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Fenprof: “rankings de escolas são, mais do que nunca, uma farsa”

A maior federação de sindicatos de professores do país criticou violentamente esta sexta-feira a insistência na publicação das listas e a disponibilização dos dados por parte do Ministério da Educação, o promotor da farsa, sobretudo num ano de pandemia que pôs a nu graves desigualdades sociais entre os alunos.
  • José Sena Goulão/Lusa
21 Maio 2021, 12h44

A Federação Nacional de Professores criticou, mais uma vez, esta sexta-feira, 21 de maio, a prática dos rankings que se repete ano após ano, mas este ano com uma razão acrescida: a pandemia.

“A Fenprof lamenta profundamente que em tempo de pandemia, que levou à aprovação de tantas medidas excecionais, nos mais diversos domínios (na Educação, foram, até, suspensos alguns exames, provas finais e provas de aferição), o Ministério da Educação tenha disponibilizado os dados que levaram à elaboração de listas ordenadas das supostas melhores e piores escolas secundárias, associando-se a mais um dos muitos ataques que são desferidos à escola pública”.

Os rankings foram divulgados à primeira hora desta sexta-feira, 21 de maio.

“Mistificadora e demagógica”, assim classifica a maior estrutura sindical do país catalogação das escolas em “boas” e “más”, “melhores ou piores”, o que é uma “enorme injustiça para o trabalho desenvolvido em cada uma delas por docentes, não docentes e alunos”.

“Toda esta propaganda – bem do agrado de colégios privados e de alguma imprensa (…) não facilita, antes dificulta o trabalho das escolas, em particular das que, encontrando-se em zonas de maior complexidade social, são rotuladas de piores”, afirma a estrutura liderada por Mário Nogueira em comunicado enviado às redações.

Na perspetiva da Fenprof, os rankings servem somente para confundir a opinião pública e as famílias, com “informação redutora, parcelar e distorcida”, um “rótulo” que não só “não constitui um estímulo para essas escolas”, mas antes “as torna alvo de discriminação, desmoralizando alunos, professores e pais”.

Os rankings de escolas em Portugal nasceram em 2001, “precisamente no mês em que o País de Gales anunciava que iria abandonar a sua divulgação”, lembra a Fenprof. Salienta que em 2004, o CIPES (Centro de Investigação das Políticas do Ensino Superior, da Fundação das Universidades Portuguesas), no estudo “Um Olhar sobre os Rankings”, assinalava “muitas das deficiências da seriação que é feita, considerando a sua divulgação como uma ‘calamidade pública’”. E que m 2005, durante a apresentação de um estudo no âmbito do Programa AVES (Avaliação de Escolas com Ensino Secundário), os investigadores criticaram a organização dos rankings, por constituírem a imagem mais ‘liofilizada e ignorante’ que se pode ter sobre o que é uma escola.

“Se a divulgação dos rankings foi sempre muito injusta, este ano ela torna-se ainda mais perversa”, afirma a Fenprof, justificando: “os resultados considerados foram obtidos após meses de ensino a distância, em que, como é consensualmente reconhecido, dispararam as desigualdades, com muitos alunos sem condições para acompanharem as aulas remotas, por falta de equipamentos, de acesso à Internet ou de apoio adequado para superar dificuldades, incluindo a falta de autonomia digital”. E salienta: “esses são os alunos que não frequentam os colégios privados, que ocupam os primeiros lugares do catálogo, não só por falta de condições financeiras das famílias, mas, também, por neles serem recusados”.

 

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