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Grupo de biólogos quer mostrar a “riqueza enorme” de cetáceos no mar português

Portugal tem “uma riqueza enorme” em cetáceos, mas a ideia generalizada é que apenas há baleias nos Açores, algo que um grupo de especialistas quer esclarecer com um estudo nunca feito junto à costa continental.
15 Abril 2018, 11h53

“Queremos esclarecer que há uma riqueza enorme em termos de cetáceos. Todos sabem que os Açores são uma zona importante, mas quase ninguém sabe que o continente também é muito importante em termos de baleias e golfinhos”, disse à Lusa o biólogo marinho Pedro Finamore, principal investigador do projeto.

A ideia, explicou, é criar um atlas dos cetáceos em Portugal, que mostre quais as espécies presentes nas águas portuguesas junto ao continente, como se comportam e quais as regiões onde há mais populações. “São dados que não existem e que têm um enorme valor científico, económico e ambiental”, disse.

O investigador disse à Lusa que pretende desenvolver o projeto nos próximos dois anos ao longo de toda a costa de Portugal continental até 25 milhas (cerca 40 quilómetros) ao largo, contando, além de uma equipa de biólogos, com a colaboração do Instituto Politécnico de Leiria e da Câmara Municipal de Esposende (com uma das maiores áreas marinhas protegidas) e o apoio de dois investigadores convidados, do Centro de Estatística e Aplicações da Universidade de Lisboa.

A iniciativa candidatou-se a um apoio do Fundo Azul, que financia a economia do mar através do programa Portugal 2020, e é também apoiada pela empresa de energia Galp.

Os investigadores, disse Pedro Finamore, vão percorrer sistematicamente, num veleiro, toda a costa portuguesa, dividida em quatro blocos e que será sujeita a um “varrimento continuo”.

“É algo que nunca foi feito. Há poucos estudos, locais ou regionais e normalmente feitos durante o verão”, disse Finamore, explicando que as 25 milhas são suficientemente extensas para apanhar “o talude da plataforma continental”, a partir do qual começa o oceano profundo, onde “há uma grande concentração de biodiversidade”.

No “Atlas de Mamíferos de Portugal” da Universidade de Évora, publicado no ano passado, também se afirma na parte dedicada aos mamíferos marinhos que “ocorrem mutas espécies de cetáceos” no país mas que é difícil determinar padrões de residência. E diz-se que a classificação “é subjetiva e sujeita a alterações à medida que for recolhida mais informação”.

Ainda assim, citando a “Society of Marine Mammalogy”, o “Atlas” diz que há 89 espécies de cetáceos, agrupadas em 14 famílias e pelo menos 38 géneros. Em Portugal são conhecidas 29 espécies de 20 géneros, divididas em sete famílias.

”A 20 milhas da costa já estivemos rodeados de dezenas de baleias comuns, a segunda maior baleia do mundo”, contou Finamore à Lusa, acrescentando: “o nosso esforço está em tentar que o público em geral tenha a noção de que isto existe e que esta riqueza tem de ser conservada e protegida”.

O problema, acrescentou, é que para proteger tem de se conhecer. Não se pode por exemplo mitigar o impacto do ecoturismo no Algarve, disse, sem dados detalhados sobre a região, recolhidos durante um espaço largo de tempo que permita estabelecer tendências.

Essa informação detalhada, prosseguiu, permite estudos de impacto ambiental, a identificação de zonas importantes de proteção de cetáceos, a gestão de áreas ou recuperação de ecossistemas.

A equipa pretende utilizar, além da observação visual, um sistema de monitorização acústica passivo, desenvolvido em Portugal, percebendo a posição e distância dos cetáceos pela recolha dos sons que emitem.

Numa apresentação do projeto explica-se como se fará a monitorização e lembra-se que os cetáceos têm elevada mobilidade, ainda que possam beneficiar de zonas especificas de alimentação, reprodução, descanso ou rotas migratórias.

Ou ainda que em Portugal as áreas marinhas protegidas cobrem só 407 quilómetros quadrados, nenhuma delas proposta atendendo às necessidades ecológicas dos cetáceos. São 1% do “mar português” mas só 0,03% se for incluída a zona económica exclusiva.

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