Há 25 anos, um jovem com formação em Física tentava que alguém no mercado de trabalho compreendesse que tinha competências para singrar no mundo da informática e, particularmente, nas finanças. Vivíamos ainda num Portugal demasiado tradicional em que se achava que o curso que se tirava servia para delimitar uma carreira e para determinar o futuro.

A sorte, muita sorte, e ajuda de amigos fez com que eu entrasse nesse mercado e se abrissem as portas da gestão de um dos maiores ‘players’ do mercado nacional. Isso exigiu de mim, e das pessoas que em mim confiaram, um enorme investimento, porque nunca é fácil partir de trás para ganhar. Digo, se me permitem a imodéstia, que o investimento não é para todos.

É neste sentido que defendo que o programa Estágios-Emprego do IEFP foi uma das melhores medidas na área económica do governo português nos últimos 20 anos. Tendo a experiência, a empresa onde trabalho foi, e continua a ser, um utilizador do programa para conseguir fazer esse investimento em jovens cuja formação não é de emprego “automático”. E, até hoje, a percentagem de jovens a quem demos experiência e que ficaram na empresa é esmagadora; sendo que os que não ficaram foram quase todos por opção própria.

Encarei, por isso, com desagrado, a notícia de que o Governo iria fazer alterações substanciais ao programa com base em críticas de apoio à precariedade e tolices do género. Quando os nossos filhos escolhem uma formação universitária (ou não), tanto eles como nós, contribuintes, investimos nessa formação com base na informação que temos hoje. Isto é, passível de erro. Daqui a quatro ou oito anos, o país será uma coisa completamente diferente. Podemos acertar ou podemos errar completamente.

O programa Estágios-Emprego tinha o mérito de aproveitar essa formação feita nos moldes tradicionais e de redirecioná-la num âmbito substancialmente diferente. Ainda que, por absurdo, todos os estagiários não fossem contratados passados os nove meses de estágio, o mercado de trabalho ganharia com a nova experiência que agora é adicionada à formação que já pagámos.

O que está em causa, em termos financeiros, é um montante irrisório quando comparado com o investimento feito originalmente na educação destes jovens e que se perde para sempre se estes forem buscar esses investidores no estrangeiro em economias mais avançadas e, consequentemente, menos tradicionalistas no mapeamento entre formação e carreira. Mas mais gravosa parece a forma como se reagiu a críticas populistas. É facílimo pegar em dois ou três casos que correram pior, de jovens que entraram no programa e cuja experiência não foi positiva, e criticar um programa como um todo. Até porque, e isto estou certo, mesmo nos casos que correram extremamente mal, os jovens têm mais possibilidades de ter uma carreira depois desses nove meses do que aquelas que tinham antes.

A forma como as regras foram alteradas parece responder mais a eventuais proveitos ilícitos de uma ou duas empresas que aos benefícios que os jovens possam ter. E, perante a eventualidade de haver um par de pessoas que abusem, compromete-se algo que beneficia milhares e, no fim, a economia como um agregado. Este tipo de “filosofia de vizinha do lado”, que prefere deixar suja a entrada comum a limpá-la com o risco de beneficiar de forma ilícita um vizinho que não limpa, tem sempre maus resultados. Pode dar uma satisfação mesquinha, mas é sempre preferível beneficiar os filhos de todos, mesmo que apareça um oportunista a prejudicar todos por igual.