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“Fim de linha” de “compromisso histórico”. Geringonça em Portugal está desgastada, avisa Financial Times

A conhecida publicação britânica destaca as votações para o Orçamento do Estado, em que BE e PCP votaram frequentemente junto da direita, sendo que a aprovação do documento fez-se apenas por três votos e com a abstenção do PCP.
  • Flickr/PS
21 Dezembro 2020, 13h23

O Financial Times (FT) antecipa o fim da geringonça que tem permitido ao PS e a António Costa governar Portugal nos últimos anos, falando em “fim de linha” para o “compromisso histórico” que ligou os socialistas à ala mais radical da esquerda nacional.

Para a prestigiada publicação britânica, as posições assumidas pelo BE e pelo PCP nas votações do Orçamento do Estado para 2021 (OE2021) colocam o Governo numa posição fragilizada e que dificulta a permanência no médio-prazo do executivo socialista no poder.

Reconhecendo a atenção com que era seguido o acordo de governação firmado por António Costa em 2015 pelo resto do centro-esquerda europeu, o FT destaca também que o segundo mandato já não foi iniciado com um pacto semelhante, sendo as medidas discutidas avulso.

Assim, as “profundas diferenças ideológicas” que foram colocadas de parte na promoção de uma agenda anti-austeridade no primeiro mandato estão agora a vir ao de cima, com os partidos de esquerda a pedirem mais gastos públicos e proteção social, ao passo que o PS se mantém focado na estabilidade financeira do país.

O FT sublinha que o voto contra do BE na generalidade do OE2021 é um bom exemplo do tipo de “oportunidades para os partidos à esquerda e direita de marcarem posições e procurarem ganhar pontos para as próximas eleições”, como explica Paula do Espírito Santo, professora de ciência política na Universidade de Lisboa. A aprovação do documento, que se fez apenas por três votos, implicou cedências por parte do Governo à agenda comunista em troca da abstenção dos deputados do PCP e, ainda assim, o OE final incluiu 82 alterações aprovadas contra a vontade do executivo.

Outro facto relevante foi o chumbo às injeções de capital no Novo Banco, em que os antigos parceiros da geringonça votaram ao lado do PSD, infligindo uma pesada derrota ao Governo que obrigou mesmo António Costa a garantir a Bruxelas que o país pretende honrar os seus compromissos financeiros.

Ainda assim, a Presidência portuguesa da União Europeia deverá travar qualquer crise política até ao verão. Depois disso, e de acordo com uma fonte anónima próxima da oposição, as eleições autárquicas de novembro poderão dar o mote para umas legislativas antecipadas.

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