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“Foi apenas uma questão de negócios”. Homem envolvido no assassinato de jornalista confessa crime

Daphne Caruana Galizia morreu em outubro de 2021. George Degiorgio, um dos três homens contratados para a assassinar, disse que vai testemunhar para denunciar mais envolvimentos de empresários e políticos neste e noutros crimes.
5 Julho 2022, 18h00

George Degiorgio, o homem acusado de detonar um carro-bomba que matou a jornalista maltesa Daphne Caruana Galizia, confessou o crime em entrevista à “Reuters” e disse que em breve prestará depoimentos para implicar outros na conspiração para a assassinar, bem como abordará um plano anterior não realizado para a matar.

Nas suas primeiras declarações sobre o caso, realizadas a partir da prisão, Degiorgio disse que foi apenas uma questão de negócios” e que se soubesse mais sobre a jornalista teria pedido mais dinheiro para o fazer. “Se eu soubesse, teria pedido dez milhões e não 150 mil [euros]”, afirmou, referindo-se à quantia que disse ter recebido pelo assassinato de 2017.

Mais tarde, acrescentou: “É claro que sinto muito”. A admissão de culpa de Degiorgio ocorre após várias tentativas dos seus advogados, desde 2021, de obter perdão em troca de depoimentos sobre o papel que desempenhou no assassinato de Caruana Galizia e outros supostos crimes que envolvem figuras proeminentes da ilha.

O assassinato causou uma onda de choque na Europa. Caruana Galizia foi morta depois de ter levantado uma série de acusações de corrupção contra pessoas proeminentes, incluindo ministros do governo do Partido Trabalhista da ilha.

As autoridades maltesas acusaram Degiorgio e dois outros homens (o seu irmão Alfred e um sócio, Vince Muscat), que terão agido a mando de um importante empresário local, Yorgen Fenech.

Questionado sobre as motivações para prestar depoimentos para implicar outros na conspiração para a assassinar, bem como para abordar um plano separado, em 2015, não realizado para a matar é procurar uma redução de sentença para ele e Alfred e acrescentou: “não vamos cair sozinhos!”.

Até agora, ambos os Degiorgio tinham negado o envolvimento no assassinato, enquanto Muscat se declarou culpado em 2020, tendo sido condenado a uma pena reduzida de 15 anos de prisão em troca de testemunhar sobre este caso e alguns outros crimes.

Numa outra declaração à “Reuters” através do seu advogado, George e Alfred Degiorgio disseram que estão dispostos “a divulgar tudo” o que sabem sobre outros assassinatos, bombas e crimes “Enfatizamos que as famílias de outras vítimas também devem receber justiça.

Fenech, um dos empresários mais ricos da ilha, foi acusado em novembro de 2019 de encomendar o assassinato, mas negou a acusação, embora ainda não tenha apresentado a sua defesa. Em comunicado, o seu advogado, Gianluca Caruana Curran, disse que Fenech planeia provar no tribunal que “em nenhum momento quis, procurou ativamente ou patrocinou” o assassinato de Caruana Galizia.

Fenech foi identificado como o mentor por um suposto intermediário, o taxista Melvin Theuma, que se livrou de acusações em troca do seu testemunho, mas já em 2018 a “Reuters” e o “Times of Malta” escreveram sobre a conexão do empresário com a jornalista.

Caruana Galizia nomeou-o como proprietário de uma empresa conhecida como 17 Black que alegou, sem citar provas, que estava a ser usada para subornar políticos. Fenech também foi o diretor de um projeto controverso de usina de energia em Malta.

Para além dos crimes que envolvem a jornalista, Degiorgio disse que se ofereceria para testemunhar sobre o envolvimento de dois ex-ministros num assalto à mão armada.

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