[weglot_switcher]

Fabian FIgueiredo: “Estou pronto para negociar um acordo com o próximo presidente da Câmara de Loures”

Candidato do Bloco de Esquerda à autarquia presidida pelo comunista Bernardino Soares tem prioridades na habitação social e serviços públicos de que garante, em entrevista ao Jornal Económico, não abdicar se o eleitorado lhe permitir “formar maiorias a favor de quem vive, trabalha, estuda ou se refugia no concelho”.
  • Fabian Figueiredo
    D.R.
21 Setembro 2021, 08h10

O Bloco de Esquerda não conseguiu eleger nenhum vereador em Loures nas autárquicas de 2017, mas Fabian Figueiredo volta a apresentar-se a votos numa altura em que o PS aposta forte em conquistar a presidência do concelho ao comunista Bernardino Soares e em que a elevada votação no PSD, pelo qual avançou há quatro anos André Ventura, parece ser irrepetível. Com prioridades marcadas na habitação social, ciclovias, transportes, educação e saúde públicos, bem como no combate à poluição, o candidato bloquista diz estar “disponível para formar maiorias a favor de quem vive, trabalha, estuda ou se refugia no concelho”.

O Bloco de Esquerda (BE) não tem conseguido eleger um vereador no concelho, apesar das suas votações em eleições nacionais. Se concretizar agora esse objetivo será mais por mérito vosso ou por demérito da gestão comunista de Bernardino Soares?

O Bloco fez, durante estes quatro anos, um intenso trabalho de proximidade em Loures. Várias mudanças que se verificaram no concelho começaram por ser bandeiras do Bloco. É o caso da reabilitação do parque escolar e da remoção do amianto das escolas. Tivemos um papel determinante também no combate à presença de indústrias altamente poluentes em zonas residenciais que, por décadas, atuaram impunemente com graves prejuízos para as populações e para o ambiente. E, claro, na defesa de habitação acessível. Ao longo de quatro anos propusemos que a autarquia interviesse de forma eficaz no mercado de habitação. Infelizmente, não foi assim. A Câmara Municipal liderada pela CDU não defendeu as pessoas comuns da predação imobiliária. Dito isto. O resultado eleitoral do BE será proporcional ao reconhecimento deste trabalho. Continuaremos a fazê-lo, com a força que as eleitoras e eleitores nos derem.

Está preparado para formar maioria e assumir pelouros se a distribuição de mandatos criar essa possibilidade?

O BE está disponível para formar maiorias a favor de quem vive, trabalha, estuda ou se refugia no concelho de Loures. Contribuiremos sempre para encontrar soluções fortes na habitação, transportes públicos, saúde, educação, ambiente e nas políticas de igualdades.

Perante as críticas que têm feito à atual gestão camarária um entendimento desse tipo só poderá ser com o PS, como tem ocorrido em Lisboa, ou admite a hipótese de acordo com a CDU?

O BE empenha-se em trabalhar para maiorias à esquerda que melhorem a vida das pessoas comuns, no município como em todas as freguesias. O que no nosso entender passa por uma política municipal de habitação que disponibilize centenas de casas a custos controlados, automatize a atribuição da tarifa social da água (o que representaria um desconto imediato para 14 mil famílias mais carenciadas do concelho), que aumente as vagas nas creches, revolucione a mobilidade, avançando com a gratuitidade dos transportes para crianças, jovens e idosos e com uma rede municipal de ciclovias que ligue todas as freguesias e Loures aos concelhos vizinhos, valorize a escola pública e se preocupe em responder às alterações climáticas. Interessa-nos o conteúdo de um eventual acordo e estou pronto para o negociar com o próximo presidente da Câmara.

De que medidas o Bloco nunca abdicaria para integrar o executivo camarário? A taxa turística seria uma delas?

As maiorias resultam dos compromissos programáticos. Estaremos sempre disponíveis para discutir soluções para resolver a crise da habitação, melhorar a escola pública, investir nos transportes públicos, combater todas as formas de discriminação e enfrentar urgência climática.

Sendo a mobilidade um dos problemas que têm identificado em Loures, que avaliação faz das soluções de metro de superfície e metro ligeiro anunciadas nos últimos meses?

O BE sempre defendeu a solução do metro de superfície para o concelho. Não só é mais racional, mais rápida de implementar e muito mais ecológica. Neste mandato é preciso garantir que as obras avançam e não regressam à gaveta, como aconteceu nas últimas décadas. A população está farta de promessas não cumpridas. Isto é válido para o alargamento da rede de metro para Loures, bem como para a expansão da Linha Intermodal Sustentável para Sacavém, Moscavide e Portela.

Têm criticado as indústrias poluentes que afetam a qualidade de vida dos munícipes. Que alternativas advogam para garantir existência de empregos em Loures?

Temos defendido que a autarquia assegure que a deslocalização destas unidades industriais é feita dentro do concelho, salvaguardando desta forma o emprego. Na zona próxima do MARL existem espaços alternativos, com bons acessos rodoviários e que poderiam servir para a continuidade das empresas e para a libertação das áreas residenciais, que hoje, um pouco por todo o concelho, sofrem com a poluição e com a insegurança rodoviária provocada pelo trânsito de pesados nos centros das cidades e vilas do concelho. É possível ter empresas de qualidade a operar em zonas industriais municipais adequadas e equipadas para o efeito, preservando os postos de trabalho e gerando riqueza sem prejudicar o ambiente e as populações. Não faz sentido continuarmos a ter bairros inteiros em que não se abre as janelas por causa da poluição industrial ou populações que, por viverem junto a parques de contentores, temem pela sua segurança. Em muitos concelhos tal cenário seria impensável. Por cá, temos de passar a ter o mesmo nível de exigência.

Tem associado à atual gestão camarária à especulação imobiliária e turistificação. Que tipo de empresários deverão temer que Bernardino Soares ceda o lugar a uma solução que envolva o BE?

A especulação imobiliária prejudica a maioria das empresas do concelho, sobretudo as que mais gente empregam no concelho: as micro, pequenas e médias empresas. Ao longo dos últimos anos, bem como nesta campanha eleitoral, tenho-me reunido com imensos comerciantes. O insuportável valor das rendas e o elevado custo do metro quadrado no concelho (que chegou a ultrapassar o Porto!) são tema em todas essas conversas. O futuro passa por captar investimento reprodutivo, gerador de emprego e por valorizar o comércio de proximidade.

Há quatro anos a disputa eleitoral em Loures foi muito mediatizada devido à candidatura de André Ventura, que valeu três vereadores ao PSD. Sendo provável que isso não se repita em 2021, que mensagem tem para os eleitores que fizeram então essa escolha?

Os três vereadores que o PSD elegeu em 2017 não contribuíram para resolver nenhum dos problemas estruturais do concelho. Foram espectadores passivos da governação do município ao longo de todo o mandato. A direita é incapaz de apresentar uma alternativa política coerente para Loures. As soluções e as alternativas debatem-se à esquerda. As pessoas comuns que sentem o peso dos problemas que não se resolvem em áreas centrais da sua vida como a habitação, os transportes, a saúde, a educação ou as alterações climáticas podem contar com o Bloco de Esquerda para essa nova política autárquica.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.