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Florence + The Machine. A epifania coletiva que incendiou o NOS Alive

Na segunda noite de festival, Florence Welch não poupou na energia e na emoção, sempre com os pés na terra. Literalmente descalça, como já nos habituou. Jorja Smith embalou o Sol e Alt-J embalaram o público, talvez para poupar energias para o que se espera esta sexta-feira.
8 Julho 2022, 15h22

Calor, muito calor. A respiração apertada e o suor estarão gravados na memória de quem palmilhou a plateia do NOS Alive no segundo dia do festival, esta quinta-feira. Uns porque os termómetros não deram folga, a maioria porque Florence + The Machine incendiaram o palco principal, numa missa que rapidamente se transformou num exorcismo, numa epifania coletiva e numa celebração.

No final, já nos tratávamos por ‘tu’. Florence Welch está melhor a cada passagem pelos palcos portugueses, e não há quem a consiga parar.

O fim de tarde começou-se a compor mesmo antes do lusco-fusco, com o regresso de Jorja Smith ao Passeio Marítimo de Algés. A cantora e compositora britânica já cá tinha atuado, na última edição (em 2019), mas noutro palco secundário. Estreou-se esta quinta-feira no palco principal, logo após a passagem da carismática Celeste, cujo calor e abraço atraiu o público para o foco do recinto.

Jorja Smith foi a calma antes da tempestade, por assim dizer. Os temas calmos, ora melancólicos ora alegres, combinavam com os óculos de sol, com as camisas abertas e com o extremo calor que se fez sentir no recinto. Uma mulher de sorriso fácil, de olhar fixado, embalou o público português para o que aí vinha, e que todos esperavam.

Os astros alinharam-se para Florence Welch, quase literalmente. Quando a artista e a banda que a acompanha entraram em palco, a lua anunciava-se bem laranja no céu, num pandã quase combinado com o cabelo da britânica. Lua esse que foi aparecendo nas projeções vídeo em palco. O cenário idílico estava montado, só faltava a protagonista, que rompeu pelo palco adentro, imparável como de costume, descalça e num vestido vermelho.

Não é a primeira vez dos Florence + The Machine em Portugal – e isso nota-se -, mas era a primeira vez de muitos a vê-los ao vivo. A geração mais nova, que antes de 2022 não teve festivais durante quase três anos, estranhou o pedido da artista quando esta lhes pede para pousarem os telemóveis, para olharem uns para os outros e se abraçarem. Mas lá acederam.

Foi neste desligar coletivo que Florence se ligou a todos nós, num rodopio constante e flamejante ao qual era impossível ficar indiferente. “Estamos há tanto tempo em casa, que quero que vocês deitem tudo cá para fora”, ordenou. E assim fizemos.

Depois do embaraço partilhado pelos The Strokes, torna-se mais evidente que o carismo em palco é já uma exigência. Florence não é uma amadora, nem de perto nem de longe, e em Portugal já pisou vários palcos, da Aula Magna ao NOS Alive, que ontem a voltou a receber, passando até pelo Pavilhão Atlântico, onde salvou aquela estranha edição do Super Bock Super Rock, que rapidamente se recambiou de novo para o Meco.

É uma veterana da intensidade e da dinâmica, com um leque discográfico memorável. Prova disso foi o “bonito coro” – palavras da própria – que a acompanhou ao longo da noite, em Algés.

‘Heaven is Here’ foi o tema escolhido para arrancar as odes, que contaram com temas tão conhecidos como ‘Dog Days Are Over’ ao energizante ‘What Kind of Man’. Também os hinos ‘King’ e ‘Kiss With a Fist’ ecoaram pelo recinto. “Alguns de vocês chegaram aqui hoje, bêbedos e tristes”, brinca Florence. “Vão sair daqui só bêbedos”, garantiu. Foi o melhor concerto do NOS Alive até agora? Sem bolas de cristal, que ainda faltam duas noites, mas arriscamo-nos a dizer que sim.

De testas brilhantes, fôlego recuperado, e hidratado, o público lá se recompôs da tempestuosa e alegre, por vezes emocionante, festa para receber Alt-J. A banda britânica pisou o NOS Alive pela quarta vez. Já se sentem em casa (pode ser bom, mas pode ser mau).

O início do concerto dos cabeça-de-cartaz de quinta-feira foi ingrato. Mal Florence Welch meteu os pés (literalmente) fora do palco, o plateia dispersou. Um claro sinal de ao que vinham. Mas o trio não se mostrou amedrontado, afinal, já fazem isto há tempo suficiente para saber como as coisas se dão.

A banda de Leeds tem ‘alternativo’ no nome e bem, que assim ninguém vem ao engano, não fossem os Alt-J uma das presenças mais assíduas deste festival. Um ritmo lento, que abriu caminho a temas mais animados e efervescentes, num perfeito comedown da explosão que antes tinha pisado o palco.

Ignorados por uns, que é normal quando nos habituamos demasiado à rotina de uma banda, elogiados por outros, Alt-J saíram sem grandes cerimónias do palco principal, como quem pergunta “para o ano à mesma hora?”. Veremos.

Foi nos palcos secundários que grande parte da plateia fugiu – Branko, Dino D’Santiago e outros atiraram a rede à debanda de Florence Welch e resultou.

Esta sexta-feira, espera-se uma plateia composta. Os bilhetes esgotaram, tal como para sábado, e a ementa para hoje inclui Metallica.

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