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Grandes investidores viram costas ao petróleo e piscam o olho às renováveis

O desempenho das ações do setor tem sido negativo, penalizado pela tendência de desinvestimento e pela queda dos preços. Por outro lado, o índice de baixas emissões de carbono valoriza e a emissão de ‘green bonds’ disparou.
20 Dezembro 2017, 07h10

As preocupações ambientais estão a ganhar espaço nas estratégias de investimento, com grandes agentes institucionais, como o Fundo Soberano da Noruega ou o Banco Mundial, a diminuírem o interesse por combustíveis fósseis. A inversão destes dois gigantes pode levar a mudanças no setor energético, mas os analistas consideram prematuro passar o certificado de óbito ao petróleo e gás.

Em novembro, o Fundo Soberano da Noruega anunciou que vai deixar de investir em ações de empresas do setor do petróleo e gás para proteger o país da volatilidade dos preços. Este mês, o Banco Mundial justificou o abandono do financiamento à exploração e produção das duas matérias-primas, a partir de 2019, com a vontade de alinhar pelos objetivos do Acordo de Paris.

“O Fundo da Noruega tem um papel importante, não só pela sua dimensão, mas como indicador para outros investidores”, afirmou Carlos Jesus, diretor adjunto do Caixa Banco de Investimento (BI), que lembrou que os dois casos são diferentes já que “o Banco Mundial investe em projetos e não no mercado acionista”.

Ângelo Custódio, trader do Banco Best, concorda que “estes agentes financeiros têm um peso significativo na flutuação dos preços nos mercados internacionais, quer através da aquisição de instrumentos financeiros (tendo como ativo subjacente o petróleo e gás) ou pelo financiamento de novas explorações, que em países menos desenvolvidos tem um impacto significativo na economia local”.

“Outro aspeto relevante é a influência que estes grandes investidores exercem sobre o mercado com as suas decisões e estratégias”, disse.

Desde o início do ano, o desempenho das empresas do setor tem sido negativo, penalizado não só pela tendência, mas em especial pela queda dos preços do petróleo. O índice Stoxx Europe 600 Oil & Gas avançou parcos 0,73% desde janeiro, enquanto o S&P GSCI Crude Oil Total Return Index recuou 1,77%.

Por outro lado, o índice de ações associadas a projetos de baixas emissões de carbono, o STOXX Global Low Carbon Select 100 Index já valorizou 10,72% este ano.

Green bonds

A emissão de green bonds (títulos isentos do pagamento de taxas por se destinarem ao financiamento de projetos sustentáveis) também atingiu um recorde. Até ao fim de setembro, já tinham sido emitidos 94,5 mil milhões de dólares em obrigações verdes, o significa um disparo de 49% em relação aos primeiros nove meses de 2016.

“Apesar da nova era das energias alternativas e das medidas cada vez mais fortes no combate às alterações climatéricas, ainda não é possível declarar o fim do petróleo e do gás”, afirmou o trader do Banco Best.

O petróleo e o gás deverão continuar em destaque já que as estimativas da Agência de Energia Internacional (IEA) indicam que a procura por estes combustíveis vai continuar nos próximos anos, ainda que possa recuar nas próximas duas décadas. A projeção para 2040 indica que não haja uma redução significativa do lado da procura, face à necessidade de alimentar as principais economias mundiais e as respetivas indústrias.

“Apesar do aparente desinvestimento no setor energético tradicional, substituído, por exemplo, pelas energias alternativas, os relatórios das principais instituições do setor indicam um aumento na procura de energia nos próximos anos, pelo que será a evolução da economia mundial conjugadas com a dinâmica entre procura e a oferta a ditar o interesse sobre o petróleo e gás. Esse será o principal drive de mercado a que os investidores estarão particularmente atentos”, acrescentou.

Carlos Jesus lembrou ainda que “nas avaliações de empresas e setoriais pesa muito os pressupostos de preço de crude e custos de produção, sendo estes indicadores de curto-médio prazo”. Em contrapartida, acredita que “a decisão deverá incentivar o setor a incrementar/fortalecer as suas políticas de transição para uma economia de baixa intensidade de carbono”.

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