A previsão é unânime entre os economistas, a Reserva Federal dos Estados Unidos deverá anunciar hoje ao final da tarde uma subida nas taxas de juros, de 25 pontos base, a primeira desde dezembro do ano passado e apenas a segunda desde 2006.
Com esta certeza, as atenções dos economistas e dos mercados estão centradas no ‘dot plot’, ou mapa de pontos que mostra as previsões das taxas de juros feitas pelos 17 membros do Federal Open Market Committee (FOMC) e que deverá dar os primeiros sinais sobre os próximos passos que o banco central dos Estados Unidos poderá tomar.
O gráfico, que foi publicado pela primeira vez em 2012, em setembro deste ano colocava a projeção mediana – partilhada por nove decisores – em dois aumentos para 2017, muito mais suave do que as anteriores previsões para quatro subidas em 2016 e mais quatro no próximo ano. A Fed foi cortando as previsões durante este ano, devido à turbulência nos mercados financeiros, receios sobre o crescimento da economia global e baixas expectativas em relação à inflação.
A conjuntura política e dos mercados nos Estados Unidos mudou, contudo, de forma dramática desde esse último ‘dot plot’ de setembro. O magnata republicano Donald Trump foi eleito, inesperadamente, à Casa Branca a 8 de novembro. Os índices em Wall Street dispararam para máximos históricos, com os investidores entusiasmados com as promessas sobre cortes nos impostos e mais investimento nas infraestruturas. A taxa da dívida dos Estados Unidos a 10 anos está nos 2,45%, face a 1,83% no início de novembro.
Apesar destas mudanças, quase paradigmáticas, os economistas prevêem ainda que a Fed só aumente as taxas duas vezes em 2017, com a discussão centrada sobre o ‘timing’, com o banco central a aguardar a implementação das medidas prometidas por Trump antes de mudar o rumo da política monetária. Na sondagem da Bloomberg, a probabilidade do próximo aumento ser em junho é de 35%, enquanto março representa uma hipótese de 25% e novembro 12%.
“É possível que eles (os membros da Fed) retirem, a prazo, um bocado da retórica sobre o ‘gradualismo’, disse Laura Rosner, economista do BNP Paribas em Nova Iorque, à Bloomberg. “Mas março parece cedo demais. A Fed demorou muito tempo a concluir que estamos num mundo de baixa inflação e taxas e eu não espero que a avaliação mude rapidamente”.
A reunião de dois dias dos líderes da Reserva Federal em Washington termina com um comunicado às 19h00 seguido de uma conferência de imprensa com a presidente, Janet Yellen. O leque de temas que Yellen terá de cobrir é alargado – desde as decisões tomadas na reunião, aos riscos que a Fed vê nos planos de Trump, e a sua própria eventual substituição em março de 2018.
Trump criticou Yellen várias vezes durante a campanha presidencial, acusando a presidente do banco central de manter as taxas baixas para ajudar a candidata democrata, Hillary Clinton. A reação do presidente-eleito à decisão e aos comentários de Yellen também deverá ser amplamente analisada pelos mercados.
“Há um risco real que ele (Trump) poderá ser abertamente crítico sobre a decisão de aumentar a taxa de juros,” disse Paul Ashworth, economista na Capital Economics, à Reuters, adiantando que isso poderá perturbar os mercados e levar a perguntas sobre se Trump irá dar independência à Fed ou se vai romper com a tradição e tentar influenciar as decisões.
“Se permanecer silencioso após o anúncio, podemos começar a acreditar que vai ser ‘business as usual’ para a Fed,” concluiu Ashworth.
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