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Venezuela: “Há crianças a morrer à fome e pessoas a comer dos caixotes do lixo”

O relato é de Lídia Albornoz, uma das cerca de 400 pessoas que estiveram na manifestação contra Nicolás Maduro, que se realizou no Funchal.
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25 Janeiro 2019, 07h45

A palavra de ordem é Liberdade. A manifestação está marcada para as duas da tarde, e antes disso as pessoas já vão chegando ao Largo do Município, no Funchal, um dos locais que recebeu a manifestação contra Nicolás Maduro, presidente da Venezuela. Alguém fica encarregado de ir animando o ambiente e com a viola à mão começa a tocar a música de Caracas. Há muitos grupos de convívio e cada vez chegam mais pessoas de bandeira aos ombros e boné: trazem consigo a Venezuela. Um país que a maior parte dos que ali estão teve de deixar para trás.

Arlete Freitas veio da Venezuela há três anos e lembra que “para conseguir um produto básico, tipo farinha ou carne, tinha de fazer três ou quatro horas de fila, e muitas vezes quando chegava a minha vez já não havia”. Está na Madeira a trabalhar em part-time na restauração enquanto que na Venezuela era professora num ginásio. “Se a situação melhorasse eu voltava para lá, porque já tinha toda a minha vida lá. Eu deixei tudo. Neste momento estou a tentar refazer a minha vida, mas não é fácil, o que eu estou a fazer aqui não tem nada a ver com a minha formação”, conta Arlete.

Carlos Fernandes faz parte da organização desta manifestação e, também ele, veio há um ano e oito meses da Venezuela. É filho de madeirenses e veio sozinho para cá. Estava à espera de 150 pessoas, número largamente superado tendo em conta as cerca de 400 pessoas que se reuniram no Largo do Município contra Nicolás Maduro.

Está quase a dar as duas da tarde e, por isso, já se testam os microfones. Tiram-se os megafones de dentro dos sacos e há quem faça vídeos para as redes sociais com a Constituição da Venezuela na mão. O que estas pessoas pedem é para que seja respeitada, por isso, exigem novas eleições, desta vez legais e constitucionais.

O relógio marca as duas horas da tarde e há cada vez mais gente, cada vez mais bandeiras e, cada vez mais, o amarelo, azul e vermelho enchem o Largo do Município. De vez em quando ouve-se português, mas o castelhano, com o sotaque típico venezuelano quer mesmo fazer-se ouvir.

“O que está em causa é a perda de direitos humanos naquele país, há crianças a morrer à fome e pessoas a comer dos caixotes do lixo”, conta Lídia Albornoz, uma professora madeirense que já esteve durante 20 anos emigrada na Venezuela. É ela que fica à frente do megafone, já desde a primeira manifestação no Funchal.

Lídia tem a certeza de que “esta é a pior crise que um país já viveu. Isto é pior do que África, basta vermos aquilo que já foi e aquilo que é agora.” Dá aulas ao quarto ano na Escola do Caniço e este ano tem cinco alunos venezuelanos na sua turma e afirma que quatro deles são alunos de noventas e cem por cento.

A professora recorda que é preciso dar especial atenção a estas crianças porque vêm de um ambiente de guerra: “há miúdos que vêm com quatro anos e que nunca saíram de casa senão para ir ao médico, porque os pais têm medo que os sequestrem ou que morram no meio da rua por causa da violência”.

Durante as manifestações a Câmara do Funchal desfraldou a bandeira da Venezuela, onde se podia ler “Libertad” (Liberdade). O Presidente da Câmara, Paulo Cafôfo, mostrou assim o seu apoio aos venezuelanos.

Esta manifestação teve lugar em várias cidades do mundo, bem como na Venezuela na passada quarta-feira e já auto-proclamou Juan Guaidó como Presidente daquele país. Estados Unidos, Brasil e Canadá já reconhecem Guaidó como Presidente da Venezuela.

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