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Hélio-3 e a Ascensão da Ditadura Chinesa

Os Chineses estão com uma vantagem colossal face aos principais concorrentes na produção desse combustível do futuro que muito provavelmente solucionará o problema energético do planeta.
6 Julho 2022, 06h45

O Hélio-3 é um isótopo estável de Hélio, um gás nobre. Ao contrário da maioria das reações de fusão nuclear, a fusão de átomos de Hélio-3 libera uma quantidade de energia muito grande sem que a matéria circundante se torne radioativa. Entre diversos usos científicos, económicos e industriais do Hélio-3, destaca-se o de combustível nuclear, podendo este isótopo ser usado num reator de fusão como combustível na produção segura de energia nuclear. Tem, portanto, um potencial promissor como energia de fusão limpa.

Estima-se que cerca de 250 mil toneladas de Hélio-3 possam ser trazidas para a Terra com alguma relativa facilidade, o que será suficiente para produzir uma quantidade de energia equivalente, aos padrões de gastos energéticos atuais, às necessidades dos próximos 3 séculos.

Dito por outras palavras, a Lua possui uma riqueza de Hélio-3 que pode mudar a humanidade. A missão de exploração lunar não tripulada chinesa Chang’e 5 enviou para a Terra amostra provenientes do Oceanus Procellarum. Nessas amostras, e de acordo com o artigo “Taking advantage of glass: Capturing and retaining of the helium gas on the moon”, acessível como Ao Li et al 2022 Materials Futures em https://doi.org/10.1088/2752-5724/ac74af, os cientistas chineses confirmaram a presença de água, mas também de bolhas de Hélio-3 presentes numa camada vítrea das amostras. Esta descoberta demonstra que, apesar de ainda ser um desafio extrair o Hélio-3 dos rególitos lunares, a extração do Hélio-3 pode ser muito mais fácil do que se pensava anteriormente, uma vez que os métodos mecânicos à temperatura ambiente podem facilmente quebrar as bolhas. Acrescente-se que os Chineses também já efetuaram um mapeamento lunar completo da presença do gás nobre.

O que esta descoberta também demonstra é que os Chineses estão com uma vantagem colossal face aos principais concorrentes na produção desse combustível do futuro que muito provavelmente solucionará o problema energético do planeta.

O próximo passo é explorar e minerar a água e o Hélio-3 na Lua. Há 5 concorrentes que já anunciaram presença na corrida: os Chineses lideram a corrida, Indianos seguem em 2.º, estadounidenses em 3.º, russos em 4.º, Agência Espacial Europeia (ESA) em 5.º. Posso acrescentar que há uma distância muito grande entre a China e os restantes, e que a ESA está muito atrás dos 4 primeiros.

Se tudo correr bem, provavelmente em 2040 teremos mais de 5% da procura mundial a ser fornecida por Hélio-3.

Historicamente, nos últimos 500 anos, a liderança do Império Espanhol foi seguida pelos Holandeses, depois pelo Império Britânico, e mais recentemente pelos Estados Unidos da América. Na atualidade, a liderança económica e militar dos Estados Unidos da América está em relativa decadência, sendo, provavelmente, dentro de poucas décadas substituída pela China, primeiro em termos económicos, e logo a seguir em termos militares.

O Hélio-3 deverá ser mais um elemento de destronização dos Estados Unidos da América pela China, desta feita em termos energéticos. O problema é que a China, ou melhor, o regime político da República Popular da China, é uma ditadura controlada pelo Partido Comunista da China.

E nós, temos estratégia espacial?

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