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Gestora de fundos da Allianz assume culpa e paga seis mil milhões de dólares à SEC e Governo dos EUA

O Structured Alpha Funds gerido pela Allianz GI foi alvo de investigação pela SEC e pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos. A gestora está impedida durante uma década de gerir fundos mútuos registados nos EUA e certos tipos de fundos de pensões. O caso saiu caro ao grupo alemão, ao todo 5,8 mil milhões de dólares segundo o FT.
18 Maio 2022, 07h28

A gestora de fundos de investimento da Allianz chegou a um acordo com as autoridades norte-americanas depois de se dar como culpada na acusação de fraude com valores mobiliários de que foi alvo, e pagou seis mil milhões de dólares. A notícia é avançada pelo Financial Times.

O grupo alemão que tem a seguradora Allianz concordou em pagar cerca de seis mil milhões de dólares às autoridades americanas na sequência de um escândalo protagonizado com o se negócios de fundos de investimento que deixou os investidores com perdas de bilionárias.

A Allianz vai pagar à SEC e ao Departamento de Justiça dos EUA, na totalidade, 5,8 mil milhões de dólares. Cerca de 5 mil milhões de dólares foram ou serão pagos aos investidores como compensação, e todo o valor foi provisionado, avança o FT.

“Esses acordos resolvem totalmente as investigações governamentais dos EUA sobre o assunto do Structured Alpha para a Allianz”, disse o grupo alemão de seguros ao jornal.

Gregoire Tournant, ex-diretor de investimentos e co-líder na gestão do portfólio dos chamados fundos Structured Alpha da gestora da companhia alemã, também está indiciado por acusações de conspiração para cometer fraude com valores mobiliários, fraude como adviser de investimentos e de tentativa de obstrução à justiça no caso, enquanto outros dois gestores de fundos declararam-se culpados de acusações semelhantes, de acordo com documentos legais citados pelo jornal britânico. Todos os três gestores foram demitidos pela Allianz.

As autoridades norte-americanas disseram na terça-feira que o negócio dos fundos de investimento da Allianz nos EUA esteve envolvido num esquema para enganar investidores”. Eram gestores de fundos que chegaram a ter mais de 11 mil milhões de dólares sob gestão.

Em particular, o governo dos Estados Unidos revela em documentos que a gestora de ativos da Allianz fez “declarações falsas e enganosas aos investidores existentes e aos potenciais investidores, e que que subestimaram substancialmente os riscos assumidos pelos fundos e também sobrestimaram o nível de supervisão independente do risco dos fundos”.

“As vítimas dessa má conduta da Allianz incluem professores, padres, condutores de autocarros e engenheiros, cujas pensões são investidas em fundos institucionais para sustentar sua reforma”, disse Gary Gensler, presidente da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA.

A confissão de culpa significará que a unidade de gestão de fundos da Allianz nos EUA está impedida por uma década de prestar aconselhamento a fundos mútuos registados nos EUA e a certos tipos de fundos de pensões. Mas a proibição mas não deverá afetar as subsidiárias da Allianz Pimco,  o atual gestor de fundos de investimento ou a Allianz seguradora Vida, disse a companhia ao FT.

Para cumprir a proibição, o grupo alemão assinou um memorando de entendimento com a empresa de investimentos norte-americana Voya Financial para esta assumir a gestão de 120 mil milhões de dólares de ativos, em troca da Allianz Global Investors assumir uma participação de até 24% no que se chama de “parceria estratégica”.

A Allianz tem sido alvo de ações judiciais por parte de investidores após as pesadas perdas sofridas pelos fundos durante a turbulência do mercado em 2020 criada pela pandemia de coronavírus. O Arkansas Teacher Retirement System, um dos investidores, acusou a gestora de fundos da Allianz de empregar uma “estratégia imprudente”  e de ter abandonado o controle de risco.

O Departamento de Justiça alegou que os gestores do fundo “falharam repetidamente ao comprar as posições de cobertura (hedge) prometidas aos investidores” que estavam no centro da gestão de risco e “alteraram fraudulentamente” os dados solicitados pelos investidores de uma maneira que subestimava os riscos de investimento.

O escritório de Damian Williams, procurador norte-americano do distrito sul de Nova Iorque, disse que aceitou uma confissão de culpa de Stephen Bond-Nelson, um dos gestores dos fundos Structured Alpha, por acusações que incluem fraude de valores mobiliários e fraude de advisor de investimentos. A pena máxima total de prisão para as acusações é de 35 anos, disse o advogado ao FT. Trevor Taylor, outro dos gestores de fundos, declarou-se culpado das acusações  e a prisão tem o prazo máximo de 30 anos. Ambos estão a cooperar com o governo nas investigações.

As autoridades divulgaram as formas como os dados foram supostamente alterados pelos gestores, incluindo os números de desempenho que foram “suavizados” para reduzir a magnitude dos ganhos e perdas. Os gestores em causa também mudaram as folhas de cálculo com a finalidade de fazer “a carteira de investimentos parecer mais protegida contra uma desaceleração do mercado e, portanto, menos arriscada”, alegaram as autoridades.

O FT revela que quando um potencial investidor recebeu dados das participações de um fundo, as autoridades alegaram que “Tornant pegou nos dados precisos de participações e alterou 31 das 576 posições abertas do fundo, passando-as de posições curtas para posições longas e, em seguida, enviou esses dados fraudulentos para o potencial investidor”.

O governo dos EUA disse que os gestores da Allianz praticaram fraudes continuadas ao longo dos anos, em parte porque a gestora de ativos nos EUA “faltou no controles internos e na supervisão dos fundos”.

O escritório de Damian Williams, procurador dos EUA, apelidou o caso de “um dos processos empresariais mais significativos da história” e que grande parte da suposta fraude “foi possível porque o ambiente de controle da Allianz GI estava cheio de buracos” o que “era completamente inadequado para fiscalizar” essa parte do negócio.

Já os advogados de defesa dos gestores do fundo, disseram, segundo o FT, que as perdas que os investidores sofreram em 2020 não foram “resultado de nenhum crime” e sim da turbulência do mercado.

O grupo Allianz anunciou na véspera de seus resultados do primeiro trimestre, no início deste mês, que tinha reservado mais 1,9 mil milhões de dólares em provisões para acautelar o pagamento dos processos judiciais relacionados com o Structured Alpha Funds gerido pela Allianz GI (Global Investors), elevando o total de provisões do grupo para 5,6 mil milhões de dólares. O preço de suas ações caiu 7% no ano passado, tendo recuperado terreno depois.

Em sua própria acusação, a SEC alegou que os gestores Tournant, Taylor e Bond-Nelson mentiram aos investidores sobre a sua estratégia de investimento desde pelo menos janeiro de 2016 até março de 2020. O regulador também alegou que os réus “envolveram-se em vários esforços para esconder sua má conduta da SEC”.

As autoridades disseram que a investigação não encontrou nenhuma evidência de que alguém fora do grupo de produtos estruturados, ou dentro do negócio mais amplo, estivesse ciente da má conduta dos gestores.

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