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Futurama: o festival que cruza tradição e modernidade no Baixo Alentejo

O Festival Futurama está de volta para a 2ª edição. Primeira paragem, Mértola, nos dias 3 e 4 de junho. Segue, depois, para Castro Verde e Beja, e leva música, artes visuais e performances na bagagem.
2 Junho 2023, 13h32

Os concelhos alentejanos de Mértola, Castro Verde e Beja querem “colocar em diálogo educação e artes, criação contemporânea e tradição”, como sublinha John Romão, diretor artístico do festival, cruzando tradições e modernidade. É, também, “um ponto de encontro e de travessia entre territórios artísticos, o património cultural e natural e os diferentes públicos e gerações que estruturam a identidade cultural do Baixo Alentejo”, realça a organização.

O Festival Futurama 2023 quer dar a conhecer projetos que foram sendo desenvolvidos ao longo do ano, entre artistas e comunidades locais, entre artistas e jovens estudantes de escolas secundárias e superiores, entre escritores, compositores e grupos de Cante Alentejano, com vista a fomentar uma maior proximidade entre comunidades.

Objetivo que se vê plasmado no concerto que, dia 3 de junho, vai ter como palco a Igreja Matriz de Mértola, onde se apresenta o “Cantexto”, projeto original do Futurama – Ecossistema Cultural e Artístico do Baixo Alentejo, para dar a conhecer novas composições que passaram a integrar o repertório do Cante Alentejano, classificado como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO.

A iniciativa resulta de textos encomendados a escritores portugueses contemporâneos, posteriormente musicados para os grupos corais por Ana Santos, Celina da Piedade e Paulo Ribeiro, no sentido de atualizar os temas mais presentes nas poesias orais do Cante – a vida rural, o amor, a religião –, que agora se cruzam com preocupações e contextos contemporâneos, como o futuro, a natureza, a memória e as migrações.

O público terá assim a oportunidade de ouvir as criações literárias de Ondjaki, Isabela Figueiredo, Afonso Cruz, Joana Bértholo, Richard Zimler, Regina Guimarães e Marta Pais de Oliveira, pelas vozes de Rosinhas do Loredo, Cantadores de Beringel, Ceifeiras de Pias, Grupo Coral e Etnográfico de Vila Nova de São Bento, Cardadores da Sete, Grupo Coral da Mina de S. Domingos e Grupo Coral da Vidigueira.

Ainda em Mértola, poderá assistir à apresentação de uma criação performativa entre John Romão e jovens atletas do Clube Náutico de Mértola, naquela que será “uma exploração poética da adolescência”, enquanto em Castro Verde o Colectivo Til dará a conhecer uma instalação em espaço público, criada com a comunidade local.

Também em Castro Verde, a Basílica Real recebe, no dia 10 de junho, às 22h00, a peça “Romance”, de Lígia Soares, que pretende criar laços entre o espetador e o performer através do “pedir a palavra”, funcionando também como um dispositivo de diálogo entre a assistência. Falar com as palavras de outro será o desafio lançado pela autora.

Rumando a Beja, no dia 16 de junho, às 16h00, aquela que é considerada uma das pioneiras do movimento da Nova Dança Portuguesa, Clara Andermatt, orienta um workshop de dança para adolescentes residentes no Bairro das Pedreiras, em Beja, a que chamou “Baila comigo como se baila na tribo”. Objetivo? Realizarem, em conjunto, uma coreografia que integre diversas linguagens, vontades e energias. E música, claro.

A programação é mais alargada em Beja, e contempla ainda a instalação “Insularidade”, criada por Jacira da Conceição e exposta na Igreja de Santo Amaro. Jacira nasceu na Ilha de Santiago, Cabo Verde, e desde 2017 que vive e trabalha em Montemor-o-Novo, Portugal. Diz-nos que o seu corpo é uma ilha, e cita Simone de Beauvoir: “ser livre é também querer os outros”. Eis a luta de Jacira da Conceição, ceramista, escultora e artista visual, que se dedica a pensar sobre a importância do ser mulher e da utopia como motores de revolução social e cultural.

Dias 16 e 17 de junho prometem agitar Beja, com os vários espetáculos previstos, mas deixamos algumas pistas sobre a proposta da dupla brasileira que encerra o Futurama 2023, “Trypas Corassão”, que, às 23h00, vai encher de boas vibes o Jardim Público da cidade. As artistas Tita Maravilha e Cigarra, baseadas em Lisboa, descem a Beja para aquecer a pista com o seu “pout pourri funk alucinação”, um projeto estético e político de criação híbrida entre música eletrónica e performance.

Ao longo de três fins de semana, Mértola, Castro Verde e Beja vão trazer o passado para o futuro através da experimentação e do diálogo. E reforçar laços entre estes territórios, tendo presente a missão inerente ao projeto Futurama – Ecossistema Cultural e Artístico do Baixo Alentejo: pôr em diálogo educação e artes, criação contemporânea e tradição.

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