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Galp já perdeu 5,73 mil milhões em bolsa nos últimos dois meses

A empresa presidida por Paula Amorim e gerida por Carlos Gomes da Silva tem vindo a sofrer quedas de cotação em bolsa ao longo das semanas em que o novo coronavírus se tornou numa pandemia.
13 Março 2020, 09h34

A capitalização bolsista da Galp perdeu 5,73 mil milhões de euros entre 8 de janeiro e 12 de março de 2020, por efeito da queda da cotação deste título na bolsa, que passou, respetivamente, de 15,6 para 8,69 euros por ação. A 8 de janeiro a Galp tinha uma capitalização bolsista de 12,93 mil milhões de euros, mas esta quinta-feira, 12 de março o seu valor de mercado ficou-se pelos 7,20 mil milhões de euros. Este foi o comportamento da ação da Galp durante os meses de propagação mundial da epidemia de coronavírus – até à declaração de pandemia pelo Covid-19, assumida pela Organização Mundial de Saúde.

Há diversos indicadores que podem explicar a redução do valor da Galp em bolsa, mas os especialistas nas empresas do sector – contactados pelo Jornal Económico – consideram que o mais relevante é o que monitoriza a cotação internacional do petróleo, em particular a cotação do Brent do mar do norte.

Nos dois últimos meses, a cotação do petróleo refletiu o abrandamento da atividade económica mundial, com especial incidência no consumo de combustíveis pelos transportes aéreo e marítimo (sobretudo ao nível dos cruzeiros turísticos).

Assim, entre 8 de janeiro e 12 de março de 2020, a cotação dos futuros de Brent caiu 32,78 dólares por barril, passando, respetivamente, de 65,44 para 32,66 dólares por barril.

No entanto, a queda do valor bolsita da Galp não começou com a crise do coronavírus. Se for alargado o período de análise relativo ao valor bolsista da empresa presidida por Paula Amorim, nota-se que a 28 de agosto de 2018 a Galp era negociada a 17,84 euros por ação, o que correspondia a uma capitalização bolsista de 14,79 mil milhões de euros. Ou seja, o seu valor atual reflete uma perda de 7,58 mil milhões de euros face à capitalização registada no final de agosto de 2018. Isto significa que o valor que a Galp perdeu em bolsa em pouco mais de ano e meio já ultrapassa o seu atual valor de mercado.

Neste enquadramento, o presidente executivo (CEO) da Galp, Carlos Gomes da Silva, reafirmava, a 18 de fevereiro, em Londres, durante o “Capital Market Day”, que a sua empresa manteria o compromisso de desenvolver a atividade de exploração e produção de petróleo. Apesar de, em 18 de fevereiro, a cotação do petróleo Brent já ter caído para 57,5 dólares por barril (inferior ao valor de referência de 65 a 70 dólares por barril para o período de 2020 a 2022, utilizado na apresentação feita pela Galp em Londres), Carlos Gomes da Silva salvaguardou os efeitos da atual queda da cotação do petróleo na atividade da Galp, reiterando que o break even da produção de petróleo da Galp está nos 25 dólares por barril.

Entre os principais analistas da Galp continua a estar o banco de investimento Goldman Sachs, que tem divulgado projeções para a evolução da cotação do petróleo que apontam para a possibilidade de chegar aos 20 dólares por barril. Mais: a analista do Goldman Sachs, Michele della Vigna, na última recomendação – datada de 11 de março de 2020 – feita para a ação da Galp, propõe o preço alvo de 12 euros por ação e recomenda a venda.

Só seis em 28 analistas recomendam buy Galp
Em 28 análises da Galp feitas por bancos e casas de investimento, apenas seis recomendam a compra da ação – é o caso dos analistas Massimo Bonisoli da Equita SIM, Alejandro Demichelis da Nau Securities, Irene Himona da Sociétè Générale, Jon Rigby da UBS, Jason Kenney do Santander e Lucas Herrmann do Deutsche Bank.

Com um free float de 59,18% no capital da Galp, a exposição da empresa às indicações dadas aos mercados é elevada. Sobretudo porque o peso internacional dos investidores institucionais é dominante entre os detentores do free float.

Os principais investidores estrangeiros são oriundos do Reino Unido (34%), seguindo-se os investidores dos EUA (representam 29% do free float, mas entre eles estão os titulares de participações mais significativas), da Europa (15%), de França (7%), Alemanha (5%) e Canadá (4%). O peso dos investidores de Portugal é de apenas 1% do free float.

O maior investidor institucional da Galp continua a ser o fundo norte-americano Black Rock (com 4,998% da Galp), seguindo-se a sociedade The Capital Group (2,30%) e Capital Research (2,02%), a T. Rowe Price Group (2,10%), a Massachusetts Financial Services (2,06%) e o The Bank of New York Mellon (2,04%), todos dos EUA.

Apesar da queda da cotação do petróleo – de acordo com as declarações do CEO da Galp em Londres – a empresa apostará na duplicação, até 2030, da produção de petróleo e gás natural no Brasil, Angola e Moçambique. Esta estratégia de Gomes da Silva visava elevar, a curto prazo, o cash flow operacional (o CFFO) da Galp para 3 mil milhões de euros anuais. No entanto, esta meta para o CFFO estava sustentada no referido break even de 25 dólares por barril. Face à cotação do Brent de 18 de fevereiro – de 57,5 dólares por barril –, a produção da Galp conseguiria obter retornos potenciais de 32,5 dólares por cada barril. Mas perante a cotação do Brent a 12 de março – de 32,66 dólares por barril –, o ganho potencial acima do break even seria apenas de 7,66 dólares por barril produzido.

Para já, os investidores não tiveram em conta as orientações dadas por Gomes da Silva em Londres – “a Galp vai transformar-se, a partir de 2025, numa empresa com um cash flow operacional de 3 mil milhões de euros anuais” – descontando a atual conjuntura de crise do Covid-19 no valor da ação da Galp. Nem mesmo as “estrelas” que a Galp anunciou até 2022 motivaram os investidores – os designados top tier projects na produção de petróleo e gás natural que são os campos de Atapu I, Sépia I (no Brasil) e Coral FLNG (em Moçambique).

Dando sequência ao anúncio feito em Londres, fonte da Galp explicou ao Jornal Económico que a empresa vai avançar com a apresentação ao mercado do conjunto de ativos de distribuição de gás que poderá vender (se for essa a decisão que vier a ser tomada), estimando que este negócio pode rondar 1,5 mil milhões de euros. Este processo está ser acompanhado por uma equipa do Bank of America. Porém, nem isso segurou as cotações da Galp na bolsa.

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