O próximo domingo pode ser – tudo o indica – de regresso da Áustria a um lugar que já conhece: o da condução do seu destino pela extrema-direita. A repetição das eleições ocorridas a 22 de Maio passado devem inverter – segundo as sondagens – a posição do populista de direita Norbert Hofer: em Maio ficou em segundo lugar, com 49,7% dos votos, tendo perdido para o candidato do partido ecologista Os Verdes, Alexander Van Der Bellen, que obteve 50,3% dos votos (uma diferença de 31 mil votos).
Na altura, os analistas consideraram que os austríacos haviam decidido manter a extrema-direita fora da rota da governação – apesar de a margem da derrota de Hofer ter sido absolutamente curta. Mas os analistas parecem não ter levado em consideração o facto de Hofer ter ganho na Áustria – isto é, o candidato ecologista só ganhou depois de terem sido contados os votos por correspondência (onde avultam os austríacos que não vivem na Áustria); com os votos expressos no interior do país, o candidato populista ficou à frente, com 51,9% dos votos, contra os 48,1% de Alexander Van Der Bellen.
Desta vez, as coisas parecem estar mais definidas e um dos motivos principais, segundo os analistas, foi uma outra votação que ocorreu um mês depois das eleições que agora se repetem: o referendo britânico à eventual saída da União Europeia. A vitória do Brexit abateu-se sobre a Europa continental sob a forma de reforço dos extremismos – e, no caso austríaco, é o de direita que prevalece sobre qualquer outro.
“A sociedade austríaca é muito conservadora e tem um medo enorme de quem vem de fora”, refere o embaixador Francisco Seixas da Costa – que chegou a viver naquele país – “é um país que continua à procura da sua identidade”. O império Austro-húngaro ruiu em 1918, no final da I Grande Guerra, e a república que lhe sucedeu foi anexada à Alemanha por Adolfo Hitler em 1938.
Depois disso, sofreu diversas vicissitudes. Uma delas – e como país que fazia fronteira com o antigo bloco de Leste – residiu no facto de se situar na rota de passagem de todos os imigrantes que saiam dos países-satélite da antiga União Soviética, o que fez com que uma massa de imigrantes procurasse o pequeno país, com pouco mais de oito milhões de habitantes.
Pouco depois, a Europa regressava à guerra, desta vez (uma vez mais) nos Balcãs, e a Áustria voltou a ser um país de refúgio, não apenas para as populações das diversas nações em guerra, mas também para os ciganos. Com uma história pouco conhecida na Europa, os ciganos (que muitos pensam ser um povo oriundo precisamente dos Balcãs, mas a sua origem é a Índia) foram um problema para a Áustria – e não foi por acaso que a União Europeia (e também a ONU) teve de emitir pareceres na última década do milénio passado para exigir aos seus membros que tratassem o povo cigano de forma humana.

Sair da UE?
Norbert Hofer tem coleccionado uma série de declarações sobre este tipo de matérias, que primam pela reserva face a tudo o que vem de fora das fronteiras do país. Uma das mais recentes não tem a ver, apesar de tudo, com os imigrantes, mas sim com a Turquia. Hofer disse que, se a Turquia entrar na União Europeia, proporá (se for presidente) um referendo à permanência da Áustria no espaço comum. “O Islão não tem lugar na Áustria”, disse durante uma entrevista.
De qualquer modo, o crescimento do Partido da Liberdade (liderado por Hofer) começou em 2002, muito antes de a crise dos refugiados ter acabado por determinar o fim político do chanceler social-democrata Werner Faymann, que passou de ‘amigo’ dos refugiados para ‘construtor’ das vedações erguidas no sul do país e do consequente fecho da rota dos Balcãs (que isolou a Grécia como região receptora).
A única esperança dos que se lhe opõem reside na eventualidade de as sondagens estarem outra vez erradas: em Maio, a maioria dos estudos dava como mais que certa uma vitória folgada de Hofer sobre Van Der Bellen, depois de este ter conseguido um muito inesperado segundo lugar na primeira volta. A esperança de Van Der Bellen (de 72 anos), é que o erro se repita e Hofer (de 45 anos) volte a perder umas eleições que estão ‘enguiçadas’: para além de terem de ser repetidas, tiveram de ser adiadas, depois de não ter sido possível realizarem-se a 2 de Outubro passado.