Golden Wealth Management prevê recessão para 2023

Os analistas da Golden – Wealth Management esperam que as obrigações, a China e os metais preciosos possam ganhar relevância este ano.

O Outlook de 2023 da Golden – Wealth Management é apresentado aos seus clientes esta sexta-feira e avança com algumas previsões para 2023, ao nível da taxa de inflação, da possibilidade de uma recessão, de atuação dos bancos centrais e mesmo sobre a continuidade do impacto da Guerra nos mercados.

Os analistas da Golden esperam que as obrigações, a China e os metais preciosos possam ganhar relevância este ano.

Ainda neste Outlook, é fornecida uma visão detalhada e atualizada dos principais mercados financeiros e classes de ativos em 2022, que foram influenciados pela Guerra na Ucrânia e a inflação galopante.

Numa apresentação assinada por Sérgio Silva, a Golden – Wealth Management é abordado o impacto da conjuntura macroeconómica no mercado de renda fixa. “Os banco centrais encetaram uma política bastante agressiva de subidas de taxas de juro de forma a lidar e a travar essa mesma tendência e tal teve assim um impacto significativo quer ao nível do mercado de ações, mas em especial ao nível do mercado das
obrigações”.

“Recordo que durante o ano de 2022 a reserva federal subiu por sete vezes a sua taxa de referência num total de 425 pontos base ou seja 4,25 pontos percentuais e o BCE subiu por 4 vezes num total de 250 pontos base. Naturalmente o mercado de obrigações teve de se reajustar a esse novo enquadramento o que ditou uma perda significativa para este segmento em especial para o segmento de melhor qualidade que são as obrigações do Tesouro”, refere o especialista da Golden que conclui que “um investimento de 60% ações e 40% obrigações resultou em 2022 na pior rentabilidade desde 1928”.

“Terminamos um ano de 2022 com as obrigações do tesouro da zona euro com quedas superiores a 18% equiparado aquele que foi o resultado ao nível das ações”, diz Sérgio Silva que argumenta que a Golden conseguiu “mitigar de forma significativa alguns impactos do mercado de modo que acabamos o ano, apesar de negativos, com resultados significativamente superiores face àquilo que foi o desenrolar e o desempenho quer dos grandes mercados de referência, quer da concorrência”.

“Tomando como referência o perfil moderado, por exemplo, terminamos o ano com uma queda de 6% comparativamente aos 12% daquilo que foi a referência do mercado. O que nos permitiu esses resultados foi uma gestão ativa dos portfólios, não ficamos parados e destacaríamos: por um lado o posicionamento estratégico que tínhamos, relembro que entramos para 2022 sub investidos nas obrigações de melhor qualidade e, ao nível das ações estávamos também sub investidos no mercado americano que foi o que caiu mais, ao lado disso tivemos uma série de posições específicas que possibilitaram mitigar e permitir trazer algum valor para as carteiras”, acrescenta o gestor.

E para 2023? Golden prevê recessão
A Golden – Wealth Management espera que o ano de 2023 seja bastante desafiante com muitos fatores de risco e muitos temas. “Desde logo aqueles que nos acompanharam já em 2022 e aqui estão apenas alguns, temos a possibilidade da continuação da crise energética, a guerra Rússia/Ucrânia, a questão da inflação, a questão da recessão e a atuação dos bancos centrais, o tema da China enfim, um conjunto de fatores que poderão impactar o ano de 2023”.

Ao contrário de outras gestoras de ativos que estão a prever que a Europa e até os Estados Unidos escapem à recessão, a Golden não está tão optimista. Baseia-se, por um lado nos PMI globais que medem a atividade económica. “Quando esses valores se encontram abaixo de 50 refere que a economia está numa situação de contração que é exatamente o que se está a verificar, quer a nível global quer a nível individual, em particular para os Estados Unidos e para a Europa”.

Outro indicador é a inversão da curva de rendimentos. “Esse indicador é um indicador que previu todas as recessões, nunca tivemos um falso positivo, que na prática é a diferença da yield a 10 anos face à yield a 2 anos e, portanto, essa diferença está negativa o que significa que as taxas do segmento mais curto são mais elevadas do que as taxas dos segmentos mais longos da curva de rendimentos. Mais uma vez esse efeito verifica-se quer em parte dos Estados Unidos quer para a Europa e, portanto, no nosso cenário central destaque para a materialização de uma recessão para o ano de 2023 quer para os Estados Unidos quer para a Europa”.

O gestor da Golden fala da taxa de inflação lembrando que “tivemos máximos recorde quer ao nível dos Estados Unidos quer ao nível da Europa, aqui na Europa o máximo superou os 10% e nos Estados Unidos 9,1%. Claramente estamos numa tendência de descida dessa mesma taxa”. É expectável que a inflação “continue a baixar quanto mais não seja pela componente das mercadorias e da energia, mas a questão coloca-se ao nível da inflação dos serviços, a inflação core, que ainda continua a níveis elevados e, portanto, julgamos que tenderá a cair, mas de uma forma mais lenta”, refere.

O especialista diz que o que vai ditar e marcar 2023 é a reação e a postura dos bancos centrais à evolução desses dados.

“O que vai ditar a variação dos mercados é claramente o papel dos bancos centrais”, defende o gestor da Golden.

Sérgio Silva diz que “apesar de se falar muito em recessão é bom recordar que os preços das ações, especialmente ao nível do mercado acionista, ainda não incorporam este cenário quer ao nível dos múltiplos dos quais os preços das empresas estão a ser transacionados, quer ao nível dos resultados e a expectativa dos resultados para o próximo ano isso ainda não está incorporado no preço dos mercados e portanto, a verificar-se essa situação, é esperado que haja alguma volatilidade ao nível especialmente dos mercados acionistas e como tal, quedas que depois face à atitude do Banco central em fazer o pivot, poderá ter aqui na sequência disso, um efeito positivo dos mercados”.

Dito de outra forma, a Golden diz que “podemos esperar que o ano 2023 seja dividido em duas metades, não necessariamente de 6 em 6 meses, mas claramente, numa primeira fase poderá haver aqui uma deterioração ao nível dos mercados acionistas para depois, na sequência de uma alteração de atitude por parte dos bancos centrais, haver uma recuperação deste segmento acionista”.

As grandes oportunidades de 2023, na óptica da gestora de patrimónios, é que “neste momento já temos taxas de juro bastante positivas e aqui as obrigações podem oferecer bastante valor”.

Depois o tema da China, “julgamos que vai ser diferenciador para o ano de 2023”, defende a empresa.

O gestor conclui com o tema dos metais preciosos. “Acabamos o ano em que a compra de ouro por parte dos bancos centrais atingiu níveis que já não se viam há décadas e com a possibilidade de haver um travão ao nível da política monetária estão reunidas as condições para o complexo dos metais preciosos, quer os metais quer as empresas que produzem a sua mineração terem um ano excecional”.

Relacionadas

Portugal vai reduzir dívida e escapar à recessão, garante Moody’s (com áudio)

Apesar da Moody”s tem prevista uma primeira avaliação oficial do rating português a 19 de maio, a agência avançou esta quinta-feira com as primeiras previsões para 2023 num tom otimista. Esta sexta-feira, a DBRS faz a avaliação daquele que deverá ser o desempenho da economia portuguesa este ano.

Zona euro vai mesmo escapar à recessão, prevê o Goldman Sachs

O banco prevê que o BCE aumente as taxas de juro em 50 pontos base na reunião da próxima semana.

ONU prevê que PIB de Portugal cresça 0,5% este ano e 1,7% em 2024 (com áudio)

A Organização das Nações Unidas prevê que o PIB de Portugal cresça 0,5% este ano e 1,7% em 2024, segundo o relatório económico daquela estrutura.

Zona euro pode escapar à recessão. Atividade acelera em janeiro

A S&P Global alerta, no entanto, que embora a estabilização da economia aumente a evidência de que a zona euro pode escapar de uma recessão, “a região ainda não está fora de perigo”.

“Investidores já estão a olhar para além da recessão”. Veja os gráficos da semana no “Mercados em Ação”

Veja os destaques na rubrica “Gráficos da Semana”, da responsabilidade de Marco Silva, consultor de estratégia e investimento, no programa que contou com a análise de Mário Martins, administrador da ActivTrades Brasil.

“Mercados em Ação”. “Recessão? Os mercados não estão a entrar em pânico”

Mário Martins, administrador da ActivTrades Brasil, analisou o “fantasma” da recessão na Europa e nos EUA e explicou, no programa da plataforma multimédia JE TV, que “se houvesse um consenso em torno da possibilidade de uma recessão, os mercados estariam a comportar-se de outra forma”.

Investidores afastam-se da possibilidade de recessão na zona euro

O impacto mais contido da crise energética e a reabertura da China são efeitos positivos para a economia da zona euro, onde os investidores apostam cada vez menos numa recessão ou estagflação, projeta o instituto alemão ZEW.
Recomendadas

DBRS alerta que incerteza na banca deve fazer aumentar volatilidade

A agência de notação refere que apesar do nível de volatilidade aumentar, face ao colapso do Silicon Valley Bank e a aquisição do Credit Suisse pelo UBS, em termos globais esse nível está baixo, quando comparado com 2020 e 2021.

Scope Ratings eleva classificação rating da dívida soberana portuguesa para A-

Scope Ratings elevou a classificação da dívida soberana da República Portuguesa, de BBB+ para A-. Recuo do défice é um dos motivos que explicam essa revisão em alta.

Lançada em Macau bolsa de valores blockchain para pequenas empresas chinesas

Foi lançada uma nova bolsa em Macau baseada em tecnologia blockchain. O objetivo? Ajudar micro e pequenas empresas chinesas a atrair investimento estrangeiro.
Comentários