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Grupo alemão Adler viu ações caírem 45% após KPMG se recusar a assinar as contas de 2021

Trata-se do grupo centenário alemão de imobiliário – Adler Group – cujo um dos acionistas é também dono da Vic Properties que comprou ao Novobanco a Matinha e a Herdade do Pinheirinho. Segundo o FT, as ações do grupo chegaram a cair 46% na segunda-feira, depois de a empresa ter anunciado que o seu auditor, a KPMG, não assinou as contas, e de metade do Conselho de Administração se ter demitido.
3 Maio 2022, 13h43

Trata-se do grupo centenário alemão de imobiliário – Adler Group – cujo um dos acionistas é também dono da Vic Properties que comprou ao Novobanco a Matinha e a Herdade do Pinheirinho. Segundo o Financial Times, as ações do grupo imobiliário alemão Adler chegaram a cair 45% na segunda-feira, depois de a empresa ter anunciado que o seu auditor, a KPMG, não assinou as contas, e de metade do Conselho de Administração ter renunciado aos cargos no fim de semana.

A KPMG argumentou que foi-lhe negado o acesso a certas informações sobre partes relacionadas. “Isso também nos impede de avaliar se os tratamentos contabilísticos de, pelo menos algumas dessas transações, são os apropriados e consistentes com sua substância, bem como impede de ver se a avaliação da administração sobre o valor de determinados saldos contabilísticos é a adequada”, disse a KPMG. A auditora não conseguiu “obter evidências de auditoria apropriadas e suficientes”. Em questão estão várias transações que o grupo Adler concluiu com terceiros que os short-sellers alegaram não serem independentes.

O grupo Adler anunciou uma perda líquida de 1,2 mil milhões de euros no sábado depois de cancelar mil milhões de euros de operações de desenvolvimento imobiliário e divulgar que não poderia levantar fundos adicionais no mercado porque isso poderia desencadear uma violação dos compromissos assumidos com os obrigacionistas.

O CEO, Kirsten, disse que a empresa ficou impedida de ir ao mercado de financiamento após o veredicto da KPMG, mas tem 500 milhões de euros em dinheiro que permitirá distribuir dividendos, segundo o FT.

A empresa anunciou a renúncia imediata do co-presidente executivo Maximilian Rienecker e três outros membros do Conselho.

A notícia revela que quatro membros do Conselho de Administração se demitiram, mas que o grupo Adler cumpriu os compromissos com os obrigacionistas ao publicar as demonstrações financeiras auditadas.

“O nosso portfólio existente é sólido como uma rocha. A isenção de responsabilidade [da KPMG] é a confirmação de uma auditoria realizada sem parecer. Temos que aceitar isso, mas tentaremos eliminar os motivos da isenção de responsabilidade o mais rápido possível”, disse o presidente da Adler, Stefan Kirsten, que entrou para a empresa em fevereiro.

Ou seja, o grupo alemão afirmou que não tinha violado um compromisso sobre sua obrigação de publicar resultados financeiros auditados até 30 de abril, argumentando que havia cumprido esse requisito, apesar da ausência de opinião da KPMG. “Houve uma auditoria e nós auditamos os resultados”, disse Kirsten.

O grupo alemão corria o risco de falhar um prazo crucial que tinha sido dado para a publicação dos seus resultados (este sábado) o que deixaria 4,4 mil milhões de euros em títulos de dívida em situação de pagamento imediato, disse o presidente Stefan Kirsten.

O Adler Real Estate tem vindo a lutar contra alegações dos short-sellers desde que a Viceroy Research publicou um relatório, em outubro passado, questionando a avaliação dos seus ativos e delineando as suas ligações a Cevdet Caner, um empresário austríaco que anteriormente conduziu a uma das maiores insolvências imobiliárias da Alemanha.

As alegações, que o grupo Adler nega, levaram a BaFin, regulador financeiro da Alemanha, a iniciar uma investigação sobre possíveis irregularidades contabilísticas e levou a empresa a pedir à KPMG que realizasse “uma investigação abrangente” sobre as queixas.

A recusa da KPMG em aprovar os resultados anuais ocorreu uma semana depois que uma equipe separada de investigadores forenses da empresa de auditoria ter descoberto deficiências generalizadas de governance e compliance.

O FT avança que a KPMG fez uma investigação  sobre as alegações de fraude feitas pela empresa de investigação Viceroy Research. O relatório especial da KPMG descobriu pagamentos ao magnata imobiliário austríaco Cevdet Caner que não correspondiam às atividades acordadas, mas disse que não poderia verificar nem refutar muitas das alegações de Viceroy.

O Viceroy Research acusou o Grupo Adler de conduzir uma série de transações em que a empresa vende ativos a partes relacionadas a um preço inflacionado que nunca é liquidado integralmente, empolando artificialmente o seu balanço.

A BaFin disse que sua investigação sobre as contas de Adler continua. O grupo alemão também divulgou na segunda-feira que o regulador estava a investigar a negociação das ações da empresa no período que antecedeu o anúncio de que a KPMG não assinaria seu relatório anual, na noite de sexta-feira.

O grupo imobiliário Adler, um dos maiores proprietários de imóveis na Alemanha detido em 6,10% pela Aggregate Holdings, que pertence ao investidor austríaco Guenther Walcher e é assessorada por Cevdet Caner, foi vítima de short-selling.

A Aggregate Holdings é acionista do Grupo Adler, mas é também dona de 100% da Vic Properties, que em Portugal comprou em maio de 2020, ao Novobanco a Herdade do Pinheirinho, situada em Melides, no concelho de Grândola.

Atualmente o Grupo Adler, é detido em 20,49% pela imobiliária alemã Vonivia, e Gerda Caner tem 7,44%.

Em 2019 a Vic Properties tinha comprado ao Novobanco também os terrenos da Matinha por 140 milhões de euros. Neste caso a venda foi a pronto pagamento. Mas o banco financiou a Vic Properties Portugal na aquisição da Herdade do Pinheirinho em Melides, ainda que com um conservador loan-to-value de 33%, ou seja a relação entre o empréstimo e o valor de um ativo adquirido. O empréstimo, segundo apurou o Jornal Económico, está garantido por hipotecas que cobrem 300% do financiamento.

A Herdade do Pinheirinho foi comprada ao Novobanco tendo o banco, a pedido do comprador, financiado em parte a aquisição da herdade que tem uma área de implantação de aproximadamente 200 hectares e acesso direto à praia, este projeto inclui hotéis, moradias, apartamentos, comércio e um Campo de Golf.

Empresa do grupo da Vic Properties em risco de ser investigada na Alemanha (com áudio)

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