As eleições legislativas de 2019 ditaram a entrada de três novos partidos para a Assembleia da República. Um deles, uma cópia barata de movimentos semelhantes distribuídos um pouco por toda a Europa, tem sido destaque assíduo na comunicação social nacional em virtude das suas posições excêntricas e grotescas, cujo único propósito passa por atrair protagonismo a quem as toma.

Importa, pois, mais do que nunca, esclarecer as pessoas sobre aquilo que distingue a direita moderada, humanista e personalista, da direita populista, segregadora e reacionária.

Numa fase em que muito se discute o papel da União Europeia e o apoio aos países mais atingidos pela pandemia de Covid-19, esperava-se, da direita populista, uma posição coerente com a ideologia na qual está assente. É certo que o euroceticismo, enraizado na génese do pensamento nacionalista, típico desta direita, não traz votos num país em que cerca de 80% do investimento público provém de fundos comunitários, mas desenganem-se aqueles que confundem ideologia com calculismo.

A direita moderada, por sua vez, é crente num projeto europeu, assente no ideal da Europa das Nações. Rejeita, ainda assim, todo o tipo de projetos federalistas e não está disposta a ceder, exageradamente, a soberania nacional em detrimento de um qualquer governo europeu.

A crença no projeto europeu, onde impere a solidariedade e cooperação entre povos, é, aliás, inspirada na Doutrina Social da Igreja, que defende a aplicação dos princípios e valores cristãos na vida política, como a justiça e a solidariedade sociais, a proteção dos mais desfavorecidos ou a defesa da vida humana como valor inviolável.

Bastante diferente é a utilização da religião para fins de propaganda política, e a necessidade de ostentar a sua Fé através da divulgação de imagens a rezar em Fátima. A Fé não se ostenta. Ostentá-la, neste caso, até é bastante perigoso.

A direita populista proporciona-nos, de resto, atos de contorcionismo muito típicos da esquerda radical progressista. Se a incoerência, no espetro político nacional, tem a sua morada no partido liderado por Catarina Martins, é precisamente no extremo oposto que encontrará a sua casa de férias. À segunda-feira, a direita populista diz-se católica; à terça discrimina pessoas em função da sua etnia, raça ou naturalidade. À quarta-feira, comenta bola na televisão; à quinta, recorda o país que os profissionais da bola não podem comentar política. A direita populista é, afinal, o BE da direita: sectária, classista e preconceituosa.

A direita moderada, avessa ao progresso desmensurado e à transformação radical da sociedade, é agregadora, defensora da liberdade individual e personalista: combate as desigualdades sociais existentes e rejeita a criação de novas desigualdades, novos preconceitos ou novas discriminações.

É de realçar, também, a total ausência de exequibilidade em muitas das propostas apresentadas pela direita populista. O caso seria grave se esta ausência de exequibilidade fosse sustentada por mera ignorância ou ingenuidade. Torna-se, no entanto, atroz, porque é feita de forma consciente, propositada e despreocupada e conduz, frequentemente, as pessoas ao engano.

Em sentido oposto, a direita moderada não se limita à contestação banal e simplória nem rege os alicerces da sua ação política com base na regra do “bota-abaixo”. A direita moderada, pedra basilar na fundação do regime como hoje o conhecemos, é construtiva e reformista, crítica, mas apresenta soluções e sabe, sobretudo, que não existe democracia sem consensos.

A direita moderada, liberal ou conservadora, que é mesmo direita e não se faz representar através de um “catch-all party”, sabe que não necessita de ser brejeira nem corriqueira para defender o mundo rural e as suas gentes; a segurança e a ordem pública, bem como, os profissionais do setor; a luta contra a corrupção e o combate ao socialismo.

A direita moderada que é mesmo direita, não é sôfrega nem gulosa e não se alimenta do medo das pessoas; sabe que há uma linha que a separa do populismo.