A escalada do conflito EUA-Irão ameaça a região mas também todo o mundo ocidental. A subida do preço do crude é a face visível do impacto a nível económico, mas há muitos outros fatores negativos a considerar. Negócios, viagens, segurança, corrida às armas, deslocados e refugiados são temas inerentes a este tipo de confrontos.

Mas há duas vertentes nesta tensão militar e geopolítica que é relevante analisar. Primeiro, este não é um conflito novo. Irão e EUA estão em guerra há muitos anos. Há momentos de maior tensão e outros apaziguadores. Depois, temos uma segunda vertente: Trump, que deu ordem para o assassinato do oficial iraniano não é um líder militar mas um gestor tático que só gosta de trabalhar em cima de negociações difíceis e de extremos. Isso vê-se agora na presidência, mas já se via nas empresas e nos programas mediáticos por onde passou.

Acontece que o ataque iraniano a bases americanas no Iraque com mísseis de curto alcance não resultou em mortos ou feridos americanos e foram reduzidos os danos colaterais. Mais. O Irão avisou o Iraque oficialmente do ataque a bases que estão neste país, e estes avisaram os americanos do que iria suceder. Claramente houve do lado do Irão vontade de não criar vítimas mas antes enviar um aviso vigoroso com efeito sobretudo doméstico. Relembremos que o militar morto por um drone americano era a figura mais mediática do país, com estatuto de herói.

Claro que o Irão não vai ficar por aqui e todo o cuidado passou a ser pouco. Os serviços de inteligência de vários países ocidentais redobraram esforços para perceber onde se sentirá a reação mais enérgica do Irão. Embora em situação normal de conflito latente tudo ficasse por aqui, não podemos esquecer que, nos EUA, este tema teve o condão de desviar a atenção do impeachment do presidente Trump. Ou seja, o Irão veio mesmo a calhar, e isso pode significar que a escala pode aumentar ou manter-se no “vermelho”.

Na Europa o tema é por demais delicado, até porque vários países ocidentais já sofreram atentados e estão causticados, mas a Europa terá de dar uma resposta em uníssono a um aliado que é estruturante na NATO e terá de apoiar, de forma incondicional, os princípios fundadores da organização. Alemanha, Reino Unido e outros países, incluindo Portugal, já condenaram o ataque do Irão. E precisam de o fazer porque os EUA são o polícia do mundo, mas também o escudo de defesa da Europa, que continua a não ter uma força dissuasora própria e está cada vez mais dependente do arsenal da França e pouco mais.

Com o Irão a dar uma resposta para o consumidor interno, Trump quer ganhar espaço antes de negociar. Viu-se na guerra comercial com a China e agora parece estar tudo a voltar a correr dentro do convencional. Já aqui escrevemos: Trump quer deixar uma marca de negociador duro mas que tudo consegue pela… negociação. No entanto, ficaram feridas profundas e é muito natural que, mais cedo ou mais tarde, estas voltem a abrir-se.