Combatia-se o incêndio em Góis, e na autoestrada eram várias as viaturas de bombeiros e do exército a confluir para esta zona no centro do país. Quem por aí passava não podia ficar indiferente e as interrogações eram muitas: sobre as razões do caos e as suas consequências trágicas – 64 vidas humanas perdidas e 200 feridos; casas, bens e área ardida a superar os 50.000 hectares.

Os bombeiros voluntários tiveram um papel central no combate às chamas, a Cáritas fez uma doação considerável, a sociedade civil associou-se e fez chegar mantimentos e roupa às corporações de bombeiros por todo o país, até lhe ser pedido para parar de ser generosa.

O papel da sociedade civil e das organizações da economia social, nas quais as associações de bombeiros voluntários se incluem, é fundamental sempre, mas em particular em momentos como este. Vivemos num mundo dominado por empresas e entidades governamentais, e, por vezes, não compreendemos que existem outras organizações muito diferentes destas na essência, e que são vitais para a nossa sociedade. São mais de 61.000 e dão emprego a mais de 215.000 – 6% do emprego remunerado nacional, ficando à frente de setores como os da saúde e dos transportes e armazenagem. Só na área da ação social mais de 9.500 instituições garantem mais de 50% do emprego da economia social. A riqueza gerada é de 2,8% do PIB. Resumindo, é um setor importante em Portugal, não só pelos números, mas mais do que isso, pelos serviços que presta.

E tudo vai bem nestas organizações da economia social? Claro que não. Não vai bem nestas, como não vai bem nas outras. Temos tido vários exemplos no mundo empresarial, infelizmente, mas no setor público, governo incluído, igualmente. Este incêndio é um exemplo disto – da falta de qualidade na gestão. Mas foquemo-nos nas organizações da economia social. São organizações onde prevalece o voluntarismo, onde as melhores têm excelentes técnicos, muitos formados na área da psicologia ou da assistência social, mas com poucos conhecimentos na área da gestão, e muitas vezes, compreensivelmente, com pouca vocação e vontade para o exercício da gestão.

Não podemos esperar que do dia para noite, com a crescente exigência de qualidade e concorrência por fundos escassos, os profissionais destas organizações se transformem em gestores, e muito menos em bons gestores. Para o efeito precisam não só de engenho e da prática, mas sobretudo de conhecimentos.

O MAIS é a nossa contribuição para este desafio – o de ajudar os gestores da economia social a iniciarem um caminho com mais qualidade na gestão das suas organizações. Há alguns anos já, o Montepio e a Fundação Calouste Gulbenkian, depois com a Accenture, decidiram apoiar este que se tornou um programa importante para muitas organizações da economia social, pelas mãos da formação e consultoria levada a cabo pela Católica Porto Business School e a TESE, com o forte apoio das UDIPSS distritais. Uma parceria em prol da qualidade da gestão nas organizações da economia social portuguesas pelo país fora.

Pedrógão Grande ensinou-nos o muito que há a fazer ao nível da qualidade da gestão no nosso país. São evidentes as provas de má gestão – prioridades mal definidas apesar das soluções há muito avançadas por quem sabe, decisões não tomadas, más decisões tomadas, caos em vez de ordem. Apesar de toda a boa vontade e voluntarismo de quem foi para o terreno apagar o fogo. É lamentável que tenham sido tão trágicas as consequências, para que se tornasse evidente aquilo que só não viu quem não quis, ano após ano, no ordenamento florestal: é preciso gerir bem, e, para isso, é preciso investir na qualidade da gestão.