Na escola do meu filho vai haver eleições para a Associação de Estudantes. Contou-me ontem, bastante orgulhoso, que tinha a lancheira cheia de rebuçados e gomas, oferecidos pela lista “XPTO”. Pelos vistos, parece ser uma estratégia infalível de captar a atenção dos miúdos recém-chegados do ensino básico. Explicou-me que recebeu, como prova da sua dedicação, uns chupa-chupas especiais porque concordou em andar com o autocolante da “XPTO” na lapela e que, naturalmente, irá votar neles.

Tentei meter-me no assunto e disse-lhe que não era correto vender o voto por doces, ou por outra qualquer coisa, e muito menos promover colegas que nem sequer conhece. Mas ele esclareceu-me sobre as suas convicções: ele também vai votar “XPTO” porque nessa lista está o irmão de um amiguinho da sala. Quando pensei que a coisa não poderia ficar pior, disse-me que outro motivo é que gosta das propostas deles, nomeadamente aquela em que prometeram aumentar o tempo dos intervalos. É algo que a Associação de Estudantes terá muita dificuldade em conseguir sequer discutir com a escola.

Daqui resulta que o voto de um miúdo de dez anos está a ser comprado com guloseimas e, de facto, pretende votar em quem lhas ofereceu. Para além disso, vai favorecer o familiar de um colega e ficou cativado por promessas que são irrealistas.

De repente, lembrei-me que teremos eleições autárquicas no domingo, que vi canetas e muitos brindes a serem distribuídos, que se usou como argumento de campanha a proximidade pessoal e partidária em relação ao Governo e que as promessas… enfim, não passarão disso mesmo, como de costume. Pelos vistos, a maioria das pessoas nunca passa dos dez anos.