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FMI vai rever em baixa as previsões para a economia mundial

Nova presidente do Fundo Monetário Internacional alertou para o impacto das tensões comerciais na economia mundial e na receita prescrita deixou um apelo: “é preciso que a política orçamental” também faça o seu papel.
8 Outubro 2019, 15h15

O abrandamento económico a nível global irá levar o Fundo Monetário Internacional (FMI) a rever em baixa as projecções para 2019 e 2020, no World Economic Outlook, que será divulgado na próxima semana. A informação foi avançada esta terça-feira por Kristalina Georgieva, no primeiro discurso como directora da instituição, em Washington DC.

“Os números principais reflectem uma situação complexa”, admitiu a sucessora de Christine Lagarde, que admite que a expansão económica mundial deverá cair para a taxa mais baixa desde o início da década.

Kristalina Georgieva justificou que “nos Estados Unidos e na Alemanha, o desemprego está em mínimos históricos”, mas que “no entanto, nas economias avançadas, incluindo nos EUA, Japão e especialmente na zona euro, há um abrandamento da atividade económica”, apontando que “em algumas das maiores economias dos mercados emergentes, como a Índia e o Brasil, a desaceleração é ainda mais acentuada este ano” e que o crescimento chinês tem vindo a cair.

No último relatório, em julho ,a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, as tensões tecnológicas e a incerteza prolongada em torno do Brexit levaram o FMl a cortar ligeiramente as projeções de crescimento da economia mundial para 3,2% este ano e 3,5% em 2020.

A líder do FMI destacou esta terça-feira que se há dois anos a economia global vivia uma “retoma sincronizada” – com medida pelo PIB, cerca de 75% do mundo estava em aceleração -, o abrandamento ainda é o novo contexto da economia mundial.

“Em 2019, esperamos um crescimento mais lento em cerca de 90% do mundo”, realçou.

A búlgara que iniciou funções a 1 de outubro, alertou para as múltiplas “fracturas” que estão a provocar o abrandamento económico, nomeadamente as disputas comerciais. “Em parte devido às tensões comerciais, a atividade industrial mundial e o investimento têm enfraquecido substancialmente. Há o sério risco que os serviços e o consumo possam em breve ser afectados”, explicou.

“A incerteza – impulsionada pelo comércio, mas também pelo Brexit e pelas tensões geopolíticas – está a atrasar o potencial da economia”, sublinhou.

As receitas de Georgieva para enfrentar o abrandamento

À semelhança de Mário Draghi que pediu aos países da zona euro para responderem aos ventos de abrandamento através da política orçamental, a líder do FMI prescreve a mesma receita.”Se a economia global desacelerar mais acentuadamente do que o esperado, uma resposta orçamental coordenada poderá ser necessário”, referiu.

Citando Shakespeare – “melhor três horas mais demasiado cedo, do que um minuto tarde demais”-, Kristalina Georgieva apelou a uma resposta coordenada para antecipar o impacto do abrandamento.

“As políticas monetárias e financeiras não podem fazer o trabalho sozinhas. A política orçamental deve desempenhar o seu papel”, afirmou.

Numa altura em que a política monetária tem centrado atenções, a sucessora de Lagarde deixou ainda um recado sobre a importância da independência dos bancos centrais, sublinhando que esta constitui “um alicerce sólido” da política monetária.

Georgieva refere ainda que além de deverem comunicar o que pretendem fazer com clareza, os bancos centrais devem manter “onde for apropriado” as taxas de juro baixas, nomeadamente se a inflação continuar abaixo da meta e o crescimento fraco. Reconheceu, no entanto, que em vários países as taxas de juro já permanecem muito baixas ou negativas o que diminui o leque de instrumentos disponíveis para estimular a economia.

“Baixas taxas de juro de forma prolongada traz efeitos do lado negativo e consequências não intencionais”, reconheceu.

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