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Filipinas: contexto socioeconómico conturbado cria terreno fértil para o Daesh

Os avanços do autoproclamado Estado Islâmico nas Filipinas despertaram a atenção internacional depois de na quinta-feira um complexo turístico na capital do país, Manila, ter sido alvo de um tiroteio que causou a morte de 36 pessoas.
  • Romeo Ranoco/REUTERS
3 Junho 2017, 16h27

A perder território na Síria e no Iraque, o grupo terrorista autoproclamado Estado Islâmico começa a virar-se para novos alvos no Sudeste Asiático, a fim levar a sua mensagem extremista a áreas onde o contexto socioeconómico criou terreno fértil para o terrorismo. Mindanao, no sul das Filipinas, tem sido nas últimas semanas palco de inúmeros confrontos, depois de o grupo terrorista Abu Sayyaf ter assumido lealdade ao Daesh e reiterado o compromisso de criar um reduto da organização em território filipino.

A província de Mindanao é uma das mais pobres das Filipinas, mas é lá que se concentra uma população muçulmana dominante num país maioritariamente católico e empobrecido. Esta é também um região onde o contrabando de armas de droga e os movimentos separatistas ganharam lugar. Talvez por isso, o autoproclamado Estado Islâmico tenha visto em Mindanao o local ideal para propagar a sua interpretação radical da sharia, a lei islâmica, e ao que tudo indica, parece ter conseguido.

Recentemente o grupo terrorista filipino Abu Sayyaf reforçou o apoio ao Daesh e passou a adotar visão mais radical dos preceitos que persegue. À conta disso, Isnilon Hapilon, o líder escolhido pelo autoproclamado Estado Islâmico para as Filipinas, figura já entre os homens mais procurados pelos serviços de investigação dos Estados Unidos.

“[O presidente das Filipinas, Rodrigo] Duterte e o seu governo não conseguem precisar porque é que esta mudança está a acontecer em Mindanao. Estes homens não são apenas motivados pelas políticas dos grupos criminosos ou dinheiro”, explica ao jornal britânico ‘The Guardian’ a diretora do Instituto de Análise Política dos Conflitos em Jacarta, Sidney Jones.

Sidney Jones explica que os novos apoiantes do Daesh eram “ladrões ou rebeldes sem causa no passado, mas agora perseguem fundamentos ideológicos”. “Foram convencidos pelo autoproclamado Estado Islâmico de que a resposta para os problemas de Mindanao é a lei islâmica [sharia]”, acrescenta.

A ação do autoproclamado Estado Islâmico nas Filipinas despertou a atenção internacional, depois de na quinta-feira um complexo turístico na capital do país, Manila, ter sido alvo de um tiroteio que causou a morte de 36 pessoas. O autor do ataque, que mais tarde viria a ser reinvindicado pelo grupo terrorista, disparou a matar contra dezenas de pessoas e terá incendiado um casino popularmente frequentado por turistas.

Para responder à onda de conflitos que disparam nas últimas semanas, o presidente filipino pôs em marcha na segunda-feira um contingente militar para travar as forças terroristas na cidade de Marawi, mas os combates por terra e ataques aéreos não têm surtido grande efeito. As autoridades indicam que o conflito já gerou mais de 60 mil deslocados internos no país.

Um relatório divulgado pelo ministro da Defesa filipinio, Delfin Lorenzana, indica que 89 militares fiéis regime de Rodrigo Duterte terão morrido, desde o início dos confrontos armados, e os rebeldes islâmicos continuam a resistir em força.

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