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Fed: entre a certeza dos juros e a incógnita da nomeação

As reuniões do Federal Open Market Committee costumam centrar as atenções, mas a desta semana está a ser ofuscada por outra questão – a iminente decisão do imprevisível Donald Trump sobre quem irá chefiar o banco central dos Estados Unidos a partir de 3 de fevereiro.
1 Novembro 2017, 09h30

A grande decisão sobre um aumento da taxa de juro de referência, a Federal Funds Rate, deverá ser adiada para dezembro. Desta reunião de dois dias da Reserva Federal (Fed) que termina esta quarta-feira deverão sair, no máximo, alguns sinais sobre o ritmo da normalização da política monetária.

“Prevemos que a Reserva Federal dos EUA mantenha a política de juros inalterada no encontro de novembro do Federal Open Market Committee (FOMC), com o objetivo para os fundos federais a manter-se nos 1-1,25%”, afirmou Franck Dixmier, global head of fixed income da Allianz Global Investors (GI).

Tal como a grande maioria dos analistas questionados pelas agências Bloomberg e Reuters, Marilyn Watson, head of global fundamental fixed income strategy da BlackRock, vê como cenário base que a Fed “permaneça no caminho de normalização ao aumentar as taxas de juro na reunião seguinte, em dezembro”.

Watson salienta, no entanto, que “todo o foco vai estar virado para a decisão do presidente Trump sobre quem será chair da Fed” a partir de fevereiro, quando o mandato atual de Janet Yellen terminar.

Powell à frente do pelotão

A expetativa é que Trump anuncie a nomeação esta quinta-feira, antes de viajar para a Ásia, pondo fim à especulação que dura há meses. O republicano fomentou o debate quando disse em abril que Yellen, com quem tinha trocado críticas durante a campanha presidencial, não está excluída da corrida, posição confirmada ainda este mês pela Casa Branca.

A democrata, que durante o mandato iniciou a reversão da politica monetária ao aumentar as taxas de juros quatro vez e ao começar a reduzir a gigantesca folha de balanços construída como resposta à crise, não é, contudo, a favorita para vencer a corrida.

“A remodelação da liderança do banco central é uma prioridade para Trump e os seus conselheiros, que querem reduzir a autoridade discricionária da Fed”, salientou Franck Dixmier, da Allianz GI. “ Na sua perspetiva, substituir a presidente Janet Yellen e o vice-presidente Stanley Fischer é um passo-chave no sentido de corrigir o alcance regulatório que estendeu as operações do banco central muito além do seu mandato”.

Além de Yellen, o leque de candidatos inclui John Taylor, economista da Universidade de Stanford, o antigo governador da Fed e diretor do Conselho Económico, Gary Cohn, e Kevin Warsh, um republicano, apoiante das políticas de impostos e de investimento de Trump.

Foi, no entanto, outro o candidato que se destacou do pelotão. No final da semana passada, fontes próximas do processo disseram às principais agências de notícias que Trump já terá decido nomear Jerome Powell para liderar a Fed.

Mandato pleno de desafios

Tal como Yellen, o advogado Powell foi nomeado para governador da Fed em 2012 por Obama, mas é republicano e tem também no currículo funções de sub-secretário do Tesouro na administração George H. W. Bush.  Powell poderá ter mais hipóteses que Yellen não só pelas ligações partidárias, mas especialmente pela postura em relação à regulamentação, segundo os analistas.

Ninguém pode acusar Donald Trump de ser previsível, portanto até ao anúncio não há certezas. Questionado pela agência Reuters sobre quem será o próximo presidente da Fed, Scott Brown, da empresa de serviços financeiros Raymond James, respondeu: “Provavelmente, dependerá do que Trump tomar ao pequeno-almoço nesse dia”.

Há, no entanto, pelo menos uma garantia: seja quem for o escolhido, vai iniciar um mandato em circunstâncias desafiantes. Terá de tentar manter a autonomia do banco central, enquanto lida com uma administração que lhe poderá querer limitar os poderes. Em termos de política monetária, terá de conjugar a necessidade de continuar o rumo da inversão com as expetativas dos mercados, num contexto no qual a subida da inflação deverá permanecer teimosamente lenta.

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