Passada a primeira crise política associada ao período eleitoral em que a França se encontra – com a vitória de Emmanuel Macron sobre a candidata de extrema-direita Marine Le Pen – segue agora o seu curso a segunda crise, que tem diretamente a ver com as eleições parlamentares que ocorrerão em junho. Com uma vitória bem menos sumarenta que há cinco anos, os partidários de Macron sabem que é possível que venham a ter de partilhar o próximo governo com outras forças políticas. E essas forças, num quadro em que os republicanos gaulistas não estão no seu melhor momento, pode pender para esquerda, onde Jean-Luc Mélenchon não deixará de pontificar.
Neste contexto, e tal como sucede noutras geografias, a esquerda francesa está, segundo os jornais gauleses, a entrar em confrontação – uma vez que as várias fações, que não conseguiram uma união que poderia ter levado Mélenchon à segunda volta das presidenciais, continuam a digladiar-se.
As discussões estão acelerando e endurecendo na esquerda, com vista a um possível acordo para as eleições legislativas. Enquanto o França Insubmissa (LFI), de Mélenchon, e o Partido Socialista (‘desaparecido’ nas presidenciais) iniciaram negociações na manhã desta quarta-feira, a situação tornou-se tensa com os ambientalistas do EELV (Europa Ecológica).
Em um comunicado de imprensa divulgado há poucas horas, o LFI critica que “durante quarenta e oito horas vários líderes da EELV reconsideraram publicamente os importantes compromissos programáticos assumidos pela sua direção durante a nossa primeira reunião em 21 de abril”. “A partir de agora, a EELV não está mais claramente comprometida com a reforma aos 60 anos para todos, com o congelamento dos preços dos combustíveis e com a aplicação do princípio da desobediência na Europa, quando tudo isso é essencial para aplicar o nosso programa”, lamenta o LFI.
Entretanto, o líder da EELV, Julien Bayou, e a porta-voz do partido ambientalista, Eva Sas, responderam ponto a ponto a essas acusações. E dizem que continuam a concordar com a reforma aos 60 anos e com o bloqueio dos preços dos combustíveis “se isso for temporário”, mas propõem colocar o princípio da desobediência na Europa “fora do acordo”. “Não é uma linha vermelha absoluta, mas não pode levar a uma saída da União, nem a uma União à la carte”.
Enquanto as duas formações dirimem as suas desavenças, ganha cada vez mais força uma reunião entre ambos, mas alargada aos socialistas e aos comunistas do PCF. Para Julien Bayou, este encontro a quatro é “é muito desejável”.