O Presidente da Junta da Galiza, Alberto Núñez Feijóo, após ter afirmado, domingo de manhã, que “a Galiza não arde, a Galiza é queimada”, esta segunda-feira voltou a manifestar a sua consternação ao referir que a “Galiza está farta que se relativize a atividade incendiária quando aquilo de que estamos a falar é de outra forma de terrorismo: o terrorismo incendiário. E não queremos nenhum tipo de terrorismo na Galiza”.
Também Íñigo Errejón, secretário de análise estratégica e mudança política do partido Podemos, pronunciou-se publicando no Twitter que “é urgente que o Governo central envie todos os reforços disponíveis para fazer frente ao terrorismo medioambiental que queima a Galiza”.
A expressão ouviu-se, igualmente, nos mais de 4 mil hectares que ardiam. Segundo o El País, enquanto bombeiros e locais tudo faziam para apagar as chamas, a palavra “terrorismo” foi frequentemente utilizada para definir a atividade incendiária.
Quatro vítimas mortais e centenas de desalojados foram algumas das consequências dos mais de cem fogos de domingo na Galiza, que não conheceram fronteiras devido aos ventos fortes e atravessaram o norte de Portugal incendiando a província espanhola, levando outras personalidades a empregar a mesma expressão. Emilio Calatayud, juiz do Tribunal de Menores de Granada, publicou um artigo intitulado “Toda a nossa solidariedade com os afetados pelos incêndios da Galiza, que, efectivamente, são terrorismo”.
Embora nunca se tenha recorrido tantas vezes à palavra “terrorismo”, no que respeita à sua ligação com a atividade incendiária, a mesma expressão já tinha sido utilizada pelo El País, quando a Galiza esteve em chamas em 2006. “Milhares de pessoas marcham em Santiago de Compostela contra o terrorismo incendiário” foi o título usado pelo jornal espanhol na altura.
A expressão ganha este ano força, após um dos piores dias de incêndios de 2017, sendo usada (tendo por base a declaração de Feijóo) em publicidade em diversos meios de comunicação social espanhola, como é o caso do El País.
Uma mais completa reflexão sobre a questão inicial – “Faz sentido falar de terrorismo incendiário?” – passa pelo conhecimento do que a lei diz sobre a palavra “terrorismo”. Professor de Direito na Universidade Jaume I e especialista na análise jurídica de delitos terroristas, Antonio Fernández, disse ao El País que “ainda que as recentes reformas legais nos permitam, não devemos qualificar como comportamentos de ‘terrorismo’ condutas que não o são. Para combater o que acontece na Galiza devia considerar-se primeiro se as penas, atualmente associadas aos incêndios florestais, são proporcionais ou suficientes”.
Irene Muños, especialista do Observatório Internacional de Estudos sobre o Terrorismo explicou que “O uso do termo pode levar-nos a pensar que o problema tornar-se-á uma prioridade, que irá ter um melhor tratamento, contudo isso não significa que será melhor resolvido. Irene Muños alertou ainda que “falar de ‘terrorismo’ nestas alturas pode conduzir-nos a banalizar tanto o problema do ‘terrorismo’ como o problema dos incêndios florestais.”
Em entrevista à La Voz de Galicia, Álvaro Garcia Ortiz, fiscal do Meio Ambiente da Galiza, afirmou ser muito complexa a questão dos incêndios e que ter uma conclusão geral sobre todos em conjunto é complicado: “Há que ir a cada sítio, a cada lugar e ver quais são as causas”. Com opinião idêntica encontra-se a organização “Ecologistas em Ação” que diz não acreditar em “tramas organizadas por incendiários” e vê como problema a falta de medidas preventivas como “uma revisão da política florestal, uma nova política de desenvolvimento rural e fazer frente às alterações climáticas”.
Não obstante, as palavras daqueles que foram directamente lesados relatam que “isto para nós é como ter vivido um ataque terrorista”, afirmou um residente do Concelho de As Neves, um dos afetados pelos incêndios do dia 15 de Outubro de 2017.