Este ano, a pandemia de COVID-19 adiou para 22 de Agosto o Dia da Sobrecarga da Terra, ou seja, a data em que a humanidade usou todos os recursos naturais que o planeta pode renovar durante o ano inteiro. Depois desse dia estamos em défice ecológico e, à excepção de 2020 que  nos trouxe um período atípico, assinalamos essa data cada vez mais cedo.

Em termos ambientais, esta pandemia veio demonstrar que é possível diminuir a pegada ecológica. No entanto, isso deve ser um esforço contínuo e consciente, sem estar dependente de uma doença que afecta o mundo inteiro. A questão que se coloca é se a humanidade, sem ser obrigada a mudar devido a uma pandemia, está pronta para dar esse passo.

É possível e desejável mudar os padrões de consumo de recursos e, ao regressarmos a uma certa normalidade, ainda que diferente daquela a que estávamos habituados, é preciso apostar mais em opções verdes, saudáveis e justas.

Se não for por mais nada, pelo menos que esta pandemia sirva para aprendermos algo sobre a forma como nos devemos relacionar com o planeta e com o meio que nos rodeia e acolhe. Sem fundamentalismos, radicalismos ou imposições, e respeitando as opções de cada um, é possível trabalhar num equilíbrio entre o bem-estar da humanidade e do planeta.

Por outro lado, também na sequência da pandemia, as luvas e máscaras descartáveis estão a ser largadas de forma negligente em qualquer lado, o que aumenta o risco de contágio, mas também os problemas ambientais, sendo a poluição causada pelo plástico uma das maiores ameaças aos oceanos.

Como se não bastasse, o Governo deu um passo atrás ao adiar os prazos definidos para a proibição do uso de loiça descartável na restauração, mas importa não perder de vista esse objectivo, tendo naturalmente presente a total segurança dos consumidores.

A verdade é que, nesta fase, a utilização de plásticos de utilização única disparou e tornou-se incontrolável e, portanto, há um longo e intenso caminho a fazer. Foi nesse sentido que Os Verdes propuseram, em sede de Orçamento Suplementar, que fosse criada uma linha de apoio para a garantia da higienização adequada de material para a restauração e hotelaria, suprindo, assim, a necessidade de uso de material descartável. Lamentavelmente, esta medida não teve acolhimento nem por parte do PS nem do PSD.

É necessário sensibilizar os cidadãos para o desenvolvimento sustentável e para a necessidade da redução de resíduos de embalagens, onde o plástico se assume como uma  praga que contamina os nossos mares, estimando-se que em 2050 haja mais plástico do que peixes nos oceanos. Para isso, o Ministério do Ambiente não pode estar mais preocupado com os interesses económicos de um sector do que com o ambiente, que tem impactos na vida de todos.

Não menos preocupante é o facto de a Agência Europeia de Produtos Químicos estar a preparar uma proposta para proibir os microplásticos em produtos vendidos na União Europeia, mas que já levou as organizações não-governamentais do ambiente a acusarem de cedência à indústria química, dos plásticos, dos pesticidas e dos cosméticos, afastando-se dos objectivos iniciais. De nada adiantam as propostas aparentemente com boas intenções se houver sempre outros interesses a ditar a regras.

Como cidadãos devemos ter uma maior consciência das nossas opções e alterar os nossos comportamentos a bem do planeta, mas nada se faz sem políticas ambientais estruturais e coerentes, que tenham resultados no dia-a-dia de cada um de nós e que não se limitem a imputar responsabilidades e, por vezes, até custos, ao consumidor, enquanto os decisores políticos, em vez de estarem na dianteira desta mudança, se vão alheando e adiando medidas que há muito tempo deviam ser uma realidade.

Não temos de mudar tudo de um dia para o outro, mas também não podemos deixar tudo na mesma. É o tal equilíbrio entre o bem-estar da humanidade e o bem-estar do planeta que precisamos.