Os analistas já tinham avisado e na atualização de inverno das projeções da CE para 2019 está preto no branco: o crescimento médio será de apenas 1,3% do PIB na zona euro. Para Portugal há uma expetativa de convergência com uma previsão de 1,7% de crescimento do PIB. Os motores europeus estão a arrefecer e começaram pela Alemanha e França para acabarem em Itália, que quase se pode considerar em recessão tendo em conta que a projeção não vai além de 0,2% do PIB. Apenas a Grécia está em contraciclo, algo facilmente explicável pelos oito anos consecutivos de queda da riqueza nacional e uma das mais duras intervenções externas para o equilíbrio das contas.

Há seis anos que a Europa não crescia tão pouco e há muitos anos que a Europa não se via envolvida em dramas tão profundos como o Brexit descontrolado ou manifestações com profundas raízes ideológicas e sociais. Os “gillets jaunes” querem “democracia”, ou aquilo que para si significa, que mais não é do maior igualdade de salários e mais assistência social. Mas esta é uma Europa ideologicamente dividida. Tivemos um governo italiano que fez finca-pé com a UE e depois ajoelhou, e temos governos para os quais os populismos são a resposta para todas as perceções daquilo que corre mal.

E como a política se faz de percepções, é curioso lembrar uns dados avançados no início de fevereiro pelo economista-chefe da seguradora Coface, Julien Marcilly, na conferência anual sobre risco-país, em Paris, retirados de um estudo sobre a perceção que a população de cada país tem de si própria e da capacidade para influenciar os destinos do mundo. Curiosamente, os britânicos achavam que ocupavam o 12º lugar entre os mais influentes quando, segundo o estudo, são o 5º país mais influente. Ou os franceses que acreditavam serem o 15º mais influente quando são o 7º, isto para não falar de Espanha, cuja população pensa estar ao nível do Terceiro Mundo quando o país é o 14º mais influente.

Mas isto de perceções tem muito que se lhe diga. No mesmo estudo foi perguntado aos alemães qual o nível de desemprego no país e estes indicaram um valor na ordem dos 20% quando têm 3,4%, enquanto os franceses dizem ter 30% de desemprego quando têm 9% nos números oficiais. Também é verdade que em França, se se contar com os excluídos e com os que já desistiram de procurar emprego, provavelmente o desemprego ultrapassará os 20%, algo semelhante para Portugal.

Mas aquilo que ainda é mais preocupante para esta Europa não é o facto de o BCE não ter armas para debelar uma nova crise, pois não normalizou a política monetária, nem sequer é o facto de, ideologicamente, o Parlamento europeu poder ter outras famílias para além das duas habituais, mas sim as divergências nas ambições. O sul está preocupado com a igualdade salarial e de oportunidades e o norte com o acesso à educação e segurança. Isto diz tudo sobre a União que deixou de ser a de Delors.