A lógica política, ou o virar do ciclo político como alguns analistas preferem chamar-lhe, mantém-se.

O “chumbo” do Orçamento do Estado (OE) para 2022 pela esquerda da geringonça não vai redundar no desaparecimento do Bloco e do PCP. Pelo contrário, vai dar-lhes mais votos, mas é preciso que a direita ganhe. E a história diz-nos que a esquerda ganha com as reformas da direita porque são sempre difíceis, nomeadamente no equilíbrio das contas públicas e nos compromissos europeus.

A jogada no sentido da geringonça apanhar António Costa, o mestre da política nacional, em contramão, resultou. Costa não esperava que o PCP/CDU mantivesse a indicação de voto que já tinha dado, até porque o Governo estava a ceder. Mas, no PCP, e o analista Pacheco Pereira teve oportunidade de o sublinhar, as decisões vêm de um grupo iluminado que pensa na estratégia que tem de ser implementada.

O PCP vai manifestar-se nas ruas com a mobilização da CGTP e de muitos sindicatos, e teremos greves todos os dias. Serão trabalhadores a exigir de um país que passou ano e meio fechado devido à pandemia e que precisa de se reorganizar para aproveitar o que a União Europeia nos quer dar.

É um país que precisa de encontrar novas formas de trabalho e nova orientação estratégica no mundo global, mas cheio de perigos ligados à demografia, clima e ciberterrorismo. Mas claro que poucos se importam com o estado da Nação, o interesse está nos seus quintais.

Costa saiu irritado e a pensar que com o PCP não pode contar, ao passo que não percebe o que levou o Bloco a votar contra.

Prometeu um futuro governo – caso existam eleições antecipadas – com a esquerda e, por isso, vimos no final do debate e do chumbo do OE, altos dirigentes do PS a conversarem com os colegas do Bloco no Parlamento, enquanto nos bastidores vimos Medina e Louçã num almoço há dias, que presumimos ser de estratégia.

O país poderia ganhar nas políticas e nas reformas se virasse à direita, e isso até pode acontecer porque nos países desenvolvidos as eleições não se ganham, perdem-se. Até porque quem está no Governo tem bastante desgaste. E se a direita ganhar numas eventuais eleições antecipadas, teremos os dois partidos mais à esquerda a capitalizar tudo. Em contrapartida, se o PS ganhar, irá secar os dois partidos mais à esquerda e isso é um risco calculado.

Para Costa este é o momento para continuar a governar com o OE que existe e esperar uma vitória em minoria, mas que liquide os parceiros à esquerda. É complicado afirmar hoje que o PS, se ganhar, quer governar à esquerda, quando em janeiro apenas lhe sobrará a direita para entendimentos.

António Costa continua a ser o maior “animal político” da atualidade e tem a seu favor o facto de os partidos de esquerda estarem fragilizados e de partidos à direita se encontrarem em despique pela liderança.

O resultado no PSD é uma carta no escuro. Rio sorri de contente porque a estratégia deu certo, mas Rangel está com os notáveis e está a irritar Rio.

O primeiro-ministro gostaria de ter uma saída em grande como a chanceler Merkel que veio do Leste e hoje tem um reconhecimento superior aos antecessores como Willy Brandt, Helmut Kohl ou Schmidt, mas em Portugal trabalha-se pela política e não pelos resultados. Temos a nossa “House of Cards”. Veja-se o discurso confrangedor da ministra da Saúde no Parlamento esta semana.

Costa, a par de Duarte Cordeiro, deveriam ser os únicos a fazer política. Outros não deveriam passar de operacionais.