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Guiné Equatorial comemora meio século de independência, entre opressão e desenvolvimento

A Guiné Equatorial comemora sexta-feira 50 anos de independência face a Espanha, meio século de regimes autoritários criticados pela comunidade internacional, mas marcado por milhões gastos em obras públicas.
11 Outubro 2018, 11h32

Guiné EquatorialNa véspera das comemorações oficiais, o embaixador em Lisboa da Guiné Equatorial, Tito Mba, considera que o país tem tido um percurso “muito positivo”, tendo em conta a situação em que Espanha deixou a ex-colónia.

“Após superar um período em que o negócio principal era a escravatura e um período de colonização, em que os direitos dos povos indígenas não existiam, a Guiné Equatorial comemora meio século de soberania e independência”, com “unidade territorial, paz, justiça e coesão social”.

Opinião diferente tem Juan Ávila Laurel, ativista exilado e um dos opositores de Teodoro Obiang, no poder desde 1979 depois de ter afastado o seu tio num golpe de estado, instituindo na década de 1990 um regime com eleições em que ganha sempre com mais de 95 por cento dos votos, criticadas por organizações internacionais.

“Não posso dizer se valeu a pena a independência, porque, em todo este tempo de independência, não temos nada de bom e não há nada de novo, salvo o mal”, salientou.

O ativista reconheceu que o “tempo passado como país colonizado não valeu de nada”, sublinhando que o povo da Guiné Equatorial tem “sofrido mais do que a conta”.

Em declarações à agência Lusa, o líder do partido Convergência para a Democracia Social (CPDS), na oposição, Andrés Esono Ondo, classificou “de sofrimento” os 50 anos da independência do país, aludindo aos períodos de governação de Francisco Macías Nguema, durante 11 anos, e do seu sobrinho Teodoro Obiang Nguema, que se encontra no poder há 39 anos.

“Os 50 anos são conhecidos por ditaduras, uma de 11 anos e outra de 39 anos. O que temos visto foram duas ditaduras que violaram os direitos dos cidadãos durante 50 anos de miséria, pobreza, mortes, assassinatos políticos. Muito mais do que em 200 anos de ocupação colonial”, argumentou.

Em 2014, a Guiné Equatorial aderiu à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), apesar de só se falar espanhol nas ruas do país.

Para o embaixador Tito Mba, o país “faz parte da hispanidade, por herança da colonização espanhola, mas faz também parte da lusofonia, por herança dos primeiros descobridores e colonos do território – os portugueses”.

Em Portugal, o cinquentenário da independência da Guiné Equatorial será celebrado em 25 de outubro, em conjunto com o povo português, que “tanta importância teve no processo de construção do país”.

Por seu turno, Manuel Azevedo, cônsul honorário de Portugal em Malabo, capital da Guiné Equatorial, destacou a importância do dia para um país que viveu sob a colonização espanhola, sem qualquer investimento de relevo.

Só a exploração de petróleo no país, nos anos 1980, mudou a economia local, atraindo investimentos estrangeiros e permitindo a criação de infraestruturas.

Agora, “a Guiné Equatorial tem de ter recursos humanos para seguir com o desenvolvimento. Sem isso, não vão a lado nenhum. Acho que é a base neste momento para a Guiné Equatorial seguir o futuro e comemorar com mais resultados práticos estes dias importantes”, explicou.

“É um país do zero que agora está numa curva ascendente de desenvolvimento”, assegurou.

O Estado português far-se-á representar por Manuel Grainha do Vale, encarregado de Negócios de Portugal em Malabo.

As celebrações dos 50 anos da independência da Guiné Equatorial vão ocorrer no Passeio Marítimo de Malabo.

O Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, pediu na quarta-feira à Espanha “que não deixe” o seu país, sublinhando que a Guiné Equatorial constitui “uma ponte ou entrada” para o continente africano.

Teodoro Obiang foi reeleito em 2016 com mais de 90% dos votos para um quinto mandato de sete anos.

O Governo da Guiné Equatorial é acusado por várias organizações da sociedade civil de constantes violações dos direitos humanos e perseguição a políticos da oposição.

A Guiné Equatorial aderiu à CPLP em 2014 mediante um roteiro de adesão, que previa a ratificação dos estatutos da organização – o que viria a ocorrer em 2016 -, a introdução da língua portuguesa nesta antiga colónia espanhola e a abolição da pena de morte – que ainda não foi feita.

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