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Euronews garante independência editorial após compra por fundo português com ligações à Hungria

Fundo português decidiu investir no canal noticioso europeu devido ao seu “tremendo potencial”.
22 Dezembro 2021, 16h55

A Euronews garante a sua independência editorial depois de uma sociedade portuguesa de capital de risco – a Alpac Capital, com ligações à Hungria – ter comprado 88% do capital da estação televisiva europeia. Esta participação era detida anteriormente pelo empresário egípcio Naguib Sawiris.

“Tenho todas as garantidas de independência editorial”, disse o presidente executivo da Euronews, Michael Peters ao jornal digital europeu “Politico”, sediado em Bruxelas.  O conselho editorial independente da empresa vai passar a incluir três pessoas escolhidas pelo novo dono.

A Euronews está presente em 440 milhões de lares em 160 países, qualificando-se como o “principal canal europeu de notícias”. Mensalmente, chega a 145 milhões de pessoas, 68% do total de lares na Europa.

Por sua vez, a Alpac Capital disse que não existem causas para preocupação sobre a “liberdade editorial” do canal noticioso, sediado em Lyon, França. “Decidimos investir na Euronews porque acreditamos no seu tremendo potencial e consideramos que é um ativo desvalorizada”, afirmou um porta-voz oficial do fundo ao “Politico”.

A Alpac Capital é controlada por Pedro Vargas David (filho do ex-eurodeputado do PSD, Mário David, e que agora é conselheiro político do primeiro-ministro da Hungria Viktor Orbán) e Luís Santos (filho do selecionador nacional Fernando Santos).

“Queremos estabelecer-nos fortemente em Bruxelas, como uma NBC ou CNN em Washington”, disse recentemente Pedro Vargas David ao “Expresso”.

O fundo está sediado em Lisboa, mas conta com escritórios na capital da Hungria, Budapeste, e também no Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

Segundo o “Politico”, a Alpac já recebeu capital de grandes empresas húngaras e o ministro dos Negócios Estrangeiros do país ajudou a promover o lançamento de um fundo da Alpac destinado a investimentos regionais em 2017.

A Alpac também já recebeu financiamento da agência internacional da Hungria, a EXIM, e também da energética MOL e do banco OTP Bank. Estas três empresas rejeitaram ter investido na Euronews, mas o “Politico” destaca que as três já contribuíram com financiamento para o fundo ‘East West’ da Alpac que visa o investimento em pequenas e médias empresas com potencial de crescimento em Portugal, na Hungria e em países vizinhos.

Outra das ligações destacadas pelo jornal é com a empresa de tecnologia húngara 4iG, que tem relações com o partido de Viktor Orbán, o Fidesz, segundo o jornal digital de Bruxelas. Pedro Vargas David faz parte do conselho de administração desta empresa, cuja maioria das receitas em 2020 tiveram origem em contratos com o Estado húngaro.

O “Politico” recorda um artigo do “Expresso” de 2018 onde Mário David dizia ter forjado amizade com Viktor Orbán há 26 anos (na altura), e que o seu aconselhamento era feito “pro bono”.

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