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Guterres enfrenta quinta votação na ONU

Antigo primeiro-ministro venceu as quatro anteriores. Hoje realiza-se a última fase de apreciação de candidaturas a secretário-geral.
  • Denis Balibouse/Reuters
26 Setembro 2016, 10h30

Hoje é outro dia importante nas votações para eleger o secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU): trata-se da quinta e última ronda, onde será concluída esta fase de apreciação das candidaturas. O próprio António Guterres, que esteve durante a última semana a reforçar contactos estabelecidos nos últimos meses, apoiado por Marcelo Rebelo de Sousa, Augusto Santos Silva e Jorge Sampaio, admitiu que fora “uma semana crucial”, tendo em conta a votação de hoje e o que vai seguir-se.
Guterres vai na frente da corrida, depois de vencer as quatro votações já realizadas. Na mais recente, realizada a 9 deste mês, dos 15 países membros do Conselho de Segurança da organização, o antigo primeiro-ministro obteve 12 votos de encorajamento, que equivalem a sim, dois de desencorajamento, ou seja, não, e um sem opinião, que se pode traduzir por abstenção.
Nas anteriores votações, o antigo primeiro-ministro português foi também o que mais apoios reuniu. A 21 de julho, Guterres obteve 12 votos de encorajamento. Nas votações de 5 e 29 de agosto, foram 11 os Estados que apoiaram a sua eleição.
Nas quatro votações, os principais candidatos mantêm posições, sendo o português o mais votado, seguido do ministro dos Negócios Estrangeiros da Eslováquia, Miroslav Lajčák, enquanto em terceiro lugar surge o sérvio Vuk Jeremić. A quarta posição é do macedónio Srgjam Kerim, antigo presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas.
Só em outubro, na primeira semana, irá decorrer o primeiro escrutínio com votos coloridos dos cinco países membros permanentes do Conselho de Segurança: China, França, Estados Unidos, Grã-Bretanha e Rússia. Estes cinco países fazem constar o seu sentido de voto através de cores, o verde corresponde ao sim, o vermelho quer dizer  não  e o amarelo, sem opinião ou abstenção.
São muitos os apoios que têm surgido ao nome de Guterres para secretário-geral da ONU, entre eles o de José Ramos-Horta, antigo presidente de Timor-Leste e laureado com o Prémio Nobel da Paz em 1996. O timorense escreveu um artigo de opinião no passado dia 21, no jornal norte-americano “The Huffington Post” e declara que, entre os candidatos na corrida, António Guterres “é incomparável, singularmente qualificado para liderar a ONU nos próximos cinco a 10 anos”.
Depois de uma descrição em que enaltece a máquina da ONU, mas ao mesmo tempo aponta-lhe as fragilidades atuais, Ramos-Horta acredita que o português é a melhor escolha: “A ONU precisa de um líder brilhante, experiente e bem testado. E também necessita de um bom homem, um líder compassivo e humilde”.
Apesar dos apoios que chegam de vários quadrantes, outro jornal norte-americano, o “Wall Street Journal”, diz que Guterres geriu mal  o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados  e faz declaração de apoio ao candidato sérvio.
O ex-presidente da Comissão Europeia e ex-primeiro-ministro português, Durão Barroso, veio também confirmar o apoio a Guterres e desmentir as notícias que o apontaram como seguidor da atual vice de Bruxelas, Kristalina Georgieva.
Resta agora esperar para ver quem vence a primeira volta desta corrida à ONU.

Os outros candidatos

Além do ex-primeiro-ministro português, outros procuram suceder a Ban Ki-moon no desempenho de funções, depois das desistências da croata Vesna Pusic, do montenegrino Igor Luksic e da costa-riquenha Christiana Figueres.

Danilo Turk – destacou-se como professor universitário de Direito Internacional (83/92), tornando-se o primeiro esloveno a conseguir presença no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Muito ligado à intransigente defesa dos Direitos Humanos iria mesmo ser autor de várias propostas nesse âmbito dentro do seu país e inclusive escrever muito sobre o tema. Embaixador na ONU, de 2007 a 2012 interpretou o papel de presidente da Eslovénia e tem 64 anos.

Helen Clark – segunda mulher a liderar um Governo na Nova Zelândia é formada em Política, tem 66 anos e assume-se como relevante personalidade no universo do Partido Trabalhista, além de ter marcado presença no Parlamento. É diretora do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) desde 2009.

Irina Bokova – a especialista em Relações Internacionais com estudos em Moscovo e nos EUA tem 64 anos, foi militante do Partido Comunista e deputada do Parlamento da Bulgária. De 1995 a 1997 atuou como vice-ministra dos Negócios Estrangeiros, cuidando do relacionamento entre o seu país e a União Europeia. Como diplomata agiu no papel de embaixadora em França e no Mónaco. Há sete anos sucedeu ao japonês Koichiro Matsuura como diretora-geral da UNESCO, sendo a primeira mulher e também a estreia de um cidadão oriundo de um país do Leste com essa tarefa.

Miroslav Lajcak – com formação na área de Relações Internacionais, tem 53 anos e uma carreira diplomática iniciada ainda na antiga Checoslováquia, onde foi membro do Partido Comunista. Embaixador eslovaco em Moscovo e Tóquio, atuou mais tarde no gabinete do ministro dos Negócios Estrangeiros e, depois, primeiro-ministro, Josef Moravcik. Fluente em seis idiomas, voltou a ser embaixador, então em Belgrado, mas o mundo da política voltou a convocá-lo: ministro dos Negócios Estrangeiros sob a liderança de Robert Fico, a partir de abril de 2012 acumulou o cargo com o de vice-primeiro-ministro

Natalia Gherman – tem 47 anos e é filha do primeiro presidente da Moldávia, Mircea Snegur, entre 1991 e 1997. Formada em Artes, enveredou pela carreira diplomática, passando por países como Áustria, Suécia, Finlândia ou Noruega, além de atuar na OSCE. Na política sob influência paterna, chegou a ministra dos Negócios Estrangeiros e da Integração Europeia, vice-primeira-ministra e, durante um mês, em 2015, seria mesmo líder interina do Executivo, na sequência da demissão de Chiril Gaburici.

Sgrjan Kerim – outro intelectual com obra publicada (11 livros, repartidos por poesia, prosa e fotografia), tem 67 anos, um passado como estudante e, mais tarde, professor na área da Economia. É macedónio, tendo nascido ainda na antiga Jugoslávia, pela qual começou a sua carreira diplomática e política. Foi ministro dos Negócios Estrangeiros da Macedónia e, já na ONU, recebeu a missão de ser enviado-especial do secretário-geral para os assuntos do ambiente. Com tarefas em várias empresas, de 2007 a 2008 atuou como líder da assembleia geral das Nações Unidas.

Susanna Malcorra – formada na área da Engenharia Elétrica, tem 61 anos e desenvolveu trabalho tanto na IBM como na Telecom da Argentina, neste caso atuando como CEO. Às Nações Unidas chegou em 2004 no âmbito do Programa Mundial da Alimentação. A partir de março de 2012 e até dezembro do ano passado agiu como chefe de gabinete do secretário-geral da ONU.

Vuk Jeremic – aos 41 anos, o seu percurso impressiona em função dos papéis importante que já desempenhou. Formado em Física, tem também estudos superiores em Administração Pública e Desenvolvimento Internacional. Nascido na antiga Jugoslávia, onde o seu pai foi, durante a década de 80, CEO da Jugopetrol, empresa estatal de petróleo, também tem antecedentes políticos do lado do avô materno, Nurija Pozderac, que se juntou a Josip Tito ainda nos anos 40 e morreu em combate na II Guerra Mundial. Perante semelhantes influências, iria entrar no mundo da política ainda na antiga Jugoslávia e, já na realidade sérvia, chegaria a ministro dos Negócios Estrangeiros, cargo em que esteve entre 2007 e 2012. Neste último ano entrou no Parlamento sérvio e tornou-se o mais jovem de sempre na missão de líder da assembleia geral das Nações Unidas, tarefa que deixou em 2013.

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