A recente escala da inflação, já acima dos 5% na Europa, não marca o fim do ciclo do dinheiro barato, mas marca o fim de um ciclo de taxas de juro negativas.

Os principais responsáveis por esta subida têm sido o custo da energia, que aumentou 28,6% e é responsável por 50% da inflação, a par dos bens alimentares (+3,6%) e dos serviços (+2,4%).

O preço do petróleo e do gás manteve-se muito elevado em janeiro, devido à procura e à incerteza do conflito entre Rússia e Ucrânia.

Sendo a energia uma componente importante dos custos individuais, das indústrias e da economia em geral, começamos a sentir o efeito bola de neve com o aumento de custos a serem repassados em cadeia, nos bens e serviços para o consumidor.

Com excepção da China, os maiores bancos centrais já iniciaram a subida das taxas de juro ou estão a preparar o mercado para o que será o início de um ciclo de subida dos juros. O Banco de Inglaterra subiu duas vezes as taxas de juro e quatro membros defendiam subidas mais agressivas, uma vez que se perspectiva que a inflação possa atingir os 7% ainda durante o primeiro semestre de 2022.

Quem também quer manter todas as opções em aberto é a Reserva Federal norte-americana, uma vez que não descarta até sete subidas de taxas de juro este ano, bem como subidas mais expressivas de 0,5%.

O Banco Central Europeu (BCE) começa também a estar fortemente pressionado. Por um lado, tem como objectivo principal manter a inflação próxima  dos 2%, mas, por outro lado, comprometeu-se a fazer tudo para salvar e manter a estabilidade e coesão do euro, evitando uma nova crise de dívida.

Nas últimas semanas, os mercados financeiros têm mostrado algumas preocupações  visíveis na subida expressiva das taxas de juro a dez anos da Itália e da Grécia. Estes países irão estar no epicentro das preocupações do BCE e condicionar a velocidade da subida dos juros na zona euro.

Apesar da gestão de expectativas por Christine Lagarde, o mercado está já a incorporar até três subidas de 0,1% cada em 2022 por parte do BCE. Em 2023, teremos as taxas Euribor a seis e doze meses, que são a referência para os créditos à habitação, em terreno positivo pela primeira vez desde 2015. Esta inversão nas taxas significa um agravamento dos custos com financiamento e contribui para a diminuição do rendimento das famílias, com impacto no consumo e no PIB.

A atual crise inflacionária é perigosa, uma vez que tem origem numa subida dos preços da energia que criam um aumento na desigualdade, que apenas pode ser combatida por um aumento da oferta. A subida dos juros neste contexto poderá apenas abrandar as expectativas de consumo mas não a escassez dos produtos, tal como não irá resolver os constrangimentos ao nível do escoamento dos bens. Uma subida demasiado rápida, por sua vez, poderá pôr em causa a recuperação económica e a capacidade de financiamento dos governos, bem como os custos com a dívida.

Um erro na gestão deste fim de ciclo é o suficiente para uma recessão e o regresso da incerteza quanto à estabilidade da zona euro.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.