A decisão da CGD de cortar as taxas de juro de depósitos de 0,05% para 0,015% não tem impacto financeiro muito relevante para a maioria dos clientes. Um depositante de dez mil euros em vez 3,60 euros passará a receber 1,06 euros. Sim, é menos de metade, mas são “apenas” 2,52 euros num ano. São muito mais relevantes as alterações de comissionamento do que este corte nos juros e deve ser aí que os clientes devem centrar a sua atenção.

Não obstante a pouca materialidade, é uma alteração das regras do jogo de ética discutível porque reter os juros abaixo de um euro não só é imoral como deveria ser ilegal – quando se deve um cêntimo a um banco, a dívida não costuma ser perdoada. Nesses casos o depósito passa a ser remunerado… a 0%.

A CGD é um banco público e, como tal, tem responsabilidades sobre os sinais que dá. Em poucos dias, a Caixa baixou os juros dos depósitos mas também os spreads de crédito. A mensagem do banco público, e em certa medida do Estado, é: gastai e endividai-vos. A imagem da CGD no mercado deteriorou-se. A forma ineficiente como está a comunicar está a prejudicar o seu posicionamento e a empurrar os clientes para fora do banco e para outras alternativas.

E o que esperar dos juros dos depósitos no futuro? Os sinais do BCE apontam para a manutenção das taxas de juro muito baixas por muito tempo.  Vem aí mais liquidez para a banca e, com ela, menos necessidade de os bancos captarem depósitos (e pagarem juros). Se o BCE permitir que as reservas obrigatórias deixem de ser oneradas em 0,4%, como agora acontece, talvez os bancos possam pagar um pouco mais pelos depósitos, mas o mais provável é que a banca se aproprie desse benefício.