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Grupo chinês Fosun acelera venda de ativos para reforçar liquidez

As vendas comunicadas à bolsa de valores de Hong Kong, onde o grupo está cotado, são o culminar de uma década de expansão agressiva além-fronteiras, que incluiu a compra, em Portugal, da seguradora Fidelidade, uma participação de quase 30% no BCP ou mais de 5% da REN.
4 Julho 2022, 19h30

O grupo Fosun, que detém várias empresas em Portugal, desfez-se do equivalente a dois mil milhões de euros em ativos este ano, visando reforçar a liquidez, numa altura em que enfrenta pressão no mercado obrigacionista.

As vendas comunicadas à bolsa de valores de Hong Kong, onde o grupo está cotado, são o culminar de uma década de expansão agressiva além-fronteiras, que incluiu a compra, em Portugal, da seguradora Fidelidade, uma participação de quase 30% no banco Millennium BCP ou mais de 5% da REN – Redes Energéticas Nacionais, através da Fidelidade.

O conglomerado soma agora uma dívida de 40 mil milhões de dólares (mais de 38 mil milhões de euros), mas a emissão de títulos tornou-se mais cara, após várias empresas chinesas terem entrado em incumprimento, incluindo a Evergrande, a segunda maior construtora da China.

No mês passado, a agência de notação financeira Moody’s colocou o ‘rating’ da Fosun, atualmente com a nota de crédito Ba3, em revisão, para possível baixa.

Em comunicado, a vice-presidente da Moody’s Lina Choi disse que decisão reflete a “preocupação” da agência, de que a “crescente aversão” ao risco, entre os investidores no mercado de dívida, pressione a liquidez já de si “escassa” da Fosun, numa altura em que se aproxima a data de vencimento de obrigações emitidas nos mercados chinês e internacional.

Na mesma nota, a Moody’s apontou o risco de “contágio” e a “pressão adicional sobre a liquidez” das empresas e subsidiárias do conglomerado.

Questionada pela agência Lusa, a Fosun disse que, enquanto empresa cotada em bolsa, não pode comentar sobre uma possível venda de ativos detidos em Portugal, mas garante que está numa “posição sólida e saudável”, apontando uma relação dívida/capital de 54% e 96,78 mil milhões de yuans (quase 14 mil milhões de euros) de dinheiro em caixa, entre saldos bancários e depósitos a prazo.

“A [Fosun] e as suas subsidiárias estabeleceram parcerias com mais de 100 bancos chineses e estrangeiros em todo o mundo e assinaram acordos de cooperação estratégica com vários bancos internacionais e vários bancos chineses”, apontou.

O grupo também anunciou em junho planos para a recompra de dois títulos emitidos no mercado internacional, com vencimento este ano, no valor conjunto de cerca de 800 milhões de dólares (767 milhões de euros).

Para a Moody’s, no entanto, a Fosun tem um perfil financeiro “fraco”.

“A receita recorrente da empresa, principalmente dividendos de investimentos subjacentes, é inadequada para cobrir os juros e despesas operacionais”, apontaram os analistas da agência.

A venda de ativos pela empresa este ano ultrapassou já os dois mil milhões de dólares, em comparação com 85 milhões de dólares (81,5 milhões de euros), em 2021, segundo dados da Dealogic, fornecedora global de conteúdo e análise para o setor financeiro.

Em março, o conglomerado chegou a acordo para vender a sua divisão de moda, Lanvin Group, através de uma entrada na Bolsa de Valores de Nova Iorque, mediante uma empresa de aquisições para fins específicos (SPAC, na sigla em inglês). No mês seguinte, a empresa acordou a venda da seguradora norte-americana AmeriTrust Group Inc à Accident Fund Insurance Company of America, subsidiária integral do AF Group, com sede nos Estados Unidos.

Entre os ativos vendidos este ano pelo grupo constam ainda uma posição no valor de 500 milhões de euros na Tsingtao Brewery, a principal marca de cervejas da China, 5% do grupo chinês taihe technology, no valor de 43 milhões de euros, ou 6% do capital da empresa Zhongshan, por 100 milhões de euros, de acordo com a cotação atual no mercado.

A Moody’s observou que a qualidade de crédito da empresa, que afeta diretamente a sua capacidade de refinanciamento, vai provavelmente enfraquecer devido à venda de ativos, o que significa uma queda nas receitas com dividendos.

Os principais ativos do grupo incluem participações em mais de 40 empresas nas áreas saúde, turismo, gestão de ativos, mineração, siderurgia e tecnologia.

Entre os ativos mais sonantes constam a cadeia hoteleira Club Med e o clube inglês de futebol Wolverhampton Wanderers.

Em 2021, a receita total do grupo fixou-se em 161 mil milhões de yuans (23 mil milhões de euros) e os seus ativos valiam, no conjunto, 806 mil milhões de yuans (115 mil milhões de euros), de acordo com a empresa.

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