[weglot_switcher]

“Formação permite ‘sofisticar’ o grau de especialização produtiva”, diz presidente da AEP

A formação é apenas um dos lados da questão. A outra é ter os apetrechos para reter os talentos. E nesse particular o país tem um problema – que não se resolve senão através do desenvolvimento sustentado do conjunto do território.
22 Maio 2022, 20h00

A formação de toda a cadeia de valor de uma organização empresarial é essencial ao desenvolvimento sustentado. Interessa menos o nível a que cada colaborador está que a assunção de que a formação contínua é a chave do sucesso comum. A AEP está nesse terreno desde sempre, como recorda o seu presidente, Luís Miguel Ribeiro.

Que importância atribui à formação de executivos?
A formação desde sempre assumiu um papel preponderante nas nossas empresas devido à sua capacidade transformadora em produtividade, conhecimento, inovação e competitividade. É também importante para se alcançar uma ‘sofisticação’ no grau de especialização produtiva do país, isto é, uma subida na cadeia de valor. Por todas estas razões, a formação é uma aposta clara da AEP desde a sua fundação, há 173 anos. Hoje, mais do que nunca, a aprendizagem ao longo da vida vem permitir um melhor desenvolvimento pessoal de cada trabalhador e responder às constantes mudanças de objetivos e necessidades das empresas – que procuram profissionais cada vez mais qualificados e com competências muito para além das académicas. A formação para executivos torna-se aqui, neste breve enquadramento, uma das opções mais adequadas para empresas que se queiram tornar mais competitivas, internacionais e resilientes por meio da diferenciação e potencialização do talento que integram nos seus quadros.

Como atrair talento e, principalmente, como o reter numa organização?
A atração e retenção de talento e de mão-de-obra especializada constituem aspetos cada vez mais determinantes na capacidade de atração de investimento (nacional e estrangeiro), traduzindo, assim, um vetor crucial para a atratividade económica global e para que o país possa alcançar uma trajetória de crescimento e desenvolvimento sustentado. A AEP defende uma política integrada, que deve passar, entre outros fatores, por apoiar a oferta de formação contínua e por uma atuação ao nível da carga fiscal sobre o capital e sobre o trabalho – das mais altas da OCDE – que penaliza essa a capacidade de retenção e atração de investimento e de talento.

Como?
Na tributação sobre o trabalho é necessário reduzir as contribuições sociais dos empregadores na contratação de pessoas qualificadas, bem como o IRS suportado por trabalhadores com salários relativamente mais elevados (e, portanto, mais qualificados), fortemente penalizados pela elevada progressividade deste imposto observada em Portugal, que traduz um salário líquido muito aquém do salário bruto pago pela empresa.

A transição digital (desde logo com a pandemia) trouxe maior necessidade de literacia digital da gestão?
A transformação digital é algo inevitável. A pandemia serviu apenas como ‘comburente’ para acelerar de forma extraordinária estes processos de transição digital e a necessidade das empresas investirem na literacia digital, pois de certa foram ‘obrigadas’ a terem presença no digital, ou não terem negócio de todo. As ações de formação, por sua vez, também aqui tiveram que se adaptar à realidade que vivíamos através do ajustamento das ofertas de formação e dos modelos pedagógicos. Apesar dos progressos registados na digitalização da economia portuguesa, muitas empresas ainda hoje apresentarem um grande défice no que concerne ao mundo digital.

Que resposta da parte das associações empresariais?
As associações empresariais têm uma capacidade maior de reconhecer as necessidades das empresas devido à sua proximidade com o tecido empresarial, e isto traduz-se naturalmente numa oferta formativa ajustada às reais necessidades. No caso da AEP, a associação disponibiliza uma oferta formativa diversificada pelas seguintes tipologias: Formação Cofinanciada (para ativos empregados e desempregados, Formação Executiva, Formação Empresa (in company), Formação-ação, Formação através de Parcerias Estratégicas (Cesae Digital – Centro Para o Desenvolvimento de Competências Digitais e Católica Porto Business School), Formação através de um Programa de Desenvolvimento (liderança, desenvolvimento pessoal, RGPD, entre outros) e o Centro Qualifica (qualificação e certificação de adultos). O desenvolvimento de competências pessoais e organizacionais e a promoção da excelência do capital humano traduzem o princípio orientador da atividade da AEP, que tem um dos maiores centros de formação contínua para quadros empresariais, com mais de 30 mil formandos por ano.

Os fundos europeus ajudam?
São uma importante fonte de financiamento e devem ser prioritariamente alocados à melhoria da competitividade das empresas, onde a questão da formação é essencial, valorizando o papel das associações empresariais como estruturas de interface na aplicação das políticas públicas de apoio ao tecido empresarial, designadamente no que respeita à qualificação. Desta forma, estaremos a ser mais eficazes na sua aplicação e com resultados mais próximos das reais necessidades das empresas. As empresas devem começar por fazer um diagnóstico interno sobre as necessidades de formação, envolvendo todos os níveis funcionais da empresa, para só depois os trabalhadores serem encaminhados para as melhores soluções do mercado. O upskilling e o reskilling são excelentes estratégias para responderem ao défice de competências da empresa ou quando esta identifica que é possível desenvolver o talento interno para novas funções – todavia não deixa de ser importante o alinhamento das necessidades e das expectativas de cada trabalhador e mesmo da gestão de topo.

A academia está, neste particular, alinhada com as necessidades das empresas?
Portugal tem excelentes escolas de gestão, com elevada notoriedade e prestígio internacional, que muito têm contribuído para a melhoria de competências na área da gestão. As Instituições de Ensino Superior (IES) começam atualmente a estarem mais alinhadas com as necessidades das empresas, mas basta ver que no ano passado existiram quase 40 cursos do ensino superior que não tiveram qualquer aluno colocado para nos apercebermos do claro desajustamento das necessidades empresariais locais e dos cursos existentes. Os sucessivos relatórios de inovação a nível europeu mostram consistentemente o baixo impacto económico do conhecimento gerado pela academia.

Considera que as empresas estão suficientemente despertas para esta realidade?
Nem sempre, sobretudo as de menor dimensão.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.