O filme sul-coreano “Parasitas” e o seu realizador e co-argumentista Bong Joon-ho foram os grandes vencedores da 92.ª cerimónia de entrega dos Óscares, conquistando quatro estatuetas douradas, entre as quais as de Melhor Filme e de Melhor Realização.
Moments after winning Best Picture, cast and filmmakers from @ParasiteMovie stop by the #Oscars Thank You Cam. pic.twitter.com/ckyhJkvIFD
— The Academy (@TheAcademy) February 10, 2020
Sempre acompanhado por uma tradutora, Bong Joon-ho subiu quatro vezes ao palco do Dolby Theatre, em Los Angeles, onde a entrega dos prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood decorreu na noite de domingo, quando já era madrugada de segunda-feira em Portugal. Apesar de ser um dos contemplados com o prémio principal, na qualidade de produtor de “Parasitas”, o cineasta nascido há 50 anos em Daegu não tomou a palavra, deixando os discursos de agradecimento para a outra produtora e para uma das atrizes do elenco do thriller que mostra como uma família de fura-vidas consegue insinuar-se na casa e na vida de um casal abastado.
Mas poucos minutos antes deixara definitivamente a sua marca ao receber a estatueta dourada na categoria de Melhor Realização. Com ajuda da tradutora que foi a sua sombra ao longo da cerimónia, Bong Joon-ho recebeu o terceiro de quatro Óscares enquanto desabafava que pensava “que já tinha o dia feito e podia começar a relaxar” e dirigiu-se aos restantes nomeados. Para Martin Scorsese, cujo “The Irishman” não obteve nenhum prémio, pediu uma ovação, recordando que estudou os filmes do norte-americano quando estava a tirar o curso de Cinema. Também agradeceu a Quentin Tarantino por divulgar os seus filmes quando ainda não eram conhecidos nos Estados Unidos, e não esqueceu Sam Mendes e Todd Phillips, garantindo que “se a Academia deixasse, gostaria de cortar a estatueta em cinco com uma serra elétrica”.
Também vencedor na categoria de Melhor Filme Internacional (nova designação da categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira), Bong Joon-ho expressou a sua alegria por ser o primeiro a receber o prémio após a alteração, apoiando “o novo rumo que a mudança de nome simboliza”. E pediu à tradutora para informar os presentes na sala, e os muitos milhões que seguiam a transmissão televisiva em todo o mundo, que iria “começar a beber”, acreditando ainda que só carregaria uma estatueta dourada em cada mão. Isto porque, logo no início da noite, recebera o Óscar de Melhor Argumento Original.
Menos politizada do que o habitual
Além do inédito triunfo do cinema asiático, a 92.ª edição dos Óscares ficou marcada pela relativa escassez de discursos políticos na hora de agradecer as distinções da Academia. A grande exceção foi Joaquin Phoenix, que confirmou o favoritismo na categoria de Melhor Ator Principal, pela interpretação da personagem que dá título ao filme “Joker”. “Quer estejamos a falar de desigualdade de género, de racismo, de direitos dos homossexuais, ou dos povos indígenas, ou dos animais, trata-se da luta contra as injustiças. Trata-se da luta contra a crença de que uma nação, uma raça, um género ou uma espécie têm o direito de dominar, controlar e utilizar os outros de forma impune”, disse o ator, criticando a “visão do mundo egocêntrica” que leva muitos a considerarem-se “o centro do universo” e a “pilharem os recursos naturais”.
Mais otimista, Renée Zellweger aceitou o Óscar de Melhor Atriz Principal por “Judy”, filme biográfico em que interpreta a estrela de Hollywood Judy Garland, dizendo que “quando celebramos os nossos heróis lembramo-nos de que valemos mais quando estamos unidos”. As restantes estatuetas douradas nas categorias de representação foram entregues a Laura Dern, Melhor Atriz Secundária por “Marriage Story” – uma das raras vitórias da noite para a Netflix, que tivera mais nomeações do que qualquer estúdio de Hollywood -, e a Brad Pitt, Melhor Ator Secundário por “Era uma Vez em Hollywood”.
Tanto “Joker”, que era o filme com maior número de nomeações (11), como “1917”, que vinha logo a seguir, com 10, tiveram uma noite agridoce no Dolby Theatre. Além de Joaquin Phoenix, a longa-metragem sobre as origens do rival de Batman só venceu na categoria de Melhor Banda Sonora (a islandesa Hildur Gudnadóttir tornou-se a terceira mulher a triunfar nesta categoria), enquanto o épico passado nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial ficou por três Óscares, nas categorias de Fotografia, Efeitos Visuais e Mistura de Som.
“Toy Story 4” recebeu o Óscar de Melhor Longa-Metragem de Animação, “Jojo Rabbit” valeu a estatueta dourada de Argumento Adaptado a Taika Waititi (que também interpreta Adolf Hitler, amigo imaginário do rapaz que dá título à comédia dramática) e Elton John mereceu o Óscar de Melhor Canção Original por “(I’m Gonna) Love me Again”, da banda sonora do filme autobiográfico “Rocketman”. Entre outras atuações ao vivo durante a cerimónia que voltou a não ter um apresentador principal destacaram-se as de Billie Eilish, que cantou “Yesterday” durante o segmento que recordou as figuras da sétima arte falecidas nos últimos meses, e Eminem, que com quase duas décadas de atraso interpretou “Lose Yourself”, tema do filme “8 Mile” que lhe valeu a estatueta dourada em 2003.