A noção e objetivo de aprendizagem ao longo da vida é recorrentemente apresentada como uma necessidade básica de renovação de competências. O senhor Eng. Belmiro de Azevedo chamava-lhe a necessidade da pessoa se “re-formar continuamente”.

Em contextos como o atual, de disrupção tecnológica e de modelos de negócio – com alguns anúncios públicos de despedimentos em massa –, a necessidade de aprendizagem conhece maior visibilidade. Quando acrescentamos a subida da taxa de desemprego passamos para um cenário de mudança do paradigma na estrutura dos negócios. Novas competências, algumas já conhecidas, mas que se julgavam necessárias apenas para gerações vindouras, passam a ser imprescindíveis para todas as gerações, algumas numa ótica de preservação de rendimentos do trabalho.

Esta necessidade sempre atual, infere na urgência da formação, contínua, diversificada e com impacto no que se faz profissionalmente. Uma urgência para todas as faixas etárias.

De acordo com o INE (dados de 2016), cerca de 55,6% das pessoas com idade entre 18 e os 64 anos participaram em atividades de aprendizagem ao longo da vida. Por grupo etário, esta participação atinge o seu máximo de 80,7% no grupo dos 18 aos 24 anos, registando diminuições sucessivas até atingir o mínimo de 28,6% para o grupo dos 55 aos 64 anos. No entanto, foi a população com idade acima dos 35 anos a que mais contribuiu, entre 2007 e 2016, para o aumento relativo da participação em atividades de aprendizagem ao longo da vida.

Esta estatística conhece reforço nos dados de aprendizagem em formação para executivos, em escolas de gestão. A idade média de um MBA Full-Time é de 28 anos. Os restantes cursos de formação para executivos apresentam médias mais elevadas, mas não substancialmente diferentes das apresentadas pelo INE. Sinal de que apenas nestas idades se procura aprender?

Se hoje assistimos à urgência na ‘re-formação’ das faixas etárias superiores aos 40 anos, não são estas as idades mais representativas dos alunos que se apresentam nas nossas salas de aulas. Com honrosas exceções – e de elevada qualidade na sua aprendizagem e no que também ensinam aos restantes colegas de curso – perguntamos por onde andam os alunos com essas idades?

Poderíamos notar da menor motivação para a aprendizagem e até encontramos estudos sociológicos que teorizam problemas de autoestima no regresso a aulas. Julgamos que existe uma outra hipótese explicativa: a do tempo. Hoje, muitos dos ‘40s e 50s’ – que alguns chamam de “Geração X” – são pais de adolescentes e vivem no paradigma de uma classe média dedicada a longas horas de trabalho.

As horas sobrantes não são suficientes para a família e para a necessária recuperação das suas saúdes físicas e mentais, quanto mais para a realização de cursos de ‘re-formação’. Gerações prisioneiras do seu estilo de vida, educados no paradigma da realização social no trabalho, mas que não rejeitam a ‘re-formação’. Simplesmente não têm tempo.

Apenas a conciliação efetiva da vida profissional e pessoal com o ensino, permitirá a ‘re-formação’. Tentar colocar uma obrigação de formação, seja por legislação, seja por necessidade de atualização de competências e preservação do posto de trabalho, é como tentar colocar uma segunda rolha numa garrafa que já tem rolha.

Na atualidade social, em que tanto – e bem – se defende o equilíbrio da vida pessoal com a profissional, os espaços temporais para a formação deveriam ser repensados.