António Costa foi a banhos com ar culpado, o Presidente há-de aparecer, sorridente, em banhos, o Governo deserta, o Parlamento retira-se, apagam-se os incêndios, amuam as comadres, o Bloco acampa e o PCP assobia. Tudo normal, nesta season. Interessa-me hoje, em contraciclo e para escapar ao marasmo silly do discurso morno e letárgico, que tende para a irrelevância com tons de nostalgia ou assomos sentimentalistas, falar sobre o mar. Quero falar do mar enquanto força motriz global e portuguesa, enquanto repositório infindável de riqueza sustentável e perspectivado como factor-chave da saúde ambiental do planeta.

É clara a tendência mundialmente observada para o crescimento da procura, intrinsecamente ligada ao crescimento demográfico. As indústrias marítimas, a economia do mar (a “economia azul”) têm aqui, neste cenário global, um papel decisivo a desempenhar, quer no âmbito do afinamento das respostas proporcionadas pelas indústrias “estabelecidas” – das pescas aos portos, passando pelo turismo e pela indústria naval e de transportes –, quer ainda, talvez com maior pertinência, no que respeita às indústrias ditas “emergentes” que colocam desafios novos e impactantes, que exigem respostas inovadoras, eficientes, sustentáveis e globais. Refiro-me a áreas como as energias renováveis de fonte marítima, a energia eólica offshore, a aquacultura, a segurança e vigilância marítimas, a biotecnologia marinha ou o desenvolvimento de produtos e serviços marinhos de base tecnológica intensiva. Todas estas indústrias (e outras), propulsionadas pelo crescimento da economia global e pelos avanços das tecnologias de ponta, contêm um potencial de contribuição para a riqueza mundial que tem que ser aproveitado sem hesitações e com os olhos postos no longo prazo, com benefícios claros sobre o valor acrescentado económico e o emprego – existem projecções que estimam que o crescimento da economia azul ultrapasse o crescimento da economia mundial até 2030.

Portugal pode e deve estar na linha da frente das respostas a dar às novas interrogações colocadas pelo mar – o nosso país tem um interesse ímpar nisso mesmo e uma oportunidade inigualável para o fazer, com um território nacional (incluindo a Zona Económica Exclusiva) que pode chegar aos quatro milhões de quilómetros quadrados – mais de 90% do território terrestre da União Europeia –, se se concretizar a pretensão de extensão da nossa Plataforma Continental. Para isso, é indispensável foco nacional (não meramente conjuntural) nos objectivos fundamentais, investimento sério em I&D, aposta concreta e duradoura na inovação e networking internacional permanente e credível. O INESC é o ponta-de-lança nacional – saibam os governos aproveitá-lo.

Agora vou a banhos, de dedos cruzados.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.