O Goldman Sachs está mais otimista para a economia da zona euro. Se antes esperava uma recessão em 2023, agora prevê um crescimento, apesar de tímido.
“Já não esperamos uma recessão técnica. Mantemos a nossa visão de que o crescimento europeu vai ser fraco nos meses de inverno dada a crise energética”, começam por dizer os analistas do banco norte-americano numa nota a que o JE teve acesso. O GS prevê agora que a zona euro cresça 0,6% este ano (-0,1% antes), “significativamente acima do consenso de -0,1%”.
“Isto reflete o momento de crescimento suave (o que aponta para um quarto trimestre ligeiramente negativo), inflação elevada (o que está a pesar nos rendimentos das famílias e na despesa do consumidor) e condições financeiras mais apertadas (com o nosso índice de condições financeiras 160 pontos base mais apertado face há um ano”, acrescentam.
O banco destaca que a previsão para a atividade económica melhorou nas últimas semanas, com destaque para a produção industrial, e que os preços do gás natural continuam a “cair abruptamente – de regresso a níveis de setembro de 2021”, com o GS a reduzir a sua previsão de preços para o verão de 2023 de 180 euros para 100 euros.
“Vemos agora uma desaceleração mais rápida na inflação, a cair cerca de 3,25% até ao final de 2023 (4,5% antes)”, concluem.
Analisando os estados-membros, o banco prevê um “crescimento mais fraco na Alemanha e Itália (que estão mais dependentes de atividades industriais de energia intensiva) do que França e Espanha (que têm fontes mais diversificadas de energia e que têm sectores de serviços mais intensivos”.
Em relação ao BCE, o GS espera que o banco central continue o seu apertar monetário “significativamente nos próximos meses”. “Acreditamos que aumentos de 50 pontos base são muito prováveis em fevereiro e março, antes de desacelerar para 25 pontos base para uma taxa terminal de 3,25% em maio”, isto devido à “atividade económica mais resiliente” a par de “inflação core mais persistente e comentários mais hawkish” por membros do BCE.
“O outlook de crescimento mais firme reforça o nosso ponto de vista de que o BCE” só deverá proceder ao primeiro corte “no quarto trimestre de 2024.
E o desemprego? Bem, o GS espera apenas um pequeno aumento na zona euro, com o mercado de trabalho a manter-se “resiliente”, com o desemprego a situar-se num mínimo histórico de 6,5%. A desaceleração económica vai provocar um ligeiro aumento de 0,3 pontos para os 6,8% no terceiro trimestre de 2023.
Olhando para a China, o banco destaca que o país está a reabrir mais cedo do que o previsto e agora prevê um crescimento de 5,2% em 2023, acima do consenso.
Mercados de olho em Itália
O banco também analisa a situação de Itália nos mercados da dívida e avisa que os riscos soberanos continuas a pairar sobre o país, apontando que o spread entre a dívida italiana e alemã tem se mantido estável “apesar do crescimento fraco, aumento dos juros e eleições antecipadas” em Itália, mas que poderá atingir os 260 pontos base.
Isto deve-se ao facto de o crescimento nominal ter se mantido firme, que as taxas de juro estão apenas a subir gradualmente e que o Governo de Meloni “políticas ortodoxas e amigas da Europa” desde que chegou ao poder.
No entanto, o GS aponta que continua a ver um outlook orçamental complicado para Itália dada a dívida pública muito elevada, o aumento dos yields soberanos e o crescimento a abrandar.
Itália vai aplicar este ano elevadas somas dos fundos europeus do Next Generation e “atrasos adicionais poderão catalisar as preocupações no mercado”.
“Acreditamos que o conselho de governadores do BCE deverá fazer uso da flexibilidade de reinvestimento do PEPP para atuar rapidamente contra o aumento dos spreads e falar mais ativamente sobre a importância do TPI”, o novo mecanismo anti-fragmentação da região monetária que prevê a compra de dívida soberana para proteger os países mais expostos da zona euro, incluindo Portugal.
O PEPP é o programa de emergência de compras da pandemia que teve início em março de 2020 para travar riscos económicos e financeiros para a zona euro devido à pandemia da Covid-19.