1. As linhas de financiamento às empresas estão praticamente esgotadas e muitas delas ainda nem sequer receberam respostas ao lay-off. Aquilo que está a chocar o cidadão comum é que se percebe que grandes empresas multinacionais e exportadoras estão a usar o lay-off – um instrumento que em última análise serve para evitar despedimentos – quando não têm crises de liquidez, continuam a gerar cash flow e apresentam rácios muitos confortáveis.

O choque é ainda maior quando se percebe que este tipo de empresas coloca centenas de colaboradores em casa, subsidiados por dinheiros públicos, e que são estas mesmas empresas as primeiras a receber os financiamentos das linhas de crédito criadas para fazer frente ao atual período pandémico.

E tudo acontece porque os critérios de atribuição de subsídios são os mesmos de sempre: primeiro estão as empresas com bons rácios, afinal aquelas que nem precisavam, e que – eventualmente – até poderão contar com algum “amiguismo”. As outras não cumprem critérios, têm relações difíceis ou tensas e ficam à margem. Acreditamos que seja um desespero total.

Estamos perante um inimaginável paradoxo: as melhores empresas recebem empréstimos quando podiam viver sem eles, e as melhores empresas recebem o benefício a fundo perdido do lay-off quando podiam trabalhar sem esse encargo suplementar para os dinheiros públicos. Sempre acreditámos que o lay-off seria para empresas que perderam o mercado, como a TAP ou a hotelaria e a restauração, e não para as grandes exportadoras.

Para a Segurança Social, os limites criados a empresas em dificuldades que têm salários em atraso ou não têm contribuições em dia, terão como resultado o engrossar das hordas de desempregados cujo número se aproxima perigosamente das 400 mil pessoas, 10% da mão de obra ativa. Ética e política não jogam no mesmo tabuleiro.

2. Perdão de rendas comerciais. A CCP – Confederação de Comércio e Serviços propôs o perdão de rendas para atividades que estiveram encerradas e suspensas durante o período de confinamento, mas ficou “a falar sozinha”. Do lado dos senhorios a resposta foi uma pergunta: porque não convidam os senhorios para a distribuição de lucros?

3. Alojamento Local (AL) de rastos. A atividade comercial de AL está a passar um mau momento, sendo que a situação acabou por complicar-se quando todos perceberam que a generalidade dos arrendamentos são para habitação e não para uma atividade comercial, pelo que existem milhares de contratos de arrendamento irregulares para AL.

Mais grave ainda é que esta tem sido uma atividade onde se lançam jovens na tentativa de gerar rendimentos, e com os turistas desaparecidos pelo efeito da Covid-19 a situação passou a dramática: os arrendatários não sabem o que fazer. A solução passa por entregar a casa ou por esperar pelos dias de verão, sendo que muitos optaram por uma terceira via nada formal: não pagar e não entregar a casa.