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Governante portuguesa assume homossexualidade e isso ainda é notícia em 2017

“Se as pessoas começarem a olhar para políticos, pessoas do cinema, desportistas, sabendo-os homossexuais, como é o meu caso, isso pode fazer com que da próxima vez que sai uma notícia sobre pessoas mortas por serem homossexuais, pensem em alguém por quem até têm simpatia,” afirmou a secretária de Estado da Modernização Administrativa, Graça Fonseca.
22 Agosto 2017, 17h11

Há cerca de dois meses, o “Jornal Económico” publicou um artigo sobre “o tabu dos homossexuais na política em Portugal“, salientando que os exemplos de governantes que assumem publicamente a sua homossexualidade (e que se casam com parceiros do mesmo sexo) estão a tornar-se comuns na Europa. Referia-se na altura que os primeiros-ministros da Irlanda e do Luxemburgo não escondem a orientação sexual, trilhando o caminho aberto por Jóhanna Siguroardóttir, em 2009, na pioneira Islândia. Em Portugal, pelo contrário, quase não há políticos homossexuais. E os poucos que “saíram do armário” nunca alcançaram os cargos mais importantes, com maior poder.

Ora, o artigo em causa está desatualizado: a secretária de Estado da Modernização Administrativa, Graça Fonseca, assume a sua homossexualidade no âmbito de uma entrevista publicada na edição de hoje do “Diário de Notícias”. A governante realçou a importância de se “normalizar a existência de casais do mesmo sexo e da homossexualidade” e afirmou: “Agora as pessoas afirmarem publicamente que são homossexuais, não há muito quem o tenha feito. E acho que isso é importante. E há duas razões para eu achar importante dizê-lo.”

“Que é homossexual?”, perguntou a jornalista. “Sim”, confirmou Graça Fonseca. E explicou: “Primeiro porque, como há pouco dizia, a questão de haver poucos deputados ou membros do Governo de um determinado grupo tem muito a ver com como é que olho para essas pessoas, como me relaciono com esse outro. E com que empatia. E acho que se as pessoas começarem a olhar para políticos, pessoas do cinema, desportistas, sabendo-os homossexuais, como é o meu caso, isso pode fazer com que da próxima vez que sai uma notícia sobre pessoas mortas por serem homossexuais, pensem em alguém por quem até têm simpatia. E se as pessoas perceberem que há um seu semelhante, que não odeiam, que é homossexual, isso pode fazer que a forma como olham para isso seja por um lado menos não querer saber se essas pessoas são perseguidas, por outro lado até defender que assim não seja. Mas mesmo que seja só deixar de não querer saber já é um ganho.”

Graça Fonseca torna-se assim a primeira governante portuguesa a assumir que é homossexual. Até hoje contavam-se apenas dois políticos portugueses (o ex-deputado Miguel Vale de Almeida e o atual deputado Alexandre Quintanilha, ambos independentes e eleitos nas listas do PS) assumidamente homossexuais. Mas tanto Vale de Almeida como Quintanilha já tinham assumido a orientação sexual antes de exercerem cargos políticos, além de não serem militantes do PS nem políticos de carreira. Pelo contrário, Graça Fonseca é militante e dirigente do PS e antes de ter sido nomeada secretária de Estado, em 2015, já tinha exercido as funções de vereadora da Câmara Municipal de Lisboa, entre 2009 e 2015.

 

“Uma mulher lésbica no Governo. Muito bem”

Na sequência desta revelação têm surgido algumas manifestações de apoio. “Não é uma questão de privacidade. É uma questão de identidade. O ‘coming out’ da Graça [Fonseca]. Uma mulher lésbica no Governo. Muito bem,” escreveu Isabel Moreira, deputada do PS, na rede social Facebook.

“Portugal, aquele país em que somente em 2017 um político executivo assume a sua homossexualidade e é criticado por ‘revelar’ as suas ‘opções sexuais’. Visibilidade e normalização sao os necessários corolários dos direitos civis. Eu assumo outra coisa: a ausência de ‘clubite partidária’. Por isso aplaudo esta declaração. Precisamos de mais exemplos do Portugal multifacetado que temos e tanto desejamos manter,” escreveu Rubina Berardo, deputada do PSD.

Contactada pelo “Jornal Económico”, Berardo enalteceu a importância simbólica do gesto da secretária de Estado, declarando que “é a própria visibilidade e normalização que dão vida aos direitos e liberdades consagrados na lei portuguesa.”

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