Alguns consideraram a Cimeira do Clima de Glasgow um sucesso, enquanto outros a descreveram como um fracasso. O que sabemos com certeza é que o seu resultado irá influenciar a evolução das temperaturas médias do planeta nos próximos anos.

Há, em todo o caso, desenvolvimentos dignos de nota nesta COP26. O apelo para a redução gradual do uso do carvão sem recurso a processos de captura de CO2, tal como dos subsídios aos combustíveis fósseis ineficientes, pode claramente ser considerado um progresso. Assim como é verdadeiramente encorajador que os EUA e a China tenham declarado que desejam aumentar a cooperação climática entre si. Afinal, estes dois países são os maiores emissores de CO2 do mundo.

O clima do planeta está a mudar, e o nosso foco principal é combatermos essa tendência. Um processo que passa não apenas por mudanças nas práticas que nos conduziram a esta situação, mas também nas relações políticas e económicas a nível global.

Os primeiros-ministros e chefes de Estado prometeram uma forma ou um plano para alcançar um equilíbrio geral entre a quantidade de carbono que cada país está a emitir e o carbono que está a remover da atmosfera. A UE estabeleceu a meta de alcançar este equilíbrio em 2050, outros continentes escolheram datas posteriores.

Portanto, de uma forma geral, a cimeira do clima, definiu o rumo que todos os países do mundo devem seguir para fazerem a transição para uma energia limpa, segura e acessível. Isto acontece num momento em que a tecnologia está a avançar a um ritmo acelerado, possivelmente anunciando uma era alimentada por novas fontes de energia tendo o hidrogénio como vetor, sem esquecer o potencial de tornar as fontes renováveis ​​como a solar e eólica mais acessíveis.

Inovação, investigação científica, digitalização e descarbonização são promessas para o nosso futuro. No entanto, e que isto fique bem claro, é aqui que nós, europeus, temos de estar particularmente atentos.

O desafio que nós, europeus, enfrentamos não consiste apenas em salvar o planeta Terra, mas também em nos mantermos competitivos a nível global. A corrida pela descarbonização e digitalização já começou e a Europa não está na liderança. Precisamos de agir agora. Devemos isso aos nossos cidadãos. A indústria da UE emprega cerca de 35 milhões de pessoas e representa cerca de 16% das nossas economias. Um ambiente industrial competitivo significa a criação de empregos de alta qualidade.

A China e os Estados Unidos são claramente os nossos principais concorrentes. O governo Biden leva as transições digital e verde muito a sério, encarando-as como uma oportunidade de fortalecer a competitividade global do seu país. Enquanto os EUA estão a injetar enormes somas de dinheiro nessas transições, a Europa continua a vê-las como questões puramente regulatórias. Enquanto os EUA investem na indústria, a EU pede-lhe que salte obstáculos.

Neste verão, o Senado dos EUA propôs investimentos de 250 mil milhões de dólares, nos próximos 5 anos, ao abrigo da Lei de Inovação e Concorrência. Isso inclui 120 mil milhões para o Endless Frontier Act, que investe em investigação científica. A administração Biden também propôs investimentos sem precedentes em soluções verdes e digitais, sob o Build Back Better Bill. Mesmo que este último seja diluído no Congresso, ainda ficará demonstrado que o governo dos EUA prefere investimentos a regras.

Por mais que as novas regras da UE sejam boas – a Lei de Mercados Digitais, a Lei de Serviços Digitais e o Pacote Fit For 55 –, a nossa regulamentação não pode competir com investimentos desta magnitude. Se a Europa apenas regulamentar e não investir, vamos perder na corrida global.

Qualquer plano para a transição verde e digital da Europa só funcionará se a indústria europeia for parte integrante do mesmo. É muito importante que tratemos os objetivos verdes, digitais e industriais em pé de igualdade, uma vez que todos dependem uns dos outros. Todos esses objetivos devem ser reunidos em medidas concretas para o ecossistema industrial.

Somos a favor de metas muito ambiciosas, como alcançar a neutralidade climática até 2050. No entanto, é imperativo que permaneçamos realistas e capacitemos a nossa indústria para desenvolver tecnologia de descarbonização de primeira linha a nível mundial. Devemos garantir que as nossas metas e os nossos regulamentos não irão empurrar certos setores da indústria para outros continentes.

Salvar o planeta é uma questão urgente, mas queremos que a indústria europeia permaneça e prospere na Europa. Esta é a única forma conhecida de garantir empregos de qualidade para os nossos cidadãos e para as novas gerações. Não percamos essa perspetiva.