O Goldman Sachs (GS) Investment Strategy Group (ISG) está pessimista sobre o desempenho da zona euro para 2023 e prevê uma ligeira recessão em 2023 (-0,3%), estando mais pessimista do que o consenso do mercado (-0,1%), e mais pessimista face a outra unidade do banco – Global Investment Research – que prevê um crescimento de 0,6% este ano.
Num estudo, o ISG, sediado em Nova Iorque, recorda que a invasão russa da Ucrânia causou um “declínio abrupto no crescimento esperado para a zona euro no último ano” e que o disparo nos preços da energia “causaram uma queda abrupta nos rendimentos das famílias, mas também obrigaram a cortes na produção de indústrias intensivas de energia, o que afetou a produção”.
“Apesar de a economia ter se aguentado melhor do que temíamos, pensamos que a combinação dos ventos adversos provavelmente empurraram a zona euro para uma recessão nos meses finais de 2022. Esperamos uma relativamente ligeira contração económica”, pode-se ler no documento.
“Vários ventos adversos – incluindo fraca procura externa, preços elevados de energia e o apertar das condições financeiras – vão limitar o crescimento na segunda metade do ano”, destaca o GS.
“Enquanto este desacelerar na atividade económica – a par com o alívio de constrangimentos no abastecimento e alguma moderação nos preços da energia e alimentação – vai reduzir as pressões de preços, vemos algumas razões para que a inflação permaneça acima dos 2% este ano”, analisam os especialistas.
“Primeiro, o disparo nos preços da energia no último ano vai aumentar a inflação da energia e dos bens em 2023, dados os atrasos habituais. Em segundo, o euro mais fraco implica custos mais elevados para produtos importados. Por último, um mercado laboral ainda tight [com muita oferta e poucos trabalhadores disponíveis] aumenta a probabilidade de crescimento dos salários” o que vai impactar o preço dos serviços. Desta forma, prevê uma inflação nominal de 7% e uma subjacente de 4,2% em 2023.
O ISG prevê que o BCE suba a taxa de juro diretora para os 3,5% (2% atualmente) e que termine o programa de compra de ativos durante o primeiro semestre do ano.
E o BCE vai passar a cortar nas taxas de juro ainda este ano? O ISG considera este cenário “improvável”, apontando que não acredita que as taxas de juro continuem em níveis elevados durante muito tempo por os problemas nas cadeias de abastecimento serem o maior causador de inflação no euro.
“Claramente, os eventos do último ano revelaram vulnerabilidades no abastecimento de energia da zona euro, o que acrescenta muita incerteza às previsões económicas. A crise de energia pode até regressar no próximo inverno se o armazenamento de gás não for adequadamente reabastecida durante o verão e outono. Investimento significativo vai ser necessário para acelerar a transição energética da região, pois o falhanço em fazê-lo pode deixar a economia da zona euro permanentemente abaixo do caminho de crescimento pré-Covid”, conclui.
Noutro estudo divulgado na semana passada, da autoria do Goldman Sachs Global Investment Research, o banco está mais otimista para a zona euro, rejeitando uma recessão para este ano e prevendo um crescimento de 0,6%. A queda dos preços do gás natural, a inflação em queda acelerada este ano, a recuperação da atividade industrial e um mercado laboral forte são boas notícias para a zona euro. BCE deverá continuar a aumentar juros nas próximas reuniões, mas primeiro corte só no final de 2024, prevê o banco.