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Guerra comercial põe o pé no travão dos lucros dos fabricantes de carros europeus

Na semana em que as fabricantes automóveis europeias apresentam resultados, Juncker visita Trump, com o tema das tarifas às importações de carros para os EUA na agenda.
25 Julho 2018, 09h30

As empresas produtoras de automóveis na Europa tornaram-se das maiores vítimas da guerra comercial dos EUA contra o velho continente. Na semana em que Peugeot, Fiat, Daimler ou Renault apresentam resultados trimestrais, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, visita o presidente dos EUA, Donald Trump, com o tema na agenda.

“Não é ainda certo, mas o presidente Trump já disse que a investigação às importações de carros da Europa (e possivelmente de outros parceiros comerciais dos EUA) está quase terminada e uma ação poderá ser aplicada proximamente”, explicou Raoul Leering, head of international trade analysis do banco ING, numa nota publicada esta terça-feira.

Em maio, o Governo dos EUA anunciou uma investigação às importações automóveis que consiste numa análise se são prejudiciais para a economia e segurança nacional do país. É o mesmo tipo de abordagem que a administração Trump utilizou para decidir a imposição de tarifas às importações de aço e alumínio, no início do ano.

As estimativas dos EUA é que as importações de carros da Europa correspondam a 19% do total, equivalentes a 294 mil milhões de dólares. Donald Trump já ameaçou que, consoante as conclusões da investigação, poderá impor tarifas entre 20% e 25% para a entrada de automóveis fabricados na Europa nos EUA. Bruxelas avisou que poderá retaliar através de 300 mil milhões de dólares em produtos exportados dos EUA para a Europa.

“Durante a visita a Washington, Juncker tentará mudar as ideias de Trump. O mais provável é que não tenha sucesso. Em vez de apresentar uma proposta concreta para evitar uma guerra contra os carros, o presidente da Comissão Europeia espera convencer Trump de que uma guerra comercial leva a perdas em ambos os lados do oceano”, referiu Leering.

Produtores automóveis prestam contas ao mercado

As perdas que já estão a ser sentidas nos fabricantes automóveis da Europa poderão ser medidas ao longo desta semana, com a apresentação de resultados da Fiat, Daimler e Renault. As ações do setor têm sido pressionadas nos últimos meses, sendo que o índice Stoxx Europe 600 Automobiles & Parts acumula já uma perda de quase 7% desde o início do ano.

As estimativas dos analistas consultados pela agência Reuters indicam que o crescimento dos lucros anuais tenha sido de 6%, em comparação com a estimativa de subida de 13% que tinham feito no ano passado. Alertam, no entanto, que há ainda muitas incertezas e que a época de resultados poderá dar um novo impulso vendedor às ações.

A francesa PSA, dona das marcas Peugeot e Citroën, que apresentou resultados esta terça-feira, parece ainda não ter sido afetada. Os lucros subiram 48,1% para 3.017 milhões de euros, no primeiro semestre do ano face ao período homólogo, enquanto as vendas cresceram 38,1% para 2.182 milhões de automóveis no mundo inteiro.

Além do risco para os lucros das empresas, também a economia do bloco poderá ser afetada pela imposição de tarifas, ainda que com atenuantes. “Se os EUA impusessem tarifas de 22,5% (contra os atuais 2,5%) aos carros e peças de carros europeus importados (e possivelmente carros e peças de outros países), o efeito direto sobre a economia europeia seria limitado a 0,1% do PIB da UE”, afirmou Raoul Leering, do ING.

Fonte: ING

Escalada de tensões penaliza crescimento económico da UE

Nas contas do banco, o impacto seria direto seria limitado pois as exportações de automóveis e peças automóveis para os EUA representam apenas uma pequena parte do PIB da UE (0,22%). No entanto, sublinham que o conflito entre os maiores importadores do mundo teria um efeito negativo a médio e longo prazo na confiança das empresas, consumidores e investidores.

O país mais penalizado é, como seria de esperar, a Alemanha, país de origem de grande parte dos carros exportados da Europa. No entanto, a análise do ING sublinha que as exportações automóveis da Alemanha representam 5% de uma economia diversificada e da qual 71% do produto provém de serviços, sendo por isso resiliente a choques como o aumento das tarifas.

Especificamente, a exportação de automóveis para os EUA representa 0,34% do PIB alemão e há dois fatores (contrários) a ter em conta. Por um lado, a Alemanha fornece partes para o fabrico de outros automóveis na Europa que são vendidos aos EUA e seria, nesta vertente penalizada. Por outro, as tarifas iriam penalizar a procura, mas não acabar com as vendas de automóveis alemães no país.

“O que é verdade para a Alemanha, é-o também para a Hungria, Eslováquia e República Checa. Estes países também estão fortemente associados ao setor automóvel. Portanto, não é surpresa que sejam os próximos na fila quando se trata de exposição aos EUA”, explicou o analista do ING.

Há ainda o risco de Trump impor tarifas, Bruxelas responder e as retaliações levar a que o tema se torne mais alargado que o setor automóvel e se torne numa escalada da guerra comercial. Nesse caso, as consequências seriam mais expressivas.

“Se uma grande parte do comércio entre os EUA e a UE estiver sujeita a tarifas mais altas, o prejuízo económico seria muito mais significativo em ambos os lados do oceano. Uma tarifa de 20% imposta a todos os bens custaria à UE 0,6% do PIB e aos EUA 0,8%. Os indicadores de confiança provavelmente diminuiriam e, se os níveis de confiança entre as empresas, os consumidores e os investidores caírem por um período prolongado, os efeitos negativos diretos da guerra comercial seriam amplificados e aproximariam a economia da UE do território da recessão”, acrescentou.

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