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Europeia vai investir 85 milhões para ser “Universidade multidisciplinar”

A Europeia quer crescer de forma significativa em Portugal nos próximos cinco anos. O plano de expansão prevê a construção de um novo campus, a aposta no online e nas Ciências da Saúde, incluindo a criação de uma Faculdade nesta área, e o aumento da oferta formativa.
15 Maio 2022, 19h00

Miguel Carmelo, CEO do Europa Education Group, detentor da Universidade Europeia, IADE e IPAM, revela ao JE Universidades que o grupo vai investir 85 milhões de euros, nos próximos cinco anos, em Portugal. O plano de expansão tem como objetivo ganhar massa crítica e crescer, transformando uma instituição especializada e de pequena dimensão numa “universidade multidisciplinar”. A meta é ambiciosa.

Em breves traços como analisa o ensino superior em Portugal?
Portugal, como toda a Europa, tem um sistema de ensino misto: público e privado. Por razões históricas, as universidades públicas são muito, muito boas, estão entre as melhores da Europa. Em contrapartida, as privadas são pequenas, precisam de investimento, modelo académico mais moderno e inovação. Não têm a qualidade das universidades públicas. Em Espanha, não é assim: recebem muito investimento, são grandes e muito boas.

É esse salto que querem dar em Portugal?
A perspetiva do Europa Education Group é que as universidades são melhores se forem projetos multidisciplinares, assentes numa oferta muito diversificada. O nosso plano é fazer evoluir o que temos atualmente em Portugal, passando de uma universidade especializada em algumas áreas, para uma universidade multidisciplinar. É um projeto ambicioso e visa contribuir para o desenvolvimento do ensino superior no país. Trazemos a dinâmica de uma instituição multidisciplinar que quer estar próxima da sociedade e formar profissionais globais.

Pode explicar?
Espanha e Portugal têm um problema que é extensivo a França e Itália — um certo desfasamento entre o sistema educativo e o sistema laboral. O ensino tradicional é baseado na docência e na investigação, ao qual, na nossa perspetiva, há que adicionar um terceiro elemento: a componente prática. O jovem vai para a universidade estudar, mas também vai adquirir ferramentas para construir o seu futuro. Nós, privados, podemos contribuir com a visão de um ensino mais prático, mais perto das profissões. Na Alemanha, onde trabalhei, o ensino superior não é melhor do que em Portugal ou em Espanha, mas são muito práticos. Os estudantes fazem uma parte dos estudos nas próprias empresas.

A Universidade Europeia quer afirmar que modelo?
Quando falamos do nosso modelo académico, dizemos sempre: tem que ter uma dimensão intelectual, que é, no fundo, a dimensão mais tradicional do ensino superior, o saber, o investigar, mas também tem que ter uma componente profissional, o saber-fazer. Ao conhecimento e ao saber-fazer, acrescento uma terceira dimensão: construir homens e mulheres do século XXI. Esta dimensão social é extremamente importante face aos problemas da sociedade contemporânea, como o meio ambiente, a desigualdade e a diversidade. Queremos que da nossa Universidade saiam homens e mulheres do seu tempo.

Quanto vão investir para concretizar o plano?
O investimento previsto é de 85 milhões de euros e 95% será realizado na capital.

Quais são as linhas fortes do investimento?
O plano transformacional vai ser desenvolvido nos próximos cinco anos. No âmbito deste plano estamos a solicitar às autoridades portuguesas a possibilidade de uma Escola de Saúde, em que temos grande expertise. Num plano mais geral, queremos aumentar o número de cursos que disponibilizamos. Quando falo em aumentar a oferta não me refiro somente às licenciaturas, mas também aos mestrados e à formação para executivos — esse é o primeiro pilar do nosso plano estratégico.

Quais são os outros?
O online é outro pilar da nossa estratégia. Portugal está muito desenvolvido no ensino superior, mas não no ensino online, contrariamente ao que acontece noutros países europeus, nomeadamente em Espanha. A dimensão da oferta neste segmento é muito pequena, quase se resume aos oito mil estudantes da Universidade Aberta. Refiro-me não só à tecnologia, mas também à metodologia usada para as pessoas que voltam à universidade pela segunda ou terceira vez, i.e., profissionais que estando no mercado de trabalho querem ganhar novas competências para prosperar na profissão ou tornarem-se empregáveis noutra área. Não falamos aqui de jovens, mas de trabalhadores e de requalificação profissional. Nas sociedades modernas, o emprego deixou de ser para a vida. Os jovens de hoje mudarão de empresa mais do que uma vez e talvez também de profissão e cada vez que isso acontecer vão ter que se requalificar. Essas pessoas não terão tempo ou mentalidade para ir à faculdade todos os dias de segunda a sexta-feira, pelo que o ensino online vai ser cada vez mais importante.

Qual a vossa oferta online?
Neste ano letivo 2021/2022, a Universidade Europeia Online disponibiliza mais de 20 cursos/formações e conta com mais de 1000 alunos. Mas a nossa ambição é crescer, desenvolver esta vertente no ensino superior e contribuir decisivamente para o upskilling e reskilling da população portuguesa.

Como e onde serão distribuídos os 85 milhões?
O investimento tem duas componentes muito fortes. O edificado, para onde irão cerca de 40 milhões de euros, e a infraestrutura académica, i.e., laboratórios e equipamentos vários, à qual estão destinados 45 milhões. A área da saúde é extremamente importante para nós, mas temos projetos para investir naquilo a que os peritos chamam agora STEAM — Science, Technology, Engineering, Arts and Mathematics (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática).

Falemos do edificado. O que compreende?
A construção de um novo campus, muito mais moderno do que o atual. Só esse campus nos permitirá desenvolver o nosso grande projeto na área da saúde, aumentar a nossa oferta de forma significativa e atrair estudantes estrangeiros.

Onde será o campus?
Estamos direcionados para o Pólo Tecnológico de Lisboa — Lispolis. Neste momento, estamos a trabalhar com vista à obtenção das licenças de construção.

Pensam lançar o concurso ainda este ano?
A resposta é sim, pelo menos, essa é a nossa expectativa. Se houver atrasos não serão da Lispolis nem da nossa capacidade de investir… vamos ver como se comporta a agilidade da administração pública, que tanto em Portugal como em Espanha, não costuma ser célere, antes pelo contrário são muito burocráticas. Só pedimos rapidez, que é aquilo que as empresas privadas sempre pedem quando lidam com organismos públicos. A construção demora mais ou menos um ano e meio, o que significa que para cumprirmos os prazos definidos temos que estar prontos com as licenças a seguir ao verão.

E quais são?
A nossa estimativa é que o primeiro edifício (o campus terá vários) possa abrir no ano letivo 2024/25.

Onde está a Europeia, neste momento?
Em Lisboa, a Universidade Europeia tem atualmente três campus: o campus de Santos, onde está o IADE, a Quinta do Bom Nome, em Carnide, o nosso maior campus, que fica a 15 minutos a pé da Lispolis e onde temos as Faculdades de Ciências Sociais e Tecnologia e a Faculdade Online e também o IPAM Lisboa; e o campus da Lispolis, também em Carnide e onde, desde 2016, temos um edifício com 1800 m2.

Quando ficará totalmente pronto?
Segundo o plano, entre 2026 ou 2027, o que vai depender da nossa capacidade de crescimento, mas também dos reguladores portugueses de aprovarem os novos cursos. O maior edifício é destinado à Faculdade das Ciências da Saúde, área para a qual reservamos o maior investimento, entre 12 e 15 milhões de euros de dotação académica para laboratórios, equipamento, robôs, simuladores, etc. Temos muita experiência nesta área — fomos a primeira universidade privada com o curso de Medicina em Espanha, na Turquia, em Chipre. Mas o projeto vai depender da aprovação da parte do organismo português, a A3ES que vamos ter que convencer. O regulador defende os interesses do país e dos cidadãos e tem que estar seguro de que o projeto é bom para o sistema de ensino superior e para a sociedade. Funciona assim em todos os países da Europa.

Quem lidera o projeto em Portugal?
O projeto académico é liderado pela reitora da Universidade Europeia, Hélia Gonçalves Pereira e por Lourdes Martín, diretora executiva da área da saúde da nossa Instituição. Contamos, ainda, com a colaboração valiosa de dois profundos conhecedores do sector da saúde em Portugal, os antigos ministros Maria de Belém Roseira e Adalberto Campos Fernandes. A bordo do projeto está também Carlos Bertrán, que foi diretor geral do grupo em Espanha, no México e na Alemanha e tem grande experiência internacional.

Há anos, a pretensão da Europeia de ter o curso de Medicina foi chumbada.
De facto, há uns anos houve uma primeira consulta, mas nessa altura não tínhamos capital para investir num projeto tão sério e estratégico, como este. Agora, não pedimos acreditação do curso de Medicina.

Então que autorizações pediram?
Nesta fase submetemos pedidos para lecionar quatro cursos: Biociências da Saúde (licenciatura), Medicina Dentária (mestrado integrado), Ciências Farmacêuticas (mestrado Integrado) e Ciências da Nutrição (licenciatura). Pensamos que temos que demonstrar primeiro que estamos firmemente comprometidos para a melhoria geral do sistema de ensino superior do país, o que passa por desenvolver outros cursos da área da saúde antes de avançarmos para Medicina.

E o IADE? O ensino das Artes vai manter-se onde está?
O IADE está instalado num edifício arrendado em Santos, uma zona de grande pressão urbanística em Lisboa. Ainda nada está definido e todos os cenários estão em aberto, incluindo mantermo-nos aí ou mudarmos para a Lispolis.

O que vai acontecer ao campus de Carnide?
Ainda não sabemos. O campus da Quinta de Bom Nome não é o melhor campus em termos práticos, mas é icónico e muito agradável para os estudantes. Há a possibilidade de construir na Lispolis e conservar o campus da Quinta do Bom Nome para algo específico, porque os dois campi estão perto um do outro — 15 a 20 minutos a pé, 5 minutos de carro, 7 minutos de bicicleta. Tudo dependerá do grau de crescimento que viermos a atingir. Neste momento, todas as opções estão em aberto.

E a infraestrutura online?
O campus virtual dirige-se principalmente a estudantes profissionais, formação executiva e masters, requer muito menos investimento e maiormente já está feito. Investimos no online para Espanha e Portugal.

A universidade multidisciplinar que vão construir é para internacionalizar?
Naturalmente. Portugal é um país muito, muito interessante para os estudantes europeus, sobretudo para os alemães e os nórdicos, que são muito atraídos pelo sul da Europa. O grau de internacionalização da nossa Universidade em Madrid é muito forte. O nosso campus é frequentado por 42% de estudantes estrangeiros, principalmente europeus. No Europa Education Group mais de 30% dos estudantes são estrangeiros, sobretudo vindos do continente. Nos próximos anos, vamos apostar muito na internacionalização.

Que expressão tem o Europa Education Group?
Estamos em cinco cidades: Madrid, Valência e Tenerife, em Espanha, e Lisboa e Porto em Portugal. Em Setembro vamos abrir na cidade espanhola de Alicante e solicitámos também licença para abrir em Málaga, onde temos já inclusivé terreno cedido pelo município. Estamos a crescer.

As parcerias do tempo do Laureate mantêm-se?
Conservamos os acordos que foram feitos com universidades europeias e norte-americanas. Aliás, na nossa perspetiva, um índice muito apropriado para medir o grau de internacionalização de uma instituição passa por cruzar as duas variáveis: número de estudantes estrangeiros que recebe e número de alunos que tem a estudar fora. Em Espanha este índice é muito alto, em Portugal não.

Portugal é deficitário no alojamento universitário. O vosso projeto abarca esta realidade?
Lisboa é uma cidade muito cara para o nível de rendimento português, o que é um grande problema para quem vem de fora estudar. No nosso campus de Madrid, de 250 mil m2, existem duas residências, que foram construídas e são geridas por um parceiro, que é especialista no ramo. Estamos a falar com ele… Se se concretizar algo do género para Portugal, será um investimento adicional aos 85 milhões.

A vossa expansão implica criação de emprego?
Sim, claramente. Sempre que falamos com autoridades políticas repetimos até à exaustão que o ensino superior é uma indústria moderna, limpa, que ajuda a sociedade e cria emprego estável e de elevada qualificação. No nosso caso, falamos de centenas de postos de trabalho entre professores, investigadores e pessoal administrativo. Temos muita expectativa e ilusão quanto a este investimento. Não vamos substituir nada, queremos complementar e contribuir para elevar a qualidade do ensino superior em Portugal desde a ótica privada que é aquela em que operamos.

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