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Guerra afeta mais a economia de São Jorge do que crise sismovulcânica

Grande parte das cerca de 2.300 toneladas de queijo de São Jorge vendidas anualmente destina-se ao continente português, ficando nos Açores cerca de 23% da produção, enquanto os Estados Unidos absorvem 9% e o Canadá 6%.
  • São Jorge, Açores
30 Março 2022, 10h04

Mais do que a crise sismovulcânica, o aumento dos custos de produção, causado pela guerra na Ucrânia está a afetar o setor da produção de queijo de São Jorge, o principal motor da economia da ilha açoriana.

“A crise sísmica não afetou a produção. Todos os dias produzimos queijo”, adiantou o presidente da União de Cooperativas Agrícolas de Laticínios de São Jorge (Uniqueijo), criada em 1986 e que, anualmente, transforma cerca de 29 milhões de litros de leite num dos produtos mais conhecidos dos Açores.

António Aguiar admitiu que, no início da crise sismovulcânica, alguns dos funcionários não foram trabalhar, uma situação que ficou normalizada com o passar dos dias.

“Não estamos a 100%, mas posso dizer que neste momento estamos a 70% ou 80%, bem melhor do que esteve nos últimos dias”, assegurou o administrador, que falava na fábrica localizada na Beira, concelho de Velas.

O presidente da Uniqueijo admitiu que, nos dias iniciais da crise, teve “alguma preocupação porque as pessoas, estando assustadas, muito delas não foram trabalhar, mas agora já estão mais calmas”.

De acordo com António Aguiar, na fase inicial da crise que começou em 19 de março, muitos trabalhadores optaram por se deslocar do concelho de Velas, onde se regista o epicentro da crise sismovulcânica, para o concelho vizinho da Calheta, considerado pelos especialistas como mais seguro.

“Nestes quatro dias orientaram-se e foram para o outro concelho, instalaram-se e agora já está outro clima”, assegurou o responsável da Uniqueijo, que não tem dúvidas: “Se isso por acaso der para o pior, a gente sabe que os últimos a sair vão ser os donos dos animais”.

Isto porque o rendimento dos 211 produtores depende da entrega, duas vezes por dia, do leite destinado às três cooperativas da ilha que produzem o queijo de São Jorge e onde trabalham 160 pessoas.

A média de idade dos produtores de leite de São Jorge é de 49 anos, mais baixa do que os 64 anos do país, um facto que, para António Aguiar, “dá algum conforto” para as perspetivas futuras de um setor que ultrapassa as fronteiras do arquipélago e contribui para as exportações dos Açores.

Grande parte das cerca de 2.300 toneladas de queijo de São Jorge vendidas anualmente destina-se ao continente português, ficando nos Açores cerca de 23% da produção, enquanto os Estados Unidos absorvem 9% e o Canadá 6%.

“Essa ilha trabalha à volta desse setor. Eu acredito que 70% a 80% da economia da ilha viva à base da produção de leite”, estimou António Aguiar.

De acordo com o responsável, os 29 milhões de litros de leite anuais entregues pelos lavradores nas fábricas deverão, no entanto, baixar dois ou três milhões este ano, para já não devido à crise sismovulcânica, mas em consequência direta do aumento dos fatores de produção, como combustíveis, rações e adubos.

“Mais preocupante é a questão da guerra, que está a originar o aumento dos custos de produção” para o setor cooperativo de São Jorge, sublinhou o administrador, ao salientar a capacidade que o setor demonstrou recentemente para vencer os constrangimentos da pandemia da Covid-19.

“Houve 10% das empresas portuguesas que não baixaram a sua faturação e nós fomos uma delas e conseguimos dar a volta por cima”, destacou António Aguiar.

A ilha de São Jorge contabilizou mais de 14 mil sismos, mais de 200 dos quais sentidos pela população, desde o início da crise sísmica em 19 de março, segundo os dados oficiais.

O número de sismos registados é mais do dobro do total contabilizado em toda a Região Autónoma dos Açores durante o ano de 2021.

A ilha está com o nível de alerta vulcânico V4 (ameaça de erupção) de um total de sete, em que V0 significa “estado de repouso” e V6 “erupção em curso”.

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