Foi a 8 de agosto de 2019 que a Farfetch anunciou os seus resultados do segundo trimestre. No dia seguinte, durante o toque de fecho da NYSE, as ações da plataforma tecnológica para retalho de moda de luxo afundaram 44,5% (de 18,25 para 10,13 dólares).

Num momento de alta volatilidade na bolsa americana, esta possível reação exagerada dos investidores foi maioritariamente originada pela continuação da tendência, do primeiro trimestre, de crescimento dos prejuízos – que atingiram os 89,6 milhões de dólares no segundo trimestre, juntamente com um EBITDA ajustado negativo de 37,6 milhões de dólares (cerca de 33,8 milhões de euros).

Mas serão estes números más notícias, ou será que o unicórnio português caminha para um futuro próspero? Em 1998, uma empresa chamada Amazon apresentou resultados financeiros semelhantes, sendo que os prejuízos tinham aumentado 378% em 1997, face ao ano anterior.

Com um modelo operacional em que os lucros são alcançados através de economias de escala, é necessário que uma empresa tenha a capacidade de suportar os prejuízos que advêm desta estar em fase de crescimento, até que resultados positivos sejam alcançados. Sendo este o caso da Farfetch, grande parte do incremento dos custos operacionais deveu-se ao aumento dos custos de marketing, a alterações nas políticas de remuneração e a uma maior quantidade de ativos a sofrer depreciação.

Outra razão para os investidores venderem as ações foi o possível aumento da concorrência, apesar de um dos principais objetivos da empresa ser o aumento e retenção de clientes na plataforma, ainda que numa indústria caracterizada por conter fortes barreiras à entrada de novos participantes – como a integridade da marca, relações de longa duração e relutância por parte das marcas de luxo em participarem em plataformas de e-commerce.

A Farfetch é a empresa tecnológica líder: não tem concorrentes diretos, investe na inovação da sua plataforma, conta com mais de 1.100 parcerias com marcas e boutiques e está constantemente a aumentar a sua reputação e confiança no mundo das marcas de luxo.

A isto soma-se o facto de a Farfetch ter adquirido, este trimestre, o New Guards Group (com um “Enterprise Value” de 675 milhões de dólares, ou cerca de 608 milhões de euros). De acordo com Elliot Jordan, CFO da Farfetch, esta aquisição ampliou a “capacidade de alavancar a plataforma Farfetch para viabilizar ainda mais a indústria de luxo”.

Apesar de criar sinergias de longo prazo, esta estratégia pode por vezes causar um ambiente hostil entre empregados e empregadores. Podendo ser esta uma explicação do aumento exponencial que se verificou na remuneração baseada em ações da Farfetch, face ao ano anterior – outra causa pode ser a crescente procura por trabalhadores qualificados nas áreas da tecnologia.

Apesar do recente acontecimento no mercado bolsista, a Farfetch permanece com uma posição financeira estável, tanto em termos de liquidez como de solvabilidade. E preparada para absorver os custos inerentes à sua estratégia de crescimento, numa indústria que irá atingir os 446 mil milhões de dólares em 2025 (segundo a Bain, em 2018, estava avaliada em 307 mil milhões de dólares, i.e. cerca de 276 mil milhões de euros).