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Haffert: O peregrino norte-americano que colocou Fátima no mapa mundial

Numa altura em que se esperam milhares de fiéis internacionais para as comemorações dos 100 anos das Aparições em Fátima, recordamos a história de John M. Haffert, o norte-americano que fez da fé um objetivo de vida.
  • REUTERS/Rafael Marchante
10 Maio 2017, 18h57

Se Fátima é nos dias de hoje uma cidade religiosa conhecida mundialmente, deve-o essencialmente ao devoto escritor e editor John Mathias Haffert. Pouco conhecido entre os cristãos mais jovens, o norte-americano protagonizou um dos maiores esforços para levar a fé cristã a outros povos e dar a conhecer o Santuário de Fátima e os seus mistérios e milagres.

Segundo conta a revista ‘Visão História’, na sua edição de janeiro, estávamos então em 1946 quando John M. Haffert visitou pela primeira vez o Santuário de Fátima. Filho de um empresário e herdeiro de uma grande fortuna, o norte-americano planeava juntar-se a um tio, que era membro da Ordem do Carmo, e tornar-se também ele um carmelita. Abdicaria de toda a sua riqueza para se dedicar aos mais necessitados e procuraria o sustento através do seu esforço diário e de uma vida mais enquadrada nos preceitos que dita a fé católica.

“Era um católico muito conservador, de extrema bondade e generosidade”, recorda o presidente da Fundação Oureana, Carlos Evaristo à ‘Visão História’. “Tinha muita vontade de ver e de estar com Nossa Senhora. Pelo que às vezes era um tanto ingénuo quanto a visões. Deixava-se guiar por sinais”.

A vila de Fátima encontrava-se ainda em desenvolvimento; um processo penoso que se vinha arrastando pesadamente no tempo. As obras na basílica clássica, que é hoje um dos edifícios mais icónicos do santuário, estava ainda por terminar e a conjuntura económica desfavorável não fazia prever quando seria finalmente inaugurada.

A ideia de criar um “exército bizantino católico”

Terá sido durante esta visita que John M. Haffert haveria de testemunhar um acontecimento que revolucionaria a sua vida. Munido com uma câmara de filmar de 8mm, o norte-americano filmou uma mulher, conhecida como Arminda de Jesus Campos, com duas fístulas na perna e impedida de se mover, começar a andar. O milagre captado pela lente de John M. Haffert encontra-se no arquivo da organização que viria a fundar mais tarde com o nome Exército Azul.

Impressionado com a capacidade curativa da fé cristã, John M. Haffert passou então a dedicar a sua vida ao catolicismo e à Virgem Peregrina. Visitou a Irmã Lúcia e com ela terá programado uma “campanha de compromissos” de levar Fátima ao outro lado da “cortina de ferro”, que na época separava o mundo ocidental e de capitalismo democrático, dos países de leste assentes nos princípios comunistas. Esta viria a ser a primeira de muitas viagens.

A conversão da Rússia e a criação de um “exército bizantino católico” de padres não se concretizaram em 1960 como se esperava, no entanto, a fundação do Exército Azul permitiu internacionalizar a mensagem de Fátima. Nos Estados Unidos mandou construir um Santuário idêntico ao de Fátima, em Asbury, Nova Jérsia, com uma réplica exata da Capelinha das Aparições.

“Para os americanos ele era o Mr. Fátima”, conta Carlos Evaristo. “John M. Haffert é o grande pioneiro das peregrinações internacionais”. A promoção do norte-americano de rotas para Fátima trouxe ao Santuário, segundo as contas de Carlos Evaristo, cerca de 3,5 milhões de pessoas.

John M. Haffert viria a falecer em 2001, depois de ter visto o seu legado decair com a revolução do 25 de abril e a extinção das ordens religiosas. Apesar disso, a fé cristã e a crença na Virgem Peregrina de Fátima espalhou-se e desenvolvem-se em várias partes do mundo. Ao todo são esperados cerca de um milhão de pessoas durante as comemorações dos 100 anos das Aparições em Fátima, presididas pelo Papa Francisco.

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