agora nos 5,6%, contrapondo aos 10% registados em 2019; em 2020, os bónus/incentivos de curto prazo relativos a 2019 foram pagos pela quase totalidade das empresas (92%), sendo que, para este ano, 23% das empresas antecipa que o valor será inferior ao ano anterior.

Mais uma vez, o estudo da Mercer atingiu um recorde de participação – foram analisados 140.000 postos de trabalho em 466 empresas.

“De acordo com o estudo ‘Total Compensation Portugal 2020’, realizado pela Mercer, que analisou este ano 140.000 postos de trabalho em 466 empresas no mercado português, o impacto da Covid-19 alterou as tendências nas compensações previstas pelas empresas nacionais, como por exemplo os incrementos salariais. Se em 2019 apenas 3% das empresas nacionais consideravam o congelamento salarial, em 2020 este número subiu para 11% em abril/maio. No entanto, e de acordo com a ‘Special Edition do Total Compensation’ da Mercer, um capítulo especial desenvolvido com foco no Covid-19 em julho, a percentagem de empresas portuguesas que manifesta esta intenção evoluiu para 17%”, assinala o referido comunicado.

Segundo Tiago Borges, Career Business Leader da Mercer, “2020 trouxe-nos a todos o desafio da pandemia e, ao ‘Total Compensation’, a necessidade de fazer refletir o seu impacto na compensação”.

“Ciente desta urgência, a Mercer optou por uma abordagem inovadora a nível global e realizou uma 2ª fase de recolha de dados em julho, de modo a poder apresentar nos resultados do estudo, informação atual sobre os impactos da Covid-19 ao nível da compensação. Assim, as tendências que hoje apresentamos focam as ações tomadas pelas empresas em Portugal, na sua necessidade de responder a uma situação sem precedentes. Congelar salários e contratações são exemplos das medidas mais duras, mas, numa perspetiva positiva, a grande maioria das empresas não prevê diminuir o seu ‘headcount’ nem prevê recorrer a reduções salariais”, garante aquele responsável.

De acordo com os responsáveis da Mercer, “neste estudo, foi ainda possível aferir que o número de empresas que prevê contratar novos colaboradores sofreu uma grande quebra em comparação com o ano anterior”.

“Em plena pandemia, cerca de um quinto das empresas participantes (19%) admitiu a perspetiva de diminuir o número de colaboradores em 2020. No entanto, mais de metade (58%) afirma não existir qualquer plano de alteração ao nível do ‘headcount'”, assumem os responsáveis da Mercer.

O ‘Total Compensation’ desta consultora apurou ainda que 39% das empresas participantes na ‘Special Edition’ “indica ter optado pelo congelamento das contratações em 2020 e cerca de 13,5% indica ter optado por diminuir o número de contratações previstas”.

“De destacar também que para cerca de 46% das empresas as intenções de contratação não foram alteradas”, frisa o documento em questão.

Os responsáveis da Mercer salientam que, “relativamente à remuneração variável e ao pagamento de bónus/incentivos de curto prazo, 92% das empresas afirma ter pago os montantes relativos ao desempenho de 2019, de acordo com o previsto”.

“Para 2020, 44% considera que ainda é cedo para prever se o pagamento será superior ou inferior ao realizado relativamente ao desempenho de 2019. No entanto, 23% das empresas antecipa que a expectativa é de que esse valor seja inferior”, alerta a Mercer.

A equipa da Mercer assinala ainda que “um tema que surgiu na ‘Special Edition’ é referente ao teletrabalho e à adoção de práticas de trabalho flexível, implementadas pela quase totalidade das empresas respondentes a este estudo”.

“Cerca de 77% das empresas afirma ter optado pela implementação/reforço de políticas de trabalho flexível, como a adoção de horários de trabalho flexíveis, ou a possibilidade de escolher trabalhar a partir de casa ou do escritório. A maioria das empresas afirma acreditar que o recurso a modalidades de trabalho flexível será frequente, mesmo no pós-pandemia”, conckui o estudo da Mercer.

Relativamente às intenções de contratação, o ‘Total Compensation 2020’ apurou que cerca de 36% das organizações pretende aumentar o número de colaboradores em 2020, e cerca de 39% em 2021.

“No entanto, e no capítulo ‘Special Edition’, dedicado ao impacto do Covid-19, com dados recolhidos em julho, mais de metade das empresas nacionais (53,8%) referiu que estas mesmas intenções de contratação foram alteradas, com 72,5% destas organizações a afirmar que optou por congelar as contratações”, avisam os responsáveis da consultora, adiantando que “estes números revelam assim que 39% do total das empresas participantes na ‘Special Edition’ indica ter optado pelo congelamento das contratações em 2020 e cerca de 13,5% indica ter optado por diminuir o número de contratações previstas”.

Marta Dias Gonçalves, Surveys Leader da Mercer, destaca ainda que “de facto a evolução dos números entre a 1ª recolha de dados (em abril/maio) e a 2ª (julho), permitem-nos ter uma clara noção das medidas e ações que foram sendo adotadas pelas empresas em resposta à pandemia”.

“Ao nível dos salários ‘per si’, não se observam quaisquer alterações – conforme seria de esperar, uma vez que este tipo de variações requerem um ciclo mais longo – nem mesmo relativamente a bónus, uma vez que a quase totalidade das empresas optou por pagar a remuneração variável relativa ao desempenho de 2019. No entanto, os dados conduzem-nos à previsão de que em 2021 o cenário poderá ser um pouco diferente, em particular no que diz respeito à remuneração variável”, acredita esta responsável da consultora.

De acordo com os dados recolhidos, cerca de 86% das empresas que participaram no estudo realizam a sua revisão salarial uma vez por ano. Desta percentagem, 28% escolhe o mês de março para a revisão, 25% opta pelo mês de abril e 20% por janeiro. Neste período, a percentagem de incremento atribuída aos colaboradores é determinada por um conjunto de fatores que influenciam diretamente o valor disponibilizado para esse fim. Assim sendo, surgem como fatores prevalentes na atribuição de incrementos, o desempenho individual do colaborador (cerca de 94%), o posicionamento na grelha salarial (cerca de 68%) e os resultados da empresa (cerca de 64%), tal como se pode verificar pela observação da tabela em baixo.

As conclusões deste estudo da Mercer abordam ainda outras questões como a redução do ‘turnover’ voluntário, incrementos salariais em 2020 e 2021 (na fase pré-Covid), incentivos de curto e de longo prazo, benefícios, trabalho remoto e flexível

Para este estudo, foram analisados 140 mil postos de trabalho em 466 empresas presentes no mercado português.

A amostra do estudo ‘Total Compensation 2020’ é constituída maioritariamente por empresas multinacionais (51%) com a localização da casa-mãe, em cerca de 20% dos casos, nos Estados Unidos.

Esta amostra inclui empresas de diversos setores de atividade, representativos do tecido económico e empresarial português. Os mais representativos são os setores de serviços gerais (cerca de 17%), serviços financeiros (cerca de 15%), indústrias diversificadas (cerca de 12%), bens de consumo (cerca de 11%) e ‘hi-tech’/telecomunicações (cerca de 9%).

Em relação ao volume de negócios, foi analisada uma amostra diversificada, estando representadas pequenas, médias e grandes empresas. O universo encontra-se, no entanto, repartido sobretudo entre as empresas com menos de 50 milhões de euros de faturação (cerca de 58% da amostra) e mais de 100 milhões de euros de faturação (cerca de 28% da amostra).

Relativamente ao número de colaboradores, a amostra analisada é maioritariamente constituída por empresas com um quadro de pessoal até cem colaboradores (cerca de 44% da amostra), sendo que cerca de 14% das empresas participantes detêm mais de mil colaboradores.

“Verifica-se qua existência de equilíbrio entre géneros (50% feminino e 50% masculino). Quanto à faixa etária, cerca de 30% das observações situa-se entre os 26 – 35 anos. A nível de antiguidade, verifica-se que a maior prevalência se encontra no intervalo entre os 0 e os 3 anos de permanência na empresa (cerca de 38%), seguido da faixa entre 4 e 7 anos de antiguidade com 15%. As habilitações literárias mais prevalentes são a licenciatura e o nível de ensino secundário (cerca de 28% e 38%, respetivamente)”, conclui o comunicado da Mercer.

A Mercer tem mais de 25 mil colaboradores em 44 países e opera em mais de 130 países.

É uma subsidiária da Marsh & McLennan, a empresa que reclama a liderança global em serviços profissionais nas áreas de risco, estratégia e pessoas.

A Mercer obteve receitas anuais de 17 mil milhões de dólares (USD) no ano passado e emprega 76 mil colaboradores em todo o mundo, incluijdo nas outrs empresas do grupo: Marsh, Guy Carpenter, Mercer e a Oliver Wyman.

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